sexta-feira, 25 de junho de 2021

ILITERACIAS

Episódio 1, ocorrido há meses, na Beira.

Um empresário confessa-me que nunca gostou da escola. Queria sair e começar a trabalhar: "fiz a terceira classe, nada mais". Depois riu baixinho para acrescentar: "bom, agora tenho o 9º. ano; puseram-me duas horas em frente a um computador e assim fiz o 9º. ano nas novas oportunidades, está a ver como é, não está?". Estou, pois. Mesmo descontando a hipérbole, estou bem a ver.

Episódio 2, ocorrido há dias, no metro.

O combóio arranca do Terreiro do Paço, em direção a Santa Apolónia. Um homem, de ar modesto e saco de viagem puidíssimo, dá um salto: "era aqui o Terreiro do Paço, não era?". Confirmei. O homem, talvez um pouco mais novo que eu, ficou à beira do desespero, era ali que devia ter saído. Expliquei que era só uma estação, e nem tinha que sair do combóio. Continuou com ar de desespero, para depois me dizer que precisava de ir para Tomar. Comentei, "então, deve querer ir para Santa Apolónia". Sim, afinal era isso. Saiu da carruagem e estacou "como é que se sai daqui?". Disse-lhe para me seguir, enquanto ia desfiando que era de Fátima, tinha vindo trabalhar para Lisboa e tinha o irmão à espera.

Levei-o estação fora, até à bilheteira. Não sabia como se apanhava o combóio. Nem como se tirava um bilhete. Desfez-se um vénias de agradecimento, atarantado.

Nestas alturas pergunto-me, sem respostas, "onde facilitámos?", onde falhámos?", "qual a solução?"

#iliteracias

#SantaApolónia

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