Ligo o carro de manhã e aquilo é só mensagens eletrónicas à direita e à esquerda. O painel à frente do volante parece uma árvore de natal com tanta luzinha.
Depois, entra em funcionamento a máquina do tempo. Regresso ao carocha amarelo. De Moura a Madrid, 15 ou 16 horas de viagem. Os vidros de trás não abriam. Não havia ar condicionado. Só havia cintos de segurança à frente. Só havia quatro velocidades. Quando chegava aos 120 trepidava por todos os lados, e parecia que ia levantar voo. A suspensão era de trator. O conforto era nulo. Caramba, que saudades do carocha amarelo!
Faz hoje 60 anos. Militares de extrema-direita desencadearam um golpe, depuseram o presidente João Goulart e deram início a uma ditadura, sem lei nem roque, que durou mais de duas décadas. Muitos assassinatos ficaram impunes.
Convirá recordar o papel ativo da CIA e do governo dos Estados Unidos - os da dimócrassi e iuman ráites - neste golpe.
Li isto na quinta à tarde. Lembrei-me dos tempos da Guerra Fria. Quando havia um acidente aéreo com um avião construído "no outro lado" lá vinha a informação "caiu um Tupolev, de fabrico soviético". Agora, com a série de azares, o ónus passou a ter uma marca: "avião Boeing". É a vida.
"Está marcejando", dizia a minha avó Joaquina do Ó Ferreira (1909-1975), quando o tempo estava assim, de chuva e sol alternado. Era a sua tradução de um conhecido ditado popular. Imagino, mas não mais que isso, que poderá ser um localismo da Amareleja. Será? Em todo o caso, o verbo marcejar existe, com este preciso sentido, na língua catalã.
Não é muito frequente os governos de direita terem ministério da cultura. Agora a pasta vai caber a Dalila Rodrigues, até aqui diretora do Mosteiro dos Jerónimos e da Torre de Belém.
É bom haver ministério nesta área. Também é bom que seja alguém que conhece o setor a ter a pasta. O resto se verá. Ou, como dizia um jogador de futebol, "prognósticos só no fim do jogo".
Entre domingo e ontem tivemos a 11ª. e 12ª. iniciativa de 2024. Como em anos anteriores, a média é uma coisa por semana. No domingo, houve o espetáculo com o Quarteto de Clarinetes de Lisboa. Onde, foi uma conversa a dois mais um. Francisco Moita Flores e Luís Afonso foram contar o que é escrever sobre a morte.
Em abril haverá mais. E haverá iniciativas diferentes. Há que evitar a letal rotina...
A fotografia deve ter quase 15 anos. Fi-la no Forte da Amura, onde está sepultado Amílcar Cabral. Gosto de Bissau e gosto da Guiné-Bissau. Duas idas lá foram mais que suficientes para fixar essa convicção. Gostaria de voltar, bem entendido.
Faz agora cinco anos (o tal lustro) trabalhava eu no projeto de uma exposição sobre a Lisboa Islâmica. Iria ser no Mercado do Forno do Tijolo. Só que, depois, com o pretexto de que o projeto da Casa da Diversidade, promovida pela Junta de Freguesia de Arroios, ia mesmo arrancar, a ideia foi "vetada" para aquele local. Já havia guião e uma ideia de como iria funcionar. Ingénuo como sou, achei que a exposição iria mesmo em frente. Percebi, muito mais tarde, as razões do falhanço...
Não houve exposição.
Não houve Casa da Diversidade.
A presidência da Junta de Arroios mudou. A presidência da Câmara de Lisboa mudou.
Vi, no outro dia, que está lá uma exposição promovida pela Ephemera. Valha-nos isso! Um lustro volvido regressarei ao Mercado do Forno do Tijolo.
Hoje é o Dia Nacional de Grécia. Uma edição recente de poemas de Sophia de Mello Breyner Andresen, com traduções de Nikos Pratsinis, foi a minha evocação ao início da tarde de ontem. Um dia sob o signo do azul helénico.
