quarta-feira, 12 de junho de 2024

LUÍS CAMACHO (1956-2024)

Fez ontem precisamente dois meses que "encalhei" com o Luís, num restaurante na Rua da Junqueira. Ele estava com um casal amigo. Fez questão de me apresentar: "este meu amigo é quem manda nos mortos". Os amigos dele olhando para mim intrigadíssimos, e o Luís a continuar a conversa comigo, como se aquela "apresentação" fosse a mais natural do mundo. Lá desfiz o equívoco.

Tenho pelo Luís a mais profunda admiração. A carreira dele sempre me causou alguma perplexidade. De um talento fora do comum, trabalhou sempre como se "fazer carreira" não lhe interessasse por aí além. Recordo um conjunto de trabalhos seus, "Símbolos tântricos", que me pareceram absolutamente geniais, numa combinação de gestualismo e de aproximação ao Oriente. Quando, algum tempo depois, comentei com entusiasmo essa série, respondeu-me, como se fosse uma coisa distante e já sem grande interesse, "sim, fiz isso há uns anos...". Assim continuou, talentoso e discreto. Sempre longe dos holofotes.

Estava aqui a pensar que a recordação mais antiga que tenho dele é de o ver na Sociedade dos Azeites, onde o pai era motorista. Ou talvez na récita de finalistas da Escola Industrial, em 1971 (?), com ele a fazer uma rábula, vestido de chinês...

Há dois meses, despedi-me dele dizendo, depois da habitual troca de números de telemóveis, "vê lá se te deixas de tretas e apareces mesmo no Panteão; é sempre a mesma história, que sim, que sim, e depois nunca vais". Estava muito longe de imaginar que seria a última vez.

Entre muitas obras do Luís, há uma que pode ser vista com facilidade: este painel - "Os lacaios", de 1997, que está no Museu Nacional do Azulejo. A fotografia é de Pedro Ribeiro Simões.

São demasiados amigos a partir em pouco tempo. Uma grande, grande porra, tudo isto...



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