segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

O PADRÃO DOS DESCOBRIMENTOS

Não há nada como dizer meia dúzia de disparates "disruptivos" para ganhar atenção e notoriedade. O líder de um partido fascista fez isso, meses a fio. Com sucesso. Para não haver exclusivos, um pouco conhecido membro do Parlamento veio agora lançar a ideia de demolição do Padrão dos Descobrimentos. Tornou-se uma "overnight sensation".

O Padrão dos Descobrimentos (a fotografia que uso é de Mário Novais) é um monumento que foi construído, em Lisboa, junto ao Tejo. Foi primeiro uma construção precária, depois ganhou forma definitiva. Foi desenhado por um bom arquiteto, Cottinelli Telmo (1897-1948). E contou com o trabalho de um bom escultor, Leopoldo de Almeida (1898-1975).

Durante muitos anos não teve grande préstimo, além de ali estar, marcando a chegada a Lisboa. Ultimamente, uma inteligente gestão do seu espaço fez do Padrão um local por onde tem passado uma programação de grande interesse que, com frequência, se tem debruçado sobre o passado colonial.

Se gosto do Padrão? Arquitetonicamente, não é genial. Mas é, pelo menos, interessante e tornou-se um ícone de Lisboa.

Se me revejo no elogio da brava gesta dos heróis? Nem por sombras. Mas tem feito mais pela crítica do colonialismo a programação do Padrão que faria qualquer demolição.

Se me parece aceitável a demolição? Sou totalmente contra.  Se formos negar /demolir / destruir tudo aquilo que ofende as nossas convicções e se formos, a cada momento, padronizar o passado à luz dos nossos conceitos atuais, bem pouco sobrará. Estes gestos radicais interessam, sobretudo, os especialistas de fim de semana e, como um dia disse Dali, os "amadores de Arte e de caldos Knorr".

Em relação ao Padrão, bem mais útil é mantê-lo e não darmos pretextos aos saudosistas que querem fazer de cada símbolo um regresso ao glorioso passado.

Ver - https://padraodosdescobrimentos.pt



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