ÍTACA
Quando as luzes da noite se reflectirem imóveis nas águas verdes de Brindisi
Deixarás o cais confuso onde se agitam palavras passos remos e guindastes
A alegria estará em ti acesa como um fruto
Irás à proa entre os negrumes da noite
Sem nenhum vento sem nenhuma brisasó um sussurrar de búzio no silêncio
Mas pelo súbito balanço pressentirás os cabos
Quando o barco rolar na escuridão fechada
Estarás perdida no interior da noite no respirar do mar
Porque esta é a vigília de um segundo nascimento
O sol rente ao mar te acordará no intenso azul
Subirás devagar como os ressuscitados
Terás recuperado o teu selo a tua sabedoria inicial
Emergirás confirmada e reunida
Espantada e jovem como as estátuas arcaicas
Com os gestos enrolados ainda nas dobras do teu manto
ΙΘΑΚΗ
Όταν τα φώτα της νύχτας θα αντιφεγγίζουν ασάλευτα
στα πράσινα νερά στο Μπρίντιζι
Θα αφήσεις την ταραγμένη προβλήτα με το πηγαινέλα
από λέξεις, βήματα, κουπιά και γερανούς
Η χαρά θα ανάβει μέσα σου σαν καρπός
Θα πας στην πλώρη ανάμεσα στα μαύρα σκοτάδια της νύχτας
Δίχως κανέναν άνεμο δίχως καμία αύρα μονάχα ένα ψιθύρισμα
από το κοχύλι στη σιωπή
Όμως από το απότομο λίκνισμα θα μαντέψεις τους κάβους
Όταν το καράβι γλιστρήσει στην επτασφράγιστη σκοτεινιά
Θα είσαι χαμένη στο εσωτερικό της νύχτας στην ανάσα της θάλασσας
Γιατί αυτή είναι η ξαγρύπνια μιας δεύτερης γέννησης
Ο ήλιος ξυστά στη θάλασσα θα σε ξυπνήσει στο απέραντο γαλάζιο
Θα ανεβείς αργά σαν τους αναστημένους
Θα έχεις ανακτήσει αυτό που σε διακρίνει και την αρχική σου σοφία
Θα αναδυθείς επιβεβαιωμένη και συμφιλιωμένη
Ξαφνιασμένη και νέα σαν τα αρχαϊκά αγάλματα
Με τις χειρονομίες μπλεγμένες ακόμη στις πτυχές του μεγάλου
O programa lá vai avançando. Onze emissões estão passadas e, segundo me diz o José Manuel Albardeiro, com bons índices de audiência. Antes assim...
Que se segue?
Emissão 12 - Luís Rendall
Emissão 13 - Ary dos Santos
Emissão 14 - Dick Farney
Emissão 15 - Conjunto de Oliveira Muge
Depois? Celia Cruz, Zeca Afonso, Milva, Carlos Ramos, Gal Costa, etc. Sempre alternando entre portugueses e não-portugueses.
Até ao programa 15 está tudo gravado, até à emissão 30 estão os textos escritos, até à emissão 44 (será José Mário Branco, lá para novembro) está tudo selecionado.
Recordo-me de ainda ter visto o quartel, o Trem Auto. Há mais de 50 anos. Na quarta-feira (eram 17:58:53, mesmo, mesmo a começar a aula...) fotografei este chaimite no pátio, perto da Torre B. Tinha cravos. Davam um ar de abril à faculdade.
Palavras de José Gomes Ferreira e de Fernando Lopes-Graça.
Acordai!
Acordai Acordai Homens que dormis A embalar a dor Dos silêncios vis Vinde no clamor Das almas viris Arrancar a flor Que dorme na raíz
Acordai Acordai Raios e tufões Que dormis no ar E nas multidões Vinde incendiar De astros e canções As pedras do mar O mundo e os corações
Acordai Acendei De almas e de sóis Este mar sem cais Nem luz de faróis E acordai depois Das lutas finais Os nossos heróis Que dormem nos covais Acordai!
Stefano Scaramuzzino, diretor do Instituto Italiano de Cultura, Fausto Giaccone, fotógrafo, e eu. No final de uma jornada de trabalho, para uma iniciativa que tomará forma dentro de um mês.
O Stefano sugeriu esta pose. Não me pareceu nada mal.
Amanhã é dia de ir ao castelo. De manhã, que de tarde há um projeto em preparação para o monumento do costume e tem de ser preparado com todo o pormenor.
Em todo o caso, será um prazer regressar ao Castelo de S. Jorge. Aceitei o convite com todo o gosto. É sempre bom estar entre amigos. O meu tema vai andar em volta das casas e do quotidiano, o que não será bem uma surpresa...
Bulworth (1998) não foi um grande sucesso. Mas tem uma certa graça, no meio daquele discurso totalmente improvável. Vale a pena revê-lo, em toda a sua naïveté, à luz das coisas que vão acontecendo nos nossos dias.
De quarta para sábado. Falando aos mais novos sobre património e percursos.
De Oeiras para a Amareleja. Com a convicção que a transmissão de informações passa, também, por estas sessões.
