Em 24.1.2013 escrevi aqui:
"Já não se encontram nas bibliotecas [os livros de Enid Blyton], creio eu. Oxalá esteja enganado". Na verdade, já não se encontram, porque agora os escondem. Detesto censores. E gente que até os gaspachos assopra. E os de cérebro penteadinho. A esses, e às "pessoas bibliotecárias" (parece que agora fica bem dizer assim) que escondem livros, tenho todo o gosto em dedicar este excerto de Adília Lopes, que também vai ser censurada e ocultada, um destes dias:
"Em 81 disse à Dr.ª Manuela Brazette, psiquiatra, "Eu sou feia". Ela disse-me "Não é ser feia. Não há pessoas feias. Não tem é atractivos sexuais". Lembrei-me então do homem que em 74, tinha eu 14 anos, se cruzou comigo no Arco do Cego. Lembrei-me do homem, da cara do homem vagamente, mas lembrei-me muito bem do que ele me tinha dito ao passar por mim. Tinha-me dito "Lambia-te esse peitinho todo". Lembrei-me também da meia-dúzia de outros homens que durante a minha adolescência me tinham dito quando eu passava "Coisinha boa" e "Borrachinho". Ainda hoje me sinto profundamente agradecida a esses homens. Pensei que estavam a avacalhar, que eram uns porcalhões. Mas quem estava a avacalhar era a Dr.ª Manuela Brazette, ela é que é uma porcalhona. Acho que um homem nunca consegue ser mau para uma mulher como outra mulher."
(Adilia Lopes, Irmã barata, irmã batata. Braga/Coimbra: Angelus Novus, 2000. p. 12)
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