quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

MORMAÇO

Ontem de manhã, na Antena 2, passou Adélia Prado (n. 1935). Uma poesia longínqua e, decididamente, não-portuguesa. Este seu poema, talvez pelo mormaço, lava pra longe. Ao lê-lo só me ocorreu São Luís do Maranhão. Não sei explicar porquê, mas foi a única cidade de que me lembrei.

Choveu toda a santa manhã, entre Mértola e Lisboa, sem parar. Precisamos do mormaço, abrandando ou não.

Fragmento
Bem-aventurado o que pressentiu
quando a manhã começou:
não vai ser diferente da noite.
Prolongados permanecerão o corpo sem pouso,
o pensamento dividido entre deitar-se primeiro
à esquerda ou à direita
e mesmo assim anunciou o paciente ao meio-dia:
algumas horas e já anoitece, o mormaço abranda,
um vento bom entra nessa janela.




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