terça-feira, 23 de maio de 2023

PAISAGEM ORIENTAL

O sítio fez-me lembrar as fotografias de Thomas Weinberger. Só que aqui havia fábricas e agora já não há. A mudança está a ser extremamente rápida. Deixa marcas sem retorno. Agora há empresas e muito dinheiro estrangeiro. A igreja de um antigo convento agora é um cenário operático. Um toque de irrealidade passa pela Lisboa Oriental. Álvaro de Campos anda por ali.




















ODE TRIUNFAL

 

À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica 

Tenho febre e escrevo. 

Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto, 

Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.

 

Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno! 

Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria! 

Em fúria fora e dentro de mim, 

Por todos os meus nervos dissecados fora, 

Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto! 

Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos, 

De vos ouvir demasiadamente de perto, 

E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso 

De expressão de todas as minhas sensações, 

Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!

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