segunda-feira, 9 de agosto de 2021

DAS VELAS AOS OLHOS

Durante as primeiras décadas do século XX multiplicaram-se as fotografias de veleiros em regatas. As condições em que eram feitas desafiam a imaginação e o talento. É difícil encontrar uma que seja de má qualidade. A maior parte são muito boas. E, de entre elas, sobressaem um par de obras-primas. Como as de Frank Beken (1880–1970). Abundam as diagonais e as linhas retas. A que aqui reproduzo é quase uma exceção, com tanta curva e tanto vento. Olho as curvas do poema re recordo-me de Niemeyer. Como tantas vezes se diz, conspirativamente, "isto anda tudo ligado".

La courbe de tes yeux

La courbe de tes yeux fait le tour de mon cœur,
Un rond de danse et de douceur,
Auréole du temps, berceau nocturne et sûr,
Et si je ne sais plus tout ce que j'ai vécu
C'est que tes yeux ne m'ont pas toujours vu.

Feuilles de jour et mousse de rosée,
Roseaux du vent, sourires parfumés,
Ailes couvrant le monde de lumière,
Bateaux chargés du ciel et de la mer,
Chasseurs des bruits et sources des couleurs,

Parfums éclos d'une couvée d'aurores
Qui gît toujours sur la paille des astres,
Comme le jour dépend de l'innocence
Le monde entier dépend de tes yeux purs
Et tout mon sang coule dans leurs regards.

Paul ELUARD, Capitale de la douleur (1926)



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