quarta-feira, 13 de novembro de 2024

O METRO DE LISBOA E A NOVILÍNGUA

Lemos coisas assim, a propósito das novas carruagens do metro:

"Estas novas carruagens, desenvolvidas pela Siemens e Stadler, para o Metro de Lisboa, prometem melhorar a experiência de viagem dos passageiros. Com janelas mais amplas, mais espaço para facilitar entradas e saídas, e uma disposição longitudinal dos lugares sentados, está prometido mais conforto para o passageiros. Cada unidade tripla dispõe de 90 lugares sentados, dos quais 30 serão prioritários (...).

As novas carruagens do Metro, muito semelhantes ao sistema de assentos que vemos noutras cidades mundiais como Nova Iorque, dispostos longitudinalmente, prometem transformar a experiência de todos os utilizadores, uma vez que disponibiliza mais espaço para circulação no seu interior".

Para além das comparações com Nova Iorque fazerem estoirar logo o parolómetro, sublinho coisas que me fazem sempre rir:

Cada unidade tripla tem 90 lugares sentados (ena tantos!); atualmente são 168. Passam a ser 90. Queres metro? Vais de pé...

O eufemismo "mais espaço para circulação no seu interior" significa que passa a caber mais gente. De pé. Apertadinhos.


terça-feira, 12 de novembro de 2024

IMIGRANTES ILEGAIS...

Chamava-se Goyaałé, foi líder dos Apache e ficou conhecido como "Jerónimo". Nasceu em 1829, morreu em 1909. A ele, nenhum "czar das fronteiras" lhe perguntou o que achava ou deixava de achar sobre os que chegavam de fora. Ficaram com o que era dele e enfiaram-no na prisão. Quem fez isso? Os antepassados dos da dimócraci e dos iuman rraites.


segunda-feira, 11 de novembro de 2024

SÃO MARTINHO - DE SZOMBATHELY A TOURS

Nasceu no início do século IV, no que hoje é a Hungria. A sua vida cruzou todo o século IV, época de importante afirmação do Cristianismo.

Foi bispo de Tours e é conhecido como São Martinho. A sua festa celebra-se hoje.

O quadro, muito curioso, foi pintado por Doménikos Theotokópoulos - El Greco (1541-1614) c. 1597. Mostra-nos um S. Martinho ao jeito dos cavaleiros aristocratas da sua época. A pintura tem duas versões, uma maior (na National Gallery of Art, em Washington), outra mais pequena (no Art Institute, em Chicago).


domingo, 10 de novembro de 2024

RÁDIO SAUDADE - 46 A 53

Gravação de mais oito emissões. Isto dá mais trabalho do que parece...

Quem se segue?

Luís Cilia, Jacques Brel, Rui de Mascarenhas, Doris Day, Banda do Casaco, João Gilberto, Carlos do Carmo e Specials.

Qual é o "racional", como se diz agora? É não haver "racional". O "racional" é fazer aqui o que me apetece.

Daqui por umas semanas volto ao estúdio.

sábado, 9 de novembro de 2024

SÃO MARTINHO E NOSSA SENHORA DO CARMO

A noite de hoje trouxe uma série de recordações - um coleção notável de cartazes e de programas das Festas de Nossas Senhora do Carmo -, que levaram muitos de nós a verdadeiras viagens ao passado. Pelo ano de 1974 passou o ar de todas as libertações. Recordo-me de celeuma que esta cartaz provocou (o seu autor foi, se não estou em erro, António Galvão). Que "aquilo" não tinha a ver com festa, "que ideia tão disparatada etc.". 50 anos volvidos, a sugestão cinética do cartaz, que evoca todo o movimento da Festa, faz dele, na minha opinião, o melhor do todo os que foram produzidos.

Que saudades do António Galvão...


sexta-feira, 8 de novembro de 2024

O VESÚVIO, SINICAMENTE

Foi há uns meses, em Estremoz. Aproximei-me do painel de azulejos com a certeza de ser uma paisagem oriental. Isto deve ser no Japão, ou em Macau, talvez... Não era, era em Itália. A legenda diz apenas "Painel de azulejos. Paisagem com Vesúvio. Séc. XX". Um Vesúvio de contornos sínicos.

