sábado, 1 de maio de 2021

ORGULHO MOURENSE

Encerrou, há dias, a exposição internacional “Guerreiros e Mártires”, que esteve patente ao público, de forma intermitente, desde 19 de novembro de 2020, no Museu Nacional de Arte Antiga.

Fica para as minhas memórias pessoais a pequena história detalhada desta exposição. Foi um processo começado, com outros contornos, no dia 1 de junho de 2018; o projeto primitivo, apresentado a uma entidade privada, “naufragou”, poucos meses depois. Renasceu a meio do outono desse ano, com a pergunta do Joaquim Caetano (meses depois diretor do MNAA) “porque não fazes antes a exposição sobre os mártires de Marrocos, em vez de usares só a obra de Francisco Henriques como ponto de partida?”. Um desafio e um ovo de Colombo. Sim, seria possível fazer a exposição assim, mas teria de ser um comissariado a dois (Arte e Arqueologia). Retoma-se o projeto, em novos moldes. Não havia dinheiro e era preciso apoio mecenático. Uma primeira entidade avançou com 70.000 euros, muito abaixo do que fazia falta. Começámos a recolha de informação (que peças? que autores? que guião?) e assim se passou todo o bendito ano de 2019, numa permanente angústia. Finalmente, consegue-se apoio financeiro e haverá exposição. A Imprensa Nacional assegura o catálogo, mas os prazos são curtos.

Estabilizamos a escolha final em 210 peças (faltam, por diversas razões, as Cantigas de Santa Maria, o “Bayad-wa-Riyad” – uma história de amor oriental -, o pendão das Navas de Tolosa, mas o que temos é de grande qualidade). No meio está Moura. Foi com orgulho, e sem ponta de bairrismo parolo, que esteve Moura. A nossa terra tem peças de inquestionável categoria, referentes a este período. Escolhi cinco, que puderam ser vistas no principal museu português, ao longo de cinco meses. Quais? Uma réplica da lápide comemorativa da construção do minarete da mesquita de Moura (meados do século XI); um osso de boi com a invocação a Alá, numa peça usada para o ensino da escrita (inícios do século XIII); um painel de uma pequena arca revestida a osso (inícios do século XIII); dois pratos importados do sul de Espanha, de meados do século XIV.

Moura tem? Sim, temos porque procurámos. São materiais da nossa terra e do nosso património, que resultaram dos trabalhos arqueológicos realizados no castelo e no bairro da Mouraria. Moura tem potencial? Tem, mas é preciso fazer por isso. Tem, também, por motivos que se prendem com razões excecionais de localização e pela presença de minas de prata a curta distância. São questões explicadas em livros como “Castelo de Moura – escavações arqueológicas” e no mais recente “Moura Medievalis”.

É o nosso património motivo de orgulho mourense. Sem favor esteve Moura na exposição “Guerreiros e Mártires”. Um facto que aqui queremos deixar registado. Tal como queremos referir a total ausência de referências, por parte da Câmara Municipal de Moura, às suas peças numa grande mostra internacional. É esse silêncio oficial um facto que, sem ironia, também me envaidece.

Crónica em "A Planície"











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