quinta-feira, 6 de junho de 2024

QUARTÉIS – 10 ANOS SE PASSARAM

Passa, no próximo dia 14, uma década sobre a data em que se deram por concluídas as obras de reabilitação dos Quartéis e da sua área envolvente. Tenho a ideia de uma tarde de sábado com calor, e com muita gente a assistir à inauguração de uma obra há muito desejada.

O edifício dos Quartéis deu pano para mangas. Estamos a falar de uma jóia da arquitetura, cujo desenho foi traçado na segunda metade do século XVII pelo sargento-mor engenheiro António Rodrigues. A obra só seria concretizada no século seguinte.

O imóvel, edificado por volta de 1725, é uma peça rara no contexto da arquitetura militar portuguesa. Na construção do edifício tiveram parte ativa os habitantes da então vila de Moura, não só com serviços pessoais, como também com o que saía do cofre do município ou ainda através da venda das pastagens dos baldios, sobre os quais os habitantes tinham direitos.

Os Quartéis têm uma forte carga simbólica. Foram construídos com um importante contributo dos mourenses. Que é o mesmo que dizer que foram feitos com o esforço e com a generosidade dos nossos antepassados. Foram os habitantes de Moura quem fez nascer este edifício. A eles pertence e pertencerá. Por isso houve tanto empenho na sua recuperação.

O que mais atrai no edifício dos Quartéis é a serena proporção do conjunto. Arcarias no piso interior, um varandim ao longo do superior. O desenho dos espaços em baixo é refletido em cima. A arquitetura vernacular no seu estado de maior despojamento e simplicidade.

A resolução da situação dos Quartéis assentou em três medidas básicas:

1) Procura de uma solução para realojamento dos habitantes;

2) Conceção e concretização de um projeto para o edifício e para a área envolvente;

3) Revitalização do edifício, com bares e com uma pequena unidade de habitação.

O processo foi longo. Já estava em curso, com a recuperação do telhado, quando dele me ocupei, em 2006. Em dado momento, algures em 2007 ou 2008, disse a um funcionário da Câmara Municipal, amigo dos tempos de juventude, “quando esta obra estiver começada, posso pensar em ir-me embora”. Disse-o convictamente, sem saber que estaria muito longe de assim ser. Entre lançamento de projetos, lançamento de empreitadas e inauguração decorreram oito anos. Nada de mais, se tivermos em conta que isso implicou também os exteriores, que houve a falência de uma empresa e a necessidade de vencer um par de Velhos do Restelo... 

            Foram anos invulgares: entre 2010 e 2017 houve uma catadupa de intervenções concluídas (Museu Gordilho, Igreja do Espírito Santo, Igreja de São Francisco, Lagar de Varas, Torre do Relógio, Pátio dos Rolins, 1ª fase do antigo Matadouro, Mouraria, Torre de Menagem, Novo posto de turismo no Castelo, Jardim das Oliveiras, Pavilhão das Cancelinhas, Centro Cultural de Santo Amador, Igreja Paroquial de Safara, Ribeira de Vale de Juncos, Ribeira da Perna Seca etc.). Tínhamos, e temos, a profunda convicção que fazer política autárquica é bem mais que rebentar orçamentos em festarolas e em intervenções inconsequentes.

            Avançar implicar ousar e inovar. Fazer mais, melhor e diferente. Dialogar – sim, com firmeza, ideias claras e sem prepotência –, intervir e concretizar. O tempo se encarrega de nos vingar. É algo que tenho sentido de forma muito nítida. Em particular agora, que se assinalam os 10 anos de conclusão desta obra. Que tem/teve a marca muito clara do estilo de trabalho da CDU.

            Agora, vai haver uma praia. Muito bem, venha de lá a novidade.


Crónica publicada em "A Planície"


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