Pela terceira vez, de forma surpreendente, "Chegar a casa" foi a jogo. Em concurso em Loulé, quase uma década depois de ter sido produzido.
As expectativas de apuramento eram baixíssimas. Mas o que divertiu foi ter tentado. Juro.
Pela terceira vez, de forma surpreendente, "Chegar a casa" foi a jogo. Em concurso em Loulé, quase uma década depois de ter sido produzido.
As expectativas de apuramento eram baixíssimas. Mas o que divertiu foi ter tentado. Juro.
Era com essa frase, verdadeiramente decisiva na sua coloquialidade, que o José Maria Pós-de-Mina rematava muitas das discussões que havia na vereação. Ou seja, muito bem, há ideias, há intenções, há objetivos. E agora, quem se encarrega de os concretizar. Quem acompanha, quem executa, que trata, que resolve?
Conversa e teoria, há sempre muita. Concretizar é que é tramado... Constato isso sempre que é preciso passar da teoria e das boas intenções à prática. A parte menos brilhante é a da concretização. São dias e dias de trabalho duro e, muitas vezes, solitário. Há coisas para resolver? Ponha-se, então, o chocalhinho ao gato... Pessoalmente, foi coisa que aprendi a gostar de fazer. Mesmo falhando, por vezes.
"Não teremos extrema-direita enquanto Paulo Portas fizer o pleno da demagogia e se apropriar dos temas caros a essa faixa do eleitorado. E como ninguém leva a sério José Pinto-Coelho ou Humberto Nuno Oliveira, o justicialismo populista é tomado de assalto por Marinho Pinto, aka Marinho e Pinto. O estilo Berlusconi assenta-lhe na perfeição. Ele sabe disso e gosta de se/o exibir. Ou seja, a nossa sorte é que o espaço que os fascistas poderiam ocupar é tomado por Marinho Pinto. E pelo obscuro José Inácio Faria, na realidade o grande vencedor destas eleições. Ironia das ironias, ainda temos de lhes agradecer…"
Creio que não me enganei assim muito. A estupidez fascizante chegaria poucos anos depois.
O pandeiro bate
é dentro do peito
mas ninguém percebe.
Estou lívido, gago.
Eternas namoradas
riem para mim
demonstrando os corpos,
os dentes.
Impossível perdoá-las,
sequer esquecê-las.
Deus me abandonou
no meio do rio.
Estou me afogando
peixes sulfúreos
ondas de éter
curvas curvas curvas
bandeiras de préstitos
pneus silenciosos
grandes abraços largos espaços
eternamente.
Há uns meses, um veterano professor universitário (veterano da minha idade, quero eu dizer) acusou-me de "fatalista", quando comparava o desempenho dos nossos alunos com os de outros países. E citava eu uma cena do filme "Lisboetas", de Sérgio Tréfaut.
De cada vez que temos um Web Summit, há coisas estranhas nos astros. Agora prometem tutores educativos para ajudar os alunos a compreenderem o mundo (?????). Mais uma cena de conversadatreting... Oxalá me engane. É que os chegam à Universidade escrevem cada vez pior. E têm um sentido crítico cada vez menos evidente. A culpa é deles? Não é, é nossa. E das fantasias mias ou menos inúteis que todos os dias se criam.
Participei na rodagem deste documentário em fevereiro de 2022. Espero poder vê-lo um destes dias. Entretanto, vão-me chegando notícias pelas redes sociais. Estou com curiosidade, naturalmente.
Divertido fiquei, ao constatar no IMDb (Internet Movie Database) - que surge assim explicada: IMDb is the world's most popular and authoritative source for movie, TV and celebrity content - que sou definido como star. Ora bem!
E agora, durante uns meses - até março de 2025 - alguns materiais provenientes das escavações arqueológicas no Convento do Carmo, em Moura, vão estar expostos no Museu Arqueológico do Carmo, em Lisboa.
Um trabalho notável das colegas Rute Silva e Vanessa Gaspar. Deixando de lado outas questões, a complexa realidade arqueológica do sítio merecerá bem uma monografia, a matizar com a informação histórica.
