quinta-feira, 5 de novembro de 2009

SUBITAMENTE, CECÍLIA MEIRELES

RETRATO

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
_ Em que espelho ficou perdida
a minha face?
.

.
Subitamente, outra inspiração, com as palavras de Cecília Meireles (1901-1964). Não foi difícil encontrar uma face que exprimisse, de forma enigmática, a tristeza e a melancolia do retrato. Poderia ter recorrido aos olhos de Anna Magnani. Preferi o ar distante, de tudo e de todos, de Jean Seberg, num filme que já aqui foi citado e que nunca poderei esquecer: Bonjour tristesse.

3 comentários:

  1. Portentosa...

    Pergunto-me que memórias teria ido buscar Jean Seberg (era tão jovem na altura, )para uma interpretação tão sublime.

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  2. Portentosa, de facto.
    Não faço ideia, mas o trágico percurso posterior de Jean Seberg talvez lance luz sobre o passado.

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  3. Infelizmente para eles e egoisticamente bom para nós, os melhores artistas são os que têm a alma atormentada.

    Temos exemplos como Elis Regina, Janis Joplin, James Dean, Van Gogh, Maria Callas, Federico Garcia Llorca, até a nossa Amália Rodrigues, de certa forma, e tantos outros que continuam a ter um espaço nas nossas vidas.

    Enfim...

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