Em Oeiras a iniciativa foi da Mapa das Ideias e da Fundação Aga Khan, no âmbito de um projeto intitulado AZIMUTE.
Na Amareleja, a iniciativa intitula-se Mapa Mundo. É desenvolvido no âmbito do Projeto EPIS, Empresários Pela Inclusão Social. O Agrupamento de Amareleja aderiu ao projeto EPIS há seis anos. Trata-se de explicar percursos e experiências de vida aos mais novos. O convite partiu da Professora Romana Ferreira.
Vanitas vanitatum et omnia vanitas. Vaidade das vaidades, tudo é vaidade. A alocução é conhecida e está na Bíblia. Mais precisamente no Ecclesiastes, um dos livros (sécs. V-II a.C.) do Antigo Testamento.
A frase sublinha a rapidez da passagem do tempo, a vacuidade das coisas, a brevidade do sonho que a vida terrena é. Vanitas é, também, o nome dado a um tipo de pintura, muito popular no século XVII e de que esta tela é exemplo. Desconhece-se o autor da obra, datável na/da? primeira metade daquele século.
A caveira, como símbolo da efemeridade, estava quase sempre presente nestas obras. A referência ao tempo que passa, simbolizada pela ampulheta e pela vela, e à mundanidade das coisas, representada por um livro, são temas clássicos neste tipo de pinturas.
Vanitas a dobrar no Panteão Nacional: uma tela do Museu Nacional de Arte Antiga e a obra de arte urbana que Aryz concebeu para este monumento.
Projeto desenvolvido pela UNDERDOGS, em parceria com a Câmara Muncipal de Lisboa (entidade financiadora) e com o Panteão Nacional.
E agora (quer dizer, não é agora, é no sábado...) vou para a Amareleja. Explicar o que foi ser presidente da câmara e o que é ser diretor de um monumento a alunos da Escola Básica Integrada. Estes desafios nunca são fáceis. E são sempre interessantes. Espero que seja também interessante para eles!
O nome é um pouco insólito, mas é uma interessante página de divulgação de fotografia. Tem vindo a divulgar, entre muitas outras imagens, um conjunto de fotografias feitas por Toni Frissell (1907-1988) na região de Lisboa.
Da Granja do Marquês (ontem) para a Escola da Quinta do Marquês (amanhã). Amanhã o desafio é sério: explicar a importância da presença islâmica a partir de uma dezena de objetos. Mas acho que por ser mais sério me dá mais prazer. Darei notícias aqui no blogue.
Motivos profissionais levaram-me, esta tarde, a uma cerimónia na Granja do Marquês. Gosto muito do Museu do Ar.
Para além da cerimónia de aniversário que ali teve lugar foi inaugurado um novo espaço, com a reprodução do gabinete do Gen. Humberto Delgado, quando esteve à frente da aeronáutica civil, nos anos 40 e 50.
Está lá também, entre muitos outros exemplares, um rutilante Dakota DC-3, o mesmo que há 77 iniciou a Linha Imperial. Magnífico, tudo aquilo.
Recebi, há dias, um email de um professor da Universidade de Massachussets interessado na Lenda da Moura Salúquia. Quando nasceu a lenda?
Na verdade, não sei dizer. Uma certeza apenas: em meados do século XVII a história "já circulava". No livro de Brás Pereira (de 1642), conservado na Biblioteca Nacional (e que copia/recria a obra de Duarte Darmas), vemos uma mulher, aparentemente ensanguentada, na base de uma torre. É a alcaidessa, sem dúvida. Recordo também que, num dos livros da Chancelaria de D. Afonso III, há um texto apócrifo que alude expressamente à lenda. É uma "acrescento" tardio e de justificação. Um processo de construção da memória muito interessante, em todo o caso.
Foi em 1981 e em 1982, se não me falha a memória. Na RTP havia os popularíssimos Jogos Sem Fronteiras. Em Moura, para animar as noites de verão criaram-se uns bem mais simples Jogos Sem Peneiras. Participavam, em renhidas disputas que tinham lugar na piscina municipal, os bairros da vila. Entrei na equipa da Salúquia, pois evidentemente.
De que me recordo neste momento? De uma célebre canção de João de Barro e António Almeida, celebrizada por Dick Farney: a saudade mata a gente...
Adelino Lyon de Castro faleceu com apenas 43 anos. Deixou-nos fotografias. São imagens de que gosto. Como esta, feita certamente nos arredores de Lisboa. Surge referido como "fotógrafo amador". Interessa mais saber se era bom ou se era mau fotógrafo. Ou, como perguntavam os gregos, viveu a vida com paixão?
