terça-feira, 12 de novembro de 2024
IMIGRANTES ILEGAIS...
segunda-feira, 11 de novembro de 2024
SÃO MARTINHO - DE SZOMBATHELY A TOURS
domingo, 10 de novembro de 2024
RÁDIO SAUDADE - 46 A 53
Gravação de mais oito emissões. Isto dá mais trabalho do que parece...
Quem se segue?
Luís Cilia, Jacques Brel, Rui de Mascarenhas, Doris Day, Banda do Casaco, João Gilberto, Carlos do Carmo e Specials.
Qual é o "racional", como se diz agora? É não haver "racional". O "racional" é fazer aqui o que me apetece.
Daqui por umas semanas volto ao estúdio.
sábado, 9 de novembro de 2024
SÃO MARTINHO E NOSSA SENHORA DO CARMO
A noite de hoje trouxe uma série de recordações - um coleção notável de cartazes e de programas das Festas de Nossas Senhora do Carmo -, que levaram muitos de nós a verdadeiras viagens ao passado. Pelo ano de 1974 passou o ar de todas as libertações. Recordo-me de celeuma que esta cartaz provocou (o seu autor foi, se não estou em erro, António Galvão). Que "aquilo" não tinha a ver com festa, "que ideia tão disparatada etc.". 50 anos volvidos, a sugestão cinética do cartaz, que evoca todo o movimento da Festa, faz dele, na minha opinião, o melhor do todo os que foram produzidos.
Que saudades do António Galvão...
sexta-feira, 8 de novembro de 2024
O VESÚVIO, SINICAMENTE
quinta-feira, 7 de novembro de 2024
KLEE, NO NILO
O hino terá cerca de 3.500 anos. É a celebração de um rio que foi fonte de vida. Lembrei-me dele depois de perguntar a uma amiga "de que pintor gostas?" e de ter ouvido, um pouco surpreso, como resposta, "Paul Klee!".
Paul Klee esteve no Egito um ano antes de morrer, e pintou assim o Nilo. Só os maiores conseguem fazer da complexidade coisas tremendamente simples.
quarta-feira, 6 de novembro de 2024
O FLAUTISTA DE MAR-A-LAGO
O candidato diz, num debate, que os imigrantes comem cães e gatos da vizinhança.
Um dos animadores de um comício do candidato diz chama a Porto Rico uma ilha de lixo flutuante. E daí? Os latino votaram no candidato.
O candidato diz que a adversária é índia ou malaia ou qualquer coisa assim.
O candidato contrata prostitutas e diz que agarra as mulheres "pela rata".
AS PESSOAS NÃO QUEREM SABER.
O eleitorado pobre votou nele. Lá como cá. Porque o eleitorado não quer saber da verdade. Quer a ilusão. Um clássico...
terça-feira, 5 de novembro de 2024
LOGO À NOITE
Não, também não votaria em nenhum dos dois. Ou, melhor, talvez, em último caso e com muito esforço, votasse na senhora. Não porque seja objetivamente muito melhor, em termos de ação, mas por que ele é um perigoso tresloucado.
Ela já disse ao que que vinha:
Não há nada de relevante sobre a mortandade em Gaza, a construção da paz, o desenvolvimento global, o combate à pobreza, etc.nem se destacou pela positiva. Nada. O que (me) ficou foi o sublinhar da mais letal força no mundo.
Se vou acompanhar os resultados logo à noite? Sim. Adoro circos.
segunda-feira, 4 de novembro de 2024
2024 - ANO DE VIRAGEM
No início de 2024 nasceu a Museus e Monumentos de Portugal EPE. Foi um processo inovador e uma forma diferente de ver a realidade dos museus, monumentos e palácios. São constatações, nada mais.
Com mais um lote de lugares colocados, ontem, a concurso, já lá vão cerca de 30 processos abertos. Dentro de semanas, deverão abrir os que faltam:
Convento
de Cristo, em Tomar.
Fortaleza
de Sagres, em Vila do Bispo.
