A exposição tem uma enorme originalidade: mostra aquilo que o artista para si guardou. Claro que as inaugurações não são a melhor altura para ver as obras. Mas dão-nos um pretexto suplementar para regressar ao excelente Museu Nacional de Arte Contemporânea.
Um dos quadros/quartos de Nikias Skapinakis é dedicado a Kavafis. Recordemos justamente um dos seus poemas, na tradução de Nikos Pratsinis e de Joaquim Manuel Magalhães.
O Sol da Tarde (Konstandinos Kavafis)
Este quarto, como o conheço bem.
Agora alugam-se quer este quer o do lado
para escritórios comerciais. A casa toda tornou-se
escritórios de intermediários, e de comerciantes, e Sociedades.
Ah este quarto, não é nada estranho.
Perto da porta por aqui estava o sofá,
e diante dele um tapete turco;
ao pé a prateleira com duas jarras amarelas.
À direita; não, em frente, um armário com espelho.
Ao meio a sua mesa de escrever;
e três grandes cadeiras de vime.
Ao lado da janela estava a cama
onde nos amámos tantas vezes.
Estarão ainda os coitados nalgum lugar.
Ao lado da janela estava a cama;
o sol da tarde chegava-lhe até metade.
… De tarde quatro horas, tínhamo-nos separado
por uma semana só… Ai de mim,
aquela semana tornou-se para sempre.
Sem comentários:
Enviar um comentário