Habib varreu a Praça da Qasbah com um gesto largo: "todo este terreiro estava cheio. Haveria talvez 15 ou 20 mil pessoas. No topo, onde está o edifício da Câmara Municipal, Bourguiba discursava à multidão".
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Em pleno mês do Ramadão, Bourguiba permitia-se cuspir fogo sobre o mês sagrado dos muçulmanos. Em 1960 isso era possível. Bourguiba clamava que o Ramadão era um prejuízo para a sociedade. E que o facto das pessoas passarem um longo período sem trabalhar levava à paralisação do país. E que tudo aquilo não passava de um enorme equívoco e de um terrível absurdo. A meio do discurso Bourguiba atreveu-se a beber uma Fanta. A multidão, entusiasmada, aplaudiu.
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Habib termina o relato quando a chuva começa a cair com mais força. A tempestade sublinha a escuridão da noite e só a luz dos candeeiros dá vida à Praça da Qasbah. O largo está deserto e é difícil imaginar a multidão e, mais ainda nos nossos dias, o discurso de Bourguiba. Horas antes cruzara a pé uma Tunis sem vivalma. Nem um carro à vista, os eléctricos parados e sem luz, um silêncio absoluto. Uma cena de filme do apocalipse. O fim do dia marca o fim do jejum durante o mês do Ramadão e as famílias reunem-se à volta da mesa, numa festa quotidiana que se prolonga durante 30 fins de tarde. Durante aquela hora a vida pública desaparece e as ruas são percorridas por um torpor que não tardará a desaparecer.
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O jejum generaliza-se nos tempos que correm. A pressão social e religiosa chegaram mais longe que o laicismo de Bourguiba. E o episódio da Fanta parece hoje longínquo e à margem da realidade. A Tunísia continua laica, mas talvez menos. Embora Bourguiba tivesse razão. Durante o Ramadão a produtividade baixa a nívies sem paralelo. E depois, assegura-me o palestiniano Sa'd Nimr, que não jejua, "as pessoas andam irritadiças, a concentração é menor, há mais acidentes de automóvel e as coisas correm mal no dia-a-dia".
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É este um mês de reflexão, tolerância e oração? Muhammad Najjar, jordano, duvida que assim seja. No fundo, para muitos é uma obrigação, cumprida com sofrimento e sem verdadeira e profunda convicção. O aspecto espiritual é desvalorizado e o compromisso social ganha o primeiro plano. Muhammad é lapidar e pragmático: "não é que as pessoas façam jejum; simplesmente deixam de comer".
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O Ramadão é um mês de jejum e oração. Os muçulmanos não devem tomar qualquer refeição entre o nascer e o por-do-sol. O final do Ramadão é marcado por uma grande festa, chamada Aid el Fitr e que este ano [2005] terá lugar a 2 de Novembro. O próximo Ramadão inicia-se a 24 de Setembro e termina a 22 de Outubro de 2006.
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Crónica publicada em A Planície de 1.11.2005
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Habib Bourguiba (1903-2000), pai da independência da Tunísia. Foi destituído por um golpe palaciano em 1987. Está sepultado na sua Monastir natal.
Tunis - Praça da Qasbah
O Ramadão começou a 21 de Agosto e prolonga-se até 19 de Setembro.
le ramadan a deux visages: un jeûne diurne suivi de repas substantiels nocturnes...
ResponderEliminarLes attaques actuelles, notamment en Tunisie, concernent non plus les graves conséquences économiques et sur la sécurité routiére ou au travail, mais sur la santé...
Car le ramadan entraine non seulement une fréquente prise de poids (2 kg en moyenne, mal vue dans nos sociétés obèses) mais aussi des complications chez les diabétiques aujourd'hui nombreux.