Participação num livro de homenagem a Maria José Moura:
No dia 3 de abril de 1986, um
simples despacho de Teresa Patrício Gouveia, Secretária de Estado da Cultura,
criava condições para a instalação de uma rede de bibliotecas municipais. Era
preciso alguém que capitaneasse o projeto. O grupo de trabalho que então se
constituiu era coordenado por Maria José Moura, uma veterana bibliotecária que
foi a alma do que se seguiu. E o que se seguiu foi uma verdadeira revolução
cultural. Era preciso rigor administrativo, mas muito mais que isso. Era
imprescindível criatividade e energia, dentro das baias da legislação. Maria
José Moura fez da teoria prática. À mistura com uma fervorosa crença na
capacidade da juventude.
Só a conheci depois desse processo ter arrancado. Tive
a perceção de que algo único se iria passar. A minha perceção ficou,
felizmente, muito aquém da realidade futura. No dia em que comecei a
trabalhar na Câmara de Moura (em setembro de 1986), estava decidido a
avançar para uma remodelação da Biblioteca Municipal. Passei dias a fio, nesses
tempos bárbaros sem Internet nem telemóveis, até localizar Maria José Moura,
então bibliotecária da reitoria da Universidade de Lisboa. Falar com ela foi o
primeiro passo. O segundo, e decisivo, foi ter-nos explicado, com detalhe, o
âmbito do projeto. De uma remodelação conduziu-nos, firmemente – «isto faz-se
assim, perceberam?» –, para uma intervenção mais profunda e radical. A
nossa candidatura seria entregue em maio de 1987. Soubemos, algum tempo
depois, que Moura integrava o primeiro grupo de sete municípios que, a sul,
iria ter apoio. O contrato seria depois assinado e as obras iniciadas já
em 1989.
No dia em que partiu, a sua missão estava bem
cumprida. Nunca, até ao fim, a vi deixar de acreditar nas bibliotecas, na
capacidade das novas gerações, na decisiva importância da presença da Cultura
na vida dos cidadãos. Tal como nunca deixou de acreditar e de evocar o Alentejo
onde quis ficar para sempre.
A Maria José Moura, devo as primeiras e algumas das
mais importantes lições da minha carreira de funcionário público. Mais
importante, e é isso que se deve reter, o País deve imenso, ainda que possa não
o saber, a Maria José Moura.
Não foi uma corrida extraordinária, mas teve momentos bons. Pode questionar-se o estilo deste ou daquele toureiro, mas sem espetáculo e sem arrojo não há corridas. Santa paciência... E foi por isso que Roca Rey aqueceu o ambiente.
Valeu a pena ter ido? Vale sempre a pena! Pelo sítio, pelos cartéis, pela companhia. O resto deixo para os adoradores de alfaces.
Kanimambo e Obrigado, diz o pastor Solly Mahlangu. Não sei qual o grupo religioso, mas parece-me muito convincente.
Dizer obrigado é bom. Obrigado a todos os que me ajudaram a construir e a concretizar este projeto. Duarte Darmas - do cálamo ao drone está fechado. Começa-se agora a segunda parte. Todos os 57 sítios, incluindo (de novo) o Alentejo. São 55 fortalezas, de Castro Marim a Caminha. Mais Barcelos e Sintra. Para já, OBRIGADO.
Obrigado, Adolfo Teles.
Obrigado, Alberto Frias.
Obrigado, Ana Maria Borges.
Obrigado, Ana Paula Amendoeira.
Obrigado, Aníbal Costa.
Obrigado, António Ceia da Silva.
Obrigado, António Pita.
Obrigado, Arquivo Nacional da Torre do Tombo.
Obrigado, Bruno Monteiro.
Obrigado, Cafés Delta.
Obrigado, Caixa Geral de Depósitos.
Obrigado, Câmara Municipal de Barrancos.
Obrigado, Câmara Municipal de Campo Maior.
Obrigado, Câmara Municipal de Castelo de Vide.
Obrigado, Câmara Municipal de Elvas.
Obrigado, Câmara Municipal de Mértola.
Obrigado, Câmara Municipal de Mourão.
Obrigado, Câmara Municipal de Serpa.
Obrigado, CCDRA.
Obrigado, Continente.
Obrigado, Daniel Capa.
Obrigado, Diogo Vaz Pinto Mendes.
Obrigado, Direção Regional de Cultura do Alentejo.
