"Começa por ver a Bibliografia Analítica de Etnografia Portuguesa", determinou Cláudio Torres. Pouco interessado em fazer um trabalho sobre arte sugeri, ao meu professor de História da Arte da Antiguidade Clássica e Bizantina, fazer um estudo sobre fornos de pão (!). Ele aceitou, como se fosse a coisa mais natural do mundo. E aconselhou-me aquele livro. E aquele livro, de Benjamim Pereira, foi o primeiro de muitos. Da bibliografia, editada em 1965, passei para outros: Construções primitivas em Portugal, Alfaia agrícola portuguesa, Sistemas de moagem, Moinhos de vento etc. Ao nome de Benjamim Pereira habituei-me a associar dois outros autores: Ernesto Veiga de Oliveira e Fernando Galhano. Sobretudo, acostumei-me à ideia de há uma inveja boa. Quando lia os trabalhos deles, pensava/penso sempre "caramba, era assim que eu gostava de conseguir fazer, um dia". A investigação culta e cuidada de Benjamim Pereira era desprovida de vaidade e da jactância. Não citava autores obscuros e filósofos em voga. Habituei-me, ao lê-lo, a ter a perceção que a investigação comporta sempre uma forte vertente poética. E de proximidade às coisas simples. Nunca o conheci, pessoalmente. Só através dos livros. É o suficiente para ter a clara ideia do muito que lhe(s) devemos. Ernesto Veiga de Oliveira desapareceu em 1990, Fernando Galhano em 1995. Benjamim Pereira, que agora partiu, era o sobrevivente de uma geração de portugueses maiores.
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