sábado, 2 de janeiro de 2021

DA IGUALDADE

Foi há semanas. Entrei num pequeno café do Alto Alentejo, para registar um prosaico totoloto. O dono do café estava em pleno e convicto monólogo com o que devia ser um cliente habitual: "sabes como é que eu sou; gosto de ajudar toda a gente" (o interpelado fazia que sim com a cabeça, sem grande entusiasmo); gosto de facilitar e não sou um gajo complicativo; estamos aqui para isso, não é?; olha, no outro dia, telefonou para cá uma às 7 menos um quarto, para eu lhe meter o euromilhões; disse-lhe logo que não; tenho que tratar toda a gente por igual, olha a esperta...". Virou-se para mim "o meu amigo faz favor de dizer".

Tive vontade de perguntar: "o que entende, em rigor, por ajudar e facilitar? é que não percebi a lógica da argumentação...". Em vez disso, limitei-me a dizer "são cinco apostas da máquina, por favor".

Woody Allen passeava pelas ruas de Manhattan, observando as pessoas à sua volta. Era esse um dos seus métodos favoritos para arranjar material para os argumentos. Todos os dias tenho testemunhos ao vivo que provam a eficácia do método.




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