Quase 550 quilómetros. É essa a diferença entre os dois pontos mais distantes do projeto: Castro Marim e Melgaço. Retomo, agora com um colega e amigo (Miguel Gomes Martins), uma caminhada começada a pensar em 2004, traçada em 2018 e concretizada, parcialmente, entre 2019 e 2022. Parte II do périplo de Duarte Darmas a terminar até final do próximo ano (esperamos / queremos nós).
Quando me enviaram, há dias, a imagem do telhado da igreja de Nossa Senhora da Estrela fui tomado por uma sensação de profunda tristeza. Ou de desalento, nem sei bem.
A fotografia, feita há dias a partir de um drone, mostrava o telhado da igreja num estado absolutamente miserável. Ervas e mais ervas, causando danos ao imóvel. Conheço bem a igreja da Estrela, tal como conheço o seu processo de reabilitação. Até 2013, os estrelenses recusaram-se a usar a igreja. A obra estava por terminar e os habitantes achavam, com razão, que aquela não era a sua igreja.
Contactos sucessivos com a EDIA não deram em nada. A determinada altura entrou em cena a Câmara Municipal. Que se sentiu na obrigação de assumir o custo da obra que ainda falta fazer. No dia 17 de janeiro de 2013 assinou-se o contrato para concluir a obra da igreja, custo que foi assumido pela autarquia. No dia 28 de julho do mesmo ano a procissão saiu finalmente da igreja, durante a festa da aldeia. Em abril de 2013, em plena obra, a igreja tinha passado ao estatuto de monumento classificado.
Em 2015, o PS chumbou um pedido de empréstimo para que se concluísse a reabilitação da igreja. Desconheço o que mais fizeram, desde outubro de 2017, e até hoje, no imóvel.
Esta história pouco exemplar revela tudo o que têm sido os últimos seis anos e quatro meses. Muita propaganda, muitos protocolos assinados, promessas às mãos cheias. Quase nada de obras, quase nada de concretizações de fundo, para além do que vinha do passado. Miragens e mais miragens, a praia e a estação náutica e o hotel de cinco estrelas no Carmo. Valha-lhes aquilo que a CDU concretizou no passado e que serve de cartão-de-visita turístico do concelho. Valha-lhes isso.
Sempre tivemos como claro (refiro-me a todos os executivos camarários em que trabalhei) que devemos sempre pensar na resolução dos problemas em termos de futuro. Sempre achámos que, com os escassos recursos financeiros existentes, importa que os mesmos sejam usados em investimentos com retorno e não apenas aplicados em espetáculos sem qualquer consequência no futuro e na melhoria de vida das populações.
O que é que continuo a pensar? Que é preciso trabalho de fundo, que é preciso olhar para o património e fazer dele fator de desenvolvimento (e não, não é só turismo nem arqueologia e museus). Os italianos perceberam isso há muitos anos. Que é preciso coragem para fazer projetos e os concretizar. Que é preciso conhecimento (essa parte, eles não têm mesmo), reflexão e debate. E que é urgente avançar soluções
O que aconteceu, em 2013, na Estrela foi feito noutros tempos? Sim, noutros tempos, com outra vontade e com outra determinação. É esse caminho que é preciso retomar, impedindo que os telhados dos monumentos sejam transformados em hortas.
Qual o nome de Moura na Alta Idade Média e no período islâmico? Sobre o nome romano persistem dúvidas, mas isso é outra história...
A possibilidade do nome corresponder a Lacant foi-me sugerida pela identificação de um conjunto de estampilhas cerâmicas existentes na região de Moura e que se referem à Eclesie Sancte Marie Lacantensis. Dezenas de vezes olhara as estampilhas sem me chamarem a atenção. Um estudo de uma colega espanhola lançou-me na pista do ovo de colombo. As peças de cerâmica identificavam um topónimo que era o mesmo que fontes árabes referiam (Laqant) e que eu lera uma vez e outra. Ibn Idhari, Ibn Hayyan, Ibn al-Athir falam sempre nesse sítio "misterioso", situado algures entre Beja e Aroche. Tornou-se-me claro que Lacant correspondia à minha terra. Cujo nome passa para Mura, conforme refere Ibn al-Faradi. O meu amigo Christophe Picard chamou a isso a renovação urbana do século XI.
Desde há muitos anos que me dedico ao estudo do período islâmico. E tenho um par de textos publicados (artigos, livros...) sobre a minha terra. Não são trabalhos de que me envergonhe.
Sinto é vergonha alheia quando leio textinhos onde pessoas escrevem sobre Lacant e sobre Património Histórico, sem fazerem a mínima ideia do que falam. Ainda por cima apropriando-se de temas em que não têm qualquer mérito. Coisa que não permitirei.