Há já alguns anos, talvez uns 12 ou 13, o ministro José Mariano Gago foi a Mértola para apadrinhar a apresentação do mestrado Portugal Islâmico e o Mediterrâneo. Durante o encontro com a nossa equipa, disse esta coisa extraordinária: "sabem como é que recrutam professores para uma das melhores universidades americanas? Pedem três livros escritos a cada um dos candidatos e é com base nisso que fazem a seleção". Ou seja, interessa aquilo que se mostra saber ou ter feito.
Conto quase sempre este episódio nas aulas de apresentação. Voltarei a fazê-lo, no dia 8 de fevereiro, quando começar o seminário sobre “Gestão do Património”. Porquê? Qual a relevância desta historieta?
Pela simples razão que, na investigação, como na vida, como na ação política, interessa ser direto e ir direito ao que interessa, sem rodeios. É relevante o que realmente produzimos de prático e importa muito pouco aquilo que dizemos que queremos fazer. Há um par de coisas que digo sempre aos alunos, e que são, para mim, princípios básicos de atuação. Posso estar errado, mas são esses que defendo. E que tento pôr em prática.
Por isso lhes digo que o planeamento (rigoroso, calendarizado, cronometrado) é necessário, tanto quanto o é a passagem à ação. Quando os vejo com discursos difusos à volta do que estão a fazer, cito-lhes Brian Clough. Não era um filósofo, nem pertencia a nenhum “think tank”. Foi treinador do Derby County no início dos anos 70 e tinha um princípio simples, e precioso: “todo o drible que não resultar em golo, é um drible desnecessário”. Por isso, e muito concretamente, deixem-se de tretas. Foquem-se nos resultados e na forma de os obter. Habituem-se a fazer várias tarefas ao mesmo tempo. Acostumem-se a não “sair às 5 e meia e agora tenho de ir para casa e vou fazer uma caminhada ou tenho de ir passear o cão”.
Se tomarem conta de uma escavação ou de um museu (farão muito mais na vida do que arqueologia e museus, e se algum tonto vos disser o contrário, riam-se dele) não se ponham a apontar para trás, porque o anterior responsável deixou isto ou aquilo por fazer. Isso acontecerá sempre na vida, que alguém deixe algo para fazer. Tentem é vocês dar o dar tudo por tudo, onde quer que estejam, e caminhar em frente.
E não se ponham com promessas, do “agora é que vou fazer”, “tenho quase o projeto pronto”, “vou começar a escrever”. Das duas, uma: ou fazem, ou não fazem. Portanto, concretizem e mostrem resultados. Não consigo ter respeito por gente que está sempre a representar, como se num teatro estivesse. Aqueles que estão sempre com desculpas e a calimerar o mundo, fazendo-se de vítimas. Não copiem projetos e ideias. Procurem vocês outras soluções. Diferentes e atrevidas. Umas vão resultar, outras não. Lembrem-se que o sucesso não se mede só por termos muitas vitórias, mas também, e em grande medida, por termos o menor número de derrotas possível.
Habituem-se a tentar outros caminhos na vida. E se um dia vos desafiarem para algo diferente (uma intervenção na vida social, um cargo associativo, uma tarefa humanitária ou um cargo autárquico) pensem sempre “porque não?”. Mas pensem nessa outra realidade como uma missão, não como um emprego ou como um modo de vida.
E não se esqueçam de uma coisa. A verdade é como o azeite. Vem sempre ao de cima. É só uma questão de tempo.
Crónica em "A Planície"
Fotografia: Bruno Barbey (1941-2020)
Uma carta muito interessante, sorte dos alunos que têm tal professor.
ResponderEliminarBelo texto. Obrigada
ResponderEliminarBravo, caro Santiago
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