terça-feira, 2 de março de 2021

O REVELIM DO MATADOURO

De vez em quando, acontecem(-me) coisas assim. Estava eu muito sossegado quando me alertam para um ataque de que estava a ser alvo num grupo no facebook. Que teria promovido, ou permitido que acontecesse, um ataque ao Património e a destruição de uma parte da fortificação de Moura, datada do século XVII. Em concreto, que uma determinada obra tinha causado danos irreparáveis num revelim.

Um revelim é, em termos técnicos (e uso um dicionário), "uma fortificação externageralmente triangularque cobre ou defende uma cortina entre dois baluartes de uma fortificação". Ou seja, houve, em tempos, um revelim entre a Muralha Nova e um desaparecido meio-baluarte, cujo limite coincidiria com a Rua da Estalagem.

Acontece que a plataforma onde o antigo matadouro está instalado não é um revelim. É um aterro, muito provavelmente construído em finais do século XIX. Ou mesmo já no século XX.

Ao contrário do que o autor da proposta sustenta, o eixo do revelim estava organizado de forma perpendicular à muralha. Supor uma implantação na diagonal é, no mínimo, um absurdo. E esbarra com a cartografia setecentista e oitocentista. Os desenhos feitos por Miguel Luiz Jacob (1755) e por João Cordeiro (1854) mostram o revelim perfeitamente enquadrado com a muralha. Tal como já o fizera o plano esquiçado por Nicolau de Langres, em meados do século XVII.

Detalhe - o traçado proposto da muralha que aparece na tal página do facebook é, de facto, um trabalho meu, datado de 2005. Não está citado, mas é.










1. Localização do revelim (a vermelho), enquadrado na muralha (a azul).









2. A suposta localização do revelim.









3. O revelim num desenho de 1755.








4. O revelim num desenho de 1854.

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