Lembrei-me daquela vez em que fui com o Cláudio ao Além-Rio, ao cerrinho da antena, mais precisamente. Era um fim de tarde brumoso e o sol estava a pôr-se. "Já viste esta sucessão de sombras nos cerros?, assim a perder de vista", disse-me ele. "Parece uma estampa japonesa". Parecia mesmo! Memórias de outros tempos, em Mértola, que às vezes me parecem quase irreais.


quinta-feira, 7 de novembro de 2024

KLEE, NO NILO

Hino ao Rio Nilo
Salve, ó Nilo!
Que brotas da terra
E vens dar vida ao Egito!
Misteriosa é a tua saída das trevas
Ao irrigares os campos criados por Rá
Tu – inesgotável – que dás de beber à terra!…
Tu crias o trigo, fazes nascer o grão,
Garantindo a riqueza dos templos.
Se paras a tua tarefa e o teu trabalho,
tudo o que existe cai no desespero.
Espalha as tuas águas, ó Nilo!

O hino terá cerca de 3.500 anos. É a celebração de um rio que foi fonte de vida. Lembrei-me dele depois de perguntar a uma amiga "de que pintor gostas?" e de ter ouvido, um pouco surpreso, como resposta, "Paul Klee!".

Paul Klee esteve no Egito um ano antes de morrer, e pintou assim o Nilo. Só os maiores conseguem fazer da complexidade coisas tremendamente simples.


quarta-feira, 6 de novembro de 2024

O FLAUTISTA DE MAR-A-LAGO

O candidato diz, num comício, que tinha um amigo com um pénis enorme.

O candidato diz, num debate, que os imigrantes comem cães e gatos da vizinhança.

Um dos animadores de um comício do candidato diz chama a Porto Rico uma ilha de lixo flutuante. E daí? Os latino votaram no candidato.

O candidato diz que a adversária é índia ou malaia ou qualquer coisa assim.

O candidato contrata prostitutas e diz que agarra as mulheres "pela rata".

AS PESSOAS NÃO QUEREM SABER.

O eleitorado pobre votou nele. Lá como cá. Porque o eleitorado não quer saber da verdade. Quer a ilusão. Um clássico...


terça-feira, 5 de novembro de 2024

LOGO À NOITE

Não, também não votaria em nenhum dos dois. Ou, melhor, talvez, em último caso e com muito esforço, votasse na senhora. Não porque seja objetivamente muito melhor, em termos de ação, mas por que ele é um perigoso tresloucado.

Ela já disse ao que que vinha:

“As commander-in-chief, I will ensure America always has the strongestmost lethal fighting force in the world”.

Não há nada de relevante sobre a mortandade em Gaza, a construção da paz, o desenvolvimento global, o combate à pobreza, etc.nem se destacou pela positiva. Nada. O que (me) ficou foi o sublinhar da mais letal força no mundo.

Se vou acompanhar os resultados logo à noite? Sim. Adoro circos.


segunda-feira, 4 de novembro de 2024

2024 - ANO DE VIRAGEM

No início de 2024 nasceu a Museus e Monumentos de Portugal EPE. Foi um processo inovador e uma forma diferente de ver a realidade dos museus, monumentos e palácios. São constatações, nada mais.

Com mais um lote de lugares colocados, ontem, a concurso, já lá vão cerca de 30 processos abertos. Dentro de semanas, deverão abrir os que faltam:

Convento de Cristo, em Tomar.

Fortaleza de Sagres, em Vila do Bispo.

Mosteiro de Alcobaça, em Alcobaça.

Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha.

Museu Nacional da Música, em Mafra.

Palácio Nacional de Mafra, em Mafra.

Panteão Nacional, em Lisboa.

Em 2025, a realidade será outra.


domingo, 3 de novembro de 2024

O MAR SEM FIM - EM BREVE, NA RTP2

Dias intensos, de preparação e de gravação de uma oratória, da autoria de Daniel Schvetz. "O mar sem sim" é uma peça inédita, baseada nos 10 cantos de "Os Lusíadas" e destinada a homenagear Vasco da Gama e Luís de Camões.
A emissão televisiva terá lugar dentro de algumas semanas.

Este projeto não teria sido possível sem o empenho da equipa da RTP2. E sem o apoio, a toda a hora, da equipa do monumento.