Mosteiro
de Alcobaça, em Alcobaça.
Mosteiro
de Santa Maria da Vitória, na Batalha.
Museu
Nacional da Música, em Mafra.
Palácio
Nacional de Mafra, em Mafra.
Panteão
Nacional, em Lisboa.
Em 2025, a realidade será outra.
domingo, 3 de novembro de 2024
O MAR SEM FIM - EM BREVE, NA RTP2
sábado, 2 de novembro de 2024
GOSTAR DE PINTURA
sexta-feira, 1 de novembro de 2024
O MUNDO ANTIGO DE PASCUAL DUARTE
O
livro de Camilo José Cela foi lido há mais de 40 anos, seguramente. Não mais
esqueci esta passagem, a mais tremenda de entre todas as das memórias de
Pascual Duarte:
“La
puerta de la cuadra que daba al corral era baja de quicio. Me agaché para entrar;
no se veía nada.
—¡To, yegua!
La yegua se arrimó contra el pesebre; yo abrí la navaja com cuidado; en esos
momentos, el poner un pie en falso puede sernos de unas consecuencias funestas.
—¡To, yegua! Volvió a cantar el gallo en la mañana.
—¡To, yegua!
La yegua se movía hacia el rincón. Me arrimé; llegué hasta poder darle una
palmada en las ancas. El animal estaba despierto, como impaciente.
—¡To, yegua!
Fue cosa de un momento. Me eché sobre ella y la clavé; la clavé lo menos veinte
veces…
Tenía la piel dura; mucho más dura que la de Zacarías… Cuando de allí salí
saqué el brazo dolido; la sangre me llegaba hasta el codo. El animalito no dijo
ni pío; se limitaba a respirar más hondo y más de prisa, como cuando la echaban
al macho”.
O
homem vingava com sangue a ferida irreparável que a égua causara na sua mulher.
A navalha é usada sem hesitações. A mentalidade mágica prevalece. Morta a égua,
o mal é varrido.
Voltei
a encontrar este mundo duro e arcaico anos mais tarde, no filme “Las hurdes.
Tierra sin pan” de Luís Buñuel. Nele se retrata a violência de vidas marcadas
pela miséria e pelo desconhecimento do que acontecia para lá do horizonte. A
cena da festa popular, em que os cavalos passam a correr pelo meio de uma praça
e o cavaleiro tem, à passagem, de arrancar a cabeça de um galo vivo, que está
pendurado pelas patas, é de uma crueza que as palavras são curtas para
explicar.
A
essa Espanha profunda chegou, no início da década de 50 do século XX, o
jornalista Eugene Smith. A reportagem, mais tarde publicada na “Life”,
permanece como o testemunho poderoso de uma época. Sentimos a pobreza dos
habitantes da Deleitosa (província de Cáceres) em cada uma das suas imagens.
Sentimos a ferocidade da repressão franquista no trio de guardas-civis que
olham para o horizonte, com uma expressão que não deciframos.
Não
é que Deleitosa fosse muito diferente de outras localidades raianas – ao
repassar as fotografias acho que há ali coisas parecidas com o “callejón” que
separava a Calle Calvo Sotelo da Calle del Corzo, em Paymogo e há miúdas que me
recordam a Aurélia, que morava na Calle Real (o que será feito da Aurélia?...)
– mas Eugene Smith só houve um.
Sentados
no sofá, olhando tranquilamente o écran, entre um café e a leitura do jornal, o
mundo antigo de Pascual Duarte parece irreal. Pelos nossos olhos perpassam
imagens de que foram testemunhas diretas três jovens artistas. As paisagens são
frugais, as pessoas têm expressões de aspereza e de dor permanente.
A única coisa que nunca consegui perceber
é a fantástica e precoce maturidade das suas obras. Eugene Smith tinha 31 anos
quando fotografou Deleitosa. Luis Buñuel rodou “Las hurdes” aos 33 anos.