Coisas interessantes que resultaram da conferência de apresentação e que me mereceram reflexão:
* a presença de um sítio islâmico, que certamente corresponde a uma munya;
* toda a encosta a norte do castelo deverá ter tido pequenas hortas, de que parecem ser evidência a moeda de Hisham II e as cerâmicas encontradas na zona do Sete-e-Meio;
* todo esse espaço terá beneficiado das fontes do castelo, que viriam, muito mais tarde, a ser objeto de documentos de divisão da água;
* os três silos localizados têm uma capacidade de armazenamento de 7.300 litros, pelo que seria interessante ver qual a área necessária para garantir essa produção (talvez isso desse uma perspetiva sobre a dimensão da munya e pudesse dar pistas, um dia, para a origanização fundiária em toda esta zona)
* não por acaso, é aí que o Convento do Carmo se instala, muito pouco tempo após a Reconquista.
Um belo conjunto de peças a ver, e um trabalho de arqueologia a seguir.
O arranque foi no dia 28.11.2021. Tinha início o 1º. ciclo de concertos "Música no Panteão". Desde então já houve 25 concertos.
Começa agora o 4º. ciclo. Até julho de 2025 haverá mais nove concertos.
O projeto consolidou-se e fidelizou público.
Um dado importante: tem sido crucial o apoio da Antena 2 na divulgação via rádio.
Lemos coisas assim, a propósito das novas carruagens do metro:
"Estas novas carruagens, desenvolvidas pela Siemens e Stadler, para o Metro de Lisboa, prometem melhorar a experiência de viagem dos passageiros. Com janelas mais amplas, mais espaço para facilitar entradas e saídas, e uma disposição longitudinal dos lugares sentados, está prometido mais conforto para o passageiros. Cada unidade tripla dispõe de 90 lugares sentados, dos quais 30 serão prioritários (...).
As novas carruagens do Metro, muito semelhantes ao sistema de assentos que vemos noutras cidades mundiais como Nova Iorque, dispostos longitudinalmente, prometem transformar a experiência de todos os utilizadores, uma vez que disponibiliza mais espaço para circulação no seu interior".
O eufemismo "mais espaço para circulação no seu interior" significa que passa a caber mais gente. De pé. Apertadinhos.
Gravação de mais oito emissões. Isto dá mais trabalho do que parece...
Quem se segue?
Luís Cilia, Jacques Brel, Rui de Mascarenhas, Doris Day, Banda do Casaco, João Gilberto, Carlos do Carmo e Specials.
Qual é o "racional", como se diz agora? É não haver "racional". O "racional" é fazer aqui o que me apetece.
Daqui por umas semanas volto ao estúdio.
A noite de hoje trouxe uma série de recordações - um coleção notável de cartazes e de programas das Festas de Nossas Senhora do Carmo -, que levaram muitos de nós a verdadeiras viagens ao passado. Pelo ano de 1974 passou o ar de todas as libertações. Recordo-me de celeuma que esta cartaz provocou (o seu autor foi, se não estou em erro, António Galvão). Que "aquilo" não tinha a ver com festa, "que ideia tão disparatada etc.". 50 anos volvidos, a sugestão cinética do cartaz, que evoca todo o movimento da Festa, faz dele, na minha opinião, o melhor do todo os que foram produzidos.
Que saudades do António Galvão...
O hino terá cerca de 3.500 anos. É a celebração de um rio que foi fonte de vida. Lembrei-me dele depois de perguntar a uma amiga "de que pintor gostas?" e de ter ouvido, um pouco surpreso, como resposta, "Paul Klee!".
Paul Klee esteve no Egito um ano antes de morrer, e pintou assim o Nilo. Só os maiores conseguem fazer da complexidade coisas tremendamente simples.
O candidato diz, num debate, que os imigrantes comem cães e gatos da vizinhança.
Um dos animadores de um comício do candidato diz chama a Porto Rico uma ilha de lixo flutuante. E daí? Os latino votaram no candidato.
O candidato diz que a adversária é índia ou malaia ou qualquer coisa assim.
O candidato contrata prostitutas e diz que agarra as mulheres "pela rata".
AS PESSOAS NÃO QUEREM SABER.
O eleitorado pobre votou nele. Lá como cá. Porque o eleitorado não quer saber da verdade. Quer a ilusão. Um clássico...
Não, também não votaria em nenhum dos dois. Ou, melhor, talvez, em último caso e com muito esforço, votasse na senhora. Não porque seja objetivamente muito melhor, em termos de ação, mas por que ele é um perigoso tresloucado.
Ela já disse ao que que vinha:
Não há nada de relevante sobre a mortandade em Gaza, a construção da paz, o desenvolvimento global, o combate à pobreza, etc.nem se destacou pela positiva. Nada. O que (me) ficou foi o sublinhar da mais letal força no mundo.
