quinta-feira, 14 de outubro de 2021

SETEMBRO, 1970

Ainda os Forcados de Moura não existiam. Foi em setembro de 1970. Era dia de Feira e o meu pai pegou-me na mão e levou-me à Praça de Touros de Moura. Era assim, era feira e a gente ía aos touros. Nesses dias 8 de setembro não se cabia na praça. Foi a primeira de muitas vezes. Foi lá que vi os duelos entre Luís Miguel da Veiga e José Mestre Batista, e que assisti a uma lide temerária, num domingo de Festa, de José Maldonado Cortes. E também a outras tardes, com Gustavo Zenkl e com José João Zoio. Ah, sim, e Mário Coelho e Ricardo Chibanga.

O gesto do João Macias de levar um miúdo de 7 anos a uma corrida de touros foi, naquele meio em que vivíamos, algo normal. Aquilo fazia/faz parte das nossas vidas. Do que gostamos e do que nos é familiar. Tal como me divertiria, anos mais tarde, com as largadas.

Tal como depois, anarquicamente, à medida do que me foi apetecendo, fui vendo corridas aqui e além. Conhecer a Arte de Morante, de Castella, de Tomás, de El Juli, de Ferrera, de Perera, de Ponce, foram/são troços importantes da minha vida.

Agora, decide-se que só a partir dos 16 anos se pode ir aos touros. Parece que antes dessa idade só com um adulto responsável. Uma vestal vegana (sempre desconfiarei dos proselistismos, sejam eles quais forem...) diz que o "Conselho de Minsitros aprovou o decreto que protege os menores de 16 anos da violência da tauromaquia". Passei muito bem, na minha remota juventude, sem tais proteções. E sem que, por decreto, decidissem o que posso ou não posso ver, do que posso ou não posso gostar. Agradecerei sempre ao meu pai por, naquele dia 8 de setembro de 1970, me ter pegado na mão e me ter dito "vamos à tourada!".

O que aconteceu hoje? Uma decisão unilateral. E pouco culta.


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