Camilo José Cela escreveu La família de Pascual Duarte aos 26 anos.
As Hurdes ficam a 250 quilómetros de Moura,a Deleitosa a cerca de 230. Esse mundo antigo e violento é-nos próximo fidsicamente. E facilmente o entenderemos se, nas nossas próprias terras, recuarmos um século.
Crónica em "A Planície". A fotografia é de Eugene Smith.
O livro de Camilo José Cela foi lido há mais de 40 anos, seguramente. Não mais esqueci esta passagem, a mais tremenda de entre todas as das memórias de Pascual Duarte:
“La
puerta de la cuadra que daba al corral era baja de quicio. Me agaché para entrar;
no se veía nada.
—¡To, yegua!
La yegua se arrimó contra el pesebre; yo abrí la navaja com cuidado; en esos
momentos, el poner un pie en falso puede sernos de unas consecuencias funestas.
—¡To, yegua! Volvió a cantar el gallo en la mañana.
—¡To, yegua!
La yegua se movía hacia el rincón. Me arrimé; llegué hasta poder darle una
palmada en las ancas. El animal estaba despierto, como impaciente.
—¡To, yegua!
Fue cosa de un momento. Me eché sobre ella y la clavé; la clavé lo menos veinte
veces…
Tenía la piel dura; mucho más dura que la de Zacarías… Cuando de allí salí
saqué el brazo dolido; la sangre me llegaba hasta el codo. El animalito no dijo
ni pío; se limitaba a respirar más hondo y más de prisa, como cuando la echaban
al macho”.
O homem vingava com sangue a ferida irreparável que a égua causara na sua mulher. A navalha é usada sem hesitações. A mentalidade mágica prevalece. Morta a égua, o mal é varrido.
Voltei a encontrar este mundo duro e arcaico anos mais tarde, no filme “Las hurdes. Tierra sin pan” de Luís Buñuel. Nele se retrata a violência de vidas marcadas pela miséria e pelo desconhecimento do que acontecia para lá do horizonte. A cena da festa popular, em que os cavalos passam a correr pelo meio de uma praça e o cavaleiro tem, à passagem, de arrancar a cabeça de um galo vivo, que está pendurado pelas patas, é de uma crueza que as palavras são curtas para explicar.
A essa Espanha profunda chegou, no início da década de 50 do século XX, o jornalista Eugene Smith. A reportagem, mais tarde publicada na “Life”, permanece como o testemunho poderoso de uma época. Sentimos a pobreza dos habitantes da Deleitosa (província de Cáceres) em cada uma das suas imagens. Sentimos a ferocidade da repressão franquista no trio de guardas-civis que olham para o horizonte, com uma expressão que não deciframos.
Não é que Deleitosa fosse muito diferente de outras localidades raianas – ao repassar as fotografias acho que há ali coisas parecidas com o “callejón” que separava a Calle Calvo Sotelo da Calle del Corzo, em Paymogo e há miúdas que me recordam a Aurélia, que morava na Calle Real (o que será feito da Aurélia?...) – mas Eugene Smith só houve um.
Sentados no sofá, olhando tranquilamente o écran, entre um café e a leitura do jornal, o mundo antigo de Pascual Duarte parece irreal. Pelos nossos olhos perpassam imagens de que foram testemunhas diretas três jovens artistas. As paisagens são frugais, as pessoas têm expressões de aspereza e de dor permanente.
A única coisa que nunca consegui perceber é a fantástica e precoce maturidade das suas obras. Eugene Smith tinha 31 anos quando fotografou Deleitosa. Luis Buñuel rodou “Las hurdes” aos 33 anos. Camilo José Cela escreveu La família de Pascual Duarte aos 26 anos.
As Hurdes ficam a 250 quilómetros de Moura,a Deleitosa a cerca de 230. Esse mundo antigo e violento é-nos próximo fidsicamente. E facilmente o entenderemos se, nas nossas próprias terras, recuarmos um século.
Crónica em "A Planície". A fotografia é de Eugene Smith.