domingo, 8 de novembro de 2020

BATE OS BRANCOS COM UMA CUNHA VERMELHA

Post para um grupo de amigos e motivado por uma publicação de Nuno Ramos de Almeida, no instagram.

Há memórias inapagáveis. Muitos dos que participaram nestes episódios deles decerto se recordarão. No ano letivo 1983/84 houve uma cisão no seio da Associação de Estudantes. A lista unitária de esquerda deu lugar a dois grupos: a lista D (a letra remetia para Direção) e a lista Q (nunca percebi a razão de ser desta letra, confesso). A lista D era "esquerdalha", a lista Q estava ligada à JCP. Fui convidado, para minha surpresa (e derivado à minha fama de "esquerdalho" e "radical pequeno-burguês de fachada socialista") a integrar esta última. Não me lembro porque aceitei, mas sempre tive a convicção que íamos levar "uma abada". Coisa irrelevante, o importante estar "estar" e "combater".

A Teresa Carvalho foi encarregue de escolher uma imagem para o cartaz. Quando vi a imagem - do vanguardista soviético El Lissitzky, na verdade Lazar Markovich Lissitzky (1890-1941) - pensei "isto vai ser visto como uma coisa totalmente esotérica". O desenho era de um poster de propaganda de 1920, intitulado "Bate os brancos com a cunha vermelha".

Acabámos ganhando as eleições. Declinei depois um convite para ser um dos quatro representante dos alunos no Conselho Diretivo - acabaram por ser o Carlos José Almeida, a Rosa Ribeiro, a Isabel Martins e, salvo erro, a Maria José Cantarinha -, porque o ano já ía avançado e uma balbúrdia crescente se instalava no meu percurso escolar.

Recordo com gosto - e sem aquele jargão, que detesto, do "bons tempos" - esses dias e esses tempos, onde sólidas amizades se forjaram. Foi nessa altura que decisivas opções políticas foram tomadas. Passaram quase 40 anos. Não me arrependi. As convicções e as amizades permanecem. 






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