E sem a ativa presença e participação das seguintes entidades (por ordem alfabética):

Caixa Geral de Depósitos
Câmara Municipal de Sines
El Corte Inglés
Gelpeixe
Junta de Freguesia de S. Vicente
Rangel Logística
Servilusa













sábado, 2 de novembro de 2024

GOSTAR DE PINTURA

As recentes idas a exposições onde a pintura está no centro do que se apresenta, tem acentuado o meu gosto pela pintura e pelo desenho. Em especial, porque tenho uma triste incapacidade crónica para desenhar e para pintar. A quem devo esse gosto? A algumas das aulas de História da Arte, a professores como Cláudio Torres e Manuel Rio-Carvalho. Aos absolutamente maravilhosos programas televisivos de Edwin Mullins. Ao contacto pessoal com Rogério Ribeiro e com Moita Macedo. A uma exposição de João Penalva, há já uns bons anos. A uma ida a Madrid, para uma antológica de Velázquez. A coisas assim.

Reparo a frustração tentando fotografar. Os registos de ontem à noite são um contributo para mais um livrinho.


sexta-feira, 1 de novembro de 2024

O MUNDO ANTIGO DE PASCUAL DUARTE

O livro de Camilo José Cela foi lido há mais de 40 anos, seguramente. Não mais esqueci esta passagem, a mais tremenda de entre todas as das memórias de Pascual Duarte:

“La puerta de la cuadra que daba al corral era baja de quicio. Me agaché para entrar; no se veía nada.
—¡To, yegua!
La yegua se arrimó contra el pesebre; yo abrí la navaja com cuidado; en esos momentos, el poner un pie en falso puede sernos de unas consecuencias funestas. —¡To, yegua! Volvió a cantar el gallo en la mañana.
—¡To, yegua!
La yegua se movía hacia el rincón. Me arrimé; llegué hasta poder darle una palmada en las ancas. El animal estaba despierto, como impaciente.
—¡To, yegua!
Fue cosa de un momento. Me eché sobre ella y la clavé; la clavé lo menos veinte veces…
Tenía la piel dura; mucho más dura que la de Zacarías… Cuando de allí salí saqué el brazo dolido; la sangre me llegaba hasta el codo. El animalito no dijo ni pío; se limitaba a respirar más hondo y más de prisa, como cuando la echaban al macho”.

O homem vingava com sangue a ferida irreparável que a égua causara na sua mulher. A navalha é usada sem hesitações. A mentalidade mágica prevalece. Morta a égua, o mal é varrido.

Voltei a encontrar este mundo duro e arcaico anos mais tarde, no filme “Las hurdes. Tierra sin pan” de Luís Buñuel. Nele se retrata a violência de vidas marcadas pela miséria e pelo desconhecimento do que acontecia para lá do horizonte. A cena da festa popular, em que os cavalos passam a correr pelo meio de uma praça e o cavaleiro tem, à passagem, de arrancar a cabeça de um galo vivo, que está pendurado pelas patas, é de uma crueza que as palavras são curtas para explicar.

A essa Espanha profunda chegou, no início da década de 50 do século XX, o jornalista Eugene Smith. A reportagem, mais tarde publicada na “Life”, permanece como o testemunho poderoso de uma época. Sentimos a pobreza dos habitantes da Deleitosa (província de Cáceres) em cada uma das suas imagens. Sentimos a ferocidade da repressão franquista no trio de guardas-civis que olham para o horizonte, com uma expressão que não deciframos.

Não é que Deleitosa fosse muito diferente de outras localidades raianas – ao repassar as fotografias acho que há ali coisas parecidas com o “callejón” que separava a Calle Calvo Sotelo da Calle del Corzo, em Paymogo e há miúdas que me recordam a Aurélia, que morava na Calle Real (o que será feito da Aurélia?...) – mas Eugene Smith só houve um.

Sentados no sofá, olhando tranquilamente o écran, entre um café e a leitura do jornal, o mundo antigo de Pascual Duarte parece irreal. Pelos nossos olhos perpassam imagens de que foram testemunhas diretas três jovens artistas. As paisagens são frugais, as pessoas têm expressões de aspereza e de dor permanente.

A única coisa que nunca consegui perceber é a fantástica e precoce maturidade das suas obras. Eugene Smith tinha 31 anos quando fotografou Deleitosa. Luis Buñuel rodou “Las hurdes” aos 33 anos. Camilo José Cela escreveu La família de Pascual Duarte aos 26 anos.

As Hurdes ficam a 250 quilómetros de Moura,a Deleitosa a cerca de 230. Esse mundo antigo e violento é-nos próximo fidsicamente. E facilmente o entenderemos se, nas nossas próprias terras, recuarmos um século.

Crónica em "A Planície". A fotografia é de Eugene Smith.