Se vou acompanhar os resultados logo à noite? Sim. Adoro circos.
No início de 2024 nasceu a Museus e Monumentos de Portugal EPE. Foi um processo inovador e uma forma diferente de ver a realidade dos museus, monumentos e palácios. São constatações, nada mais.
Com mais um lote de lugares colocados, ontem, a concurso, já lá vão cerca de 30 processos abertos. Dentro de semanas, deverão abrir os que faltam:
Convento
de Cristo, em Tomar.
Fortaleza
de Sagres, em Vila do Bispo.
Mosteiro
de Alcobaça, em Alcobaça.
Mosteiro
de Santa Maria da Vitória, na Batalha.
Museu
Nacional da Música, em Mafra.
Palácio
Nacional de Mafra, em Mafra.
Panteão
Nacional, em Lisboa.
Em 2025, a realidade será outra.
O livro de Camilo José Cela foi lido há mais de 40 anos, seguramente. Não mais esqueci esta passagem, a mais tremenda de entre todas as das memórias de Pascual Duarte:
“La
puerta de la cuadra que daba al corral era baja de quicio. Me agaché para entrar;
no se veía nada.
—¡To, yegua!
La yegua se arrimó contra el pesebre; yo abrí la navaja com cuidado; en esos
momentos, el poner un pie en falso puede sernos de unas consecuencias funestas.
—¡To, yegua! Volvió a cantar el gallo en la mañana.
—¡To, yegua!
La yegua se movía hacia el rincón. Me arrimé; llegué hasta poder darle una
palmada en las ancas. El animal estaba despierto, como impaciente.
—¡To, yegua!
Fue cosa de un momento. Me eché sobre ella y la clavé; la clavé lo menos veinte
veces…
Tenía la piel dura; mucho más dura que la de Zacarías… Cuando de allí salí
saqué el brazo dolido; la sangre me llegaba hasta el codo. El animalito no dijo
ni pío; se limitaba a respirar más hondo y más de prisa, como cuando la echaban
al macho”.
O homem vingava com sangue a ferida irreparável que a égua causara na sua mulher. A navalha é usada sem hesitações. A mentalidade mágica prevalece. Morta a égua, o mal é varrido.
Voltei a encontrar este mundo duro e arcaico anos mais tarde, no filme “Las hurdes. Tierra sin pan” de Luís Buñuel. Nele se retrata a violência de vidas marcadas pela miséria e pelo desconhecimento do que acontecia para lá do horizonte. A cena da festa popular, em que os cavalos passam a correr pelo meio de uma praça e o cavaleiro tem, à passagem, de arrancar a cabeça de um galo vivo, que está pendurado pelas patas, é de uma crueza que as palavras são curtas para explicar.
A essa Espanha profunda chegou, no início da década de 50 do século XX, o jornalista Eugene Smith. A reportagem, mais tarde publicada na “Life”, permanece como o testemunho poderoso de uma época. Sentimos a pobreza dos habitantes da Deleitosa (província de Cáceres) em cada uma das suas imagens. Sentimos a ferocidade da repressão franquista no trio de guardas-civis que olham para o horizonte, com uma expressão que não deciframos.
Não é que Deleitosa fosse muito diferente de outras localidades raianas – ao repassar as fotografias acho que há ali coisas parecidas com o “callejón” que separava a Calle Calvo Sotelo da Calle del Corzo, em Paymogo e há miúdas que me recordam a Aurélia, que morava na Calle Real (o que será feito da Aurélia?...) – mas Eugene Smith só houve um.
Sentados no sofá, olhando tranquilamente o écran, entre um café e a leitura do jornal, o mundo antigo de Pascual Duarte parece irreal. Pelos nossos olhos perpassam imagens de que foram testemunhas diretas três jovens artistas. As paisagens são frugais, as pessoas têm expressões de aspereza e de dor permanente.
A única coisa que nunca consegui perceber é a fantástica e precoce maturidade das suas obras. Eugene Smith tinha 31 anos quando fotografou Deleitosa. Luis Buñuel rodou “Las hurdes” aos 33 anos. Camilo José Cela escreveu La família de Pascual Duarte aos 26 anos.
As Hurdes ficam a 250 quilómetros de Moura,a Deleitosa a cerca de 230. Esse mundo antigo e violento é-nos próximo fidsicamente. E facilmente o entenderemos se, nas nossas próprias terras, recuarmos um século.
Crónica em "A Planície". A fotografia é de Eugene Smith.