segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

O QUE É UM CACE? E PORQUE DIZEMOS CACE?

Não sou linguista nem filólogo. Ou seja, este texto é um enorme atrevimento. A palavra “cace” tem um uso mais ou menos regional. Quando, fora do nosso Alentejo, dizemos “passa-me aí o cace!”, as pessoas estranham ou riem-se. Frequentemente, as duas coisas. Tenho bem presente a hilaridade que provocava nos meus tempos de estudante que dizia cace e não concha. Palavra que, neste contexto, não uso. Em caso algum. Há variantes, como caço, usado noutras partes do Alentejo, ou mesmo mais a norte.

Em 2/3 do País diz-se concha.  No terço restante (nós) é um cace. Ainda há tempos, ao almoço e num restaurante em Lisboa, ouvi um patrício dizer "um cozido de grão e nem um cace trouxeram...".

Cace “não existe”, tal como “não existe” acarro, expressão à qual voltarei um destes dias. São palavras que estão fora dos dicionários formais.

Não é fácil encontrar a origem da palavra usada entre nós. Segundo uns a palavra caço (cace não aparece nos dicionários, creio) tem “origem obscura”, noutros dá-se como possível raíz o grego kýathos, “concha para tirar líquido de um recipiente”. Com o devido respeito, mas a sonoridade de cace soa muito pouco a kýathos (pronúncia: kīə thos′). Em árabe cálice (no sentido de copo) é ka’s (v. grafia mais abaixo), soando exatamente como nós dizemos. Creio ser esse ka’s a origem da palavra que nós usamos. A menos que haja outra explicação devidamente "certificada", que desconheço.

Incluo aqui uma imagem do conhecido "Qissat Bayad wa Riyad", uma história de amor de finais do século XII/inícios do século XIII. O manuscrito relata episódios do oriente, mas sabe-se ter sio produzido na Península ibérica, provavelmente na região de Valência. A cena sugere vagamente uma daquelas inaugurações com momento musical, mas é na realidade uma situação habitual na vida da corte: um grupo ouvindo música, de ka’s na mão. Ou seja, bebendo um copo de vinho. O manuscrito está na Biblioteca do Vaticano.

Crónica em "A Planície"


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