domingo, 23 de abril de 2023

MORTE À PIDE!


















Finais de 1973 ou inícios de 1974. As frases estavam numa parede, entre a estação de Benfica e o (já desaparecido) apeadeiro de Cruz da Pedra: MORTE À PIDE! FIM À GUERRA COLONIAL! Num "bem povoado" combóio, pergunto, em voz alta e com toda a capacidade inquisitiva dos meus 10 anos: "mãe, o que é a PIDE? e a guerra colonial?". Levei um enérgica "sovinada" e um olhar daqueles que não deixavam qualquer dúvida: era melhor que não voltasse a abrir a boca. À chegada ao Rossio tive direito a uma breve explicação. Eram coisas da política e não era assunto para a minha idade.

Meses depois, não muitos, o "morte à PIDE" encheu as ruas de Lisboa.

Dois ou três dias depois do 25 de abril de 1974 estava o José plantado em frente ao Nicola, no Rossio, vendo a festa das manifestações espontâneas, quando alguém lhe toca no ombro e pergunta: "Mi scusi, che cosa è la PIDE?". Era um italiano, visivelmente impressionado com o espetáculo e com os gritos de "morte à PIDE" que se faziam ouvir. O José não fala italiano, mas entre duas ou três palavras de espanhol e a boa vontade meridional entenderam-se perfeitamente. O italiano estava crente que seria a direita moderada a tomar o poder, tal como tinha feito em Itália, depois da 2ª Guerra Mundial. O italiano tinha razão. Mas foi preciso esperar algum tempo.


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