quinta-feira, 8 de julho de 2010

QUAL PLUMA VERDE E AZUL DE UM PAVÃO...

Notícia de última hora:


Um suspiro atirou-se de um balcão, numa casa de Lisboa!
Fendeu o ar,
Qual pluma verde e azul de um pavão...
E aninhou-se, suavemente,
Nos braços de um ser
Que cá em baixo o esperava...

Pensa-se ser um acto propositado,
Ditado pelo amor,
Graça constante do afecto...

Caminharam os dois na direcção do rio,
Só isso sabem dois pombos,
Únicas testemunhas deste acto tresloucado...

E quem souber do paradeiro destes dois sentidos,
Por favor guarde bem essa informação!
Nunca se deve dizer onde pára o amor...
Tal facto só se deve sentir...

E quando passarem por este balcão,
Vejam bem!
Reparem se nenhum suspiro vem voando
E se aninhe nos vossos braços...
Qual pluma verde e azul de um pavão...

Amadora, 2004

João Castela Cravo

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Nem eu sei bem porque me lembrei de colocar aqui este poema do João Cravo. Há, para além do facto de gostar do poema, quatro factos:
1) O facto do João e eu termos pertencido ao mesmo curso de licenciatura em História da Arte, no já longínquo quadriénio de 1981/1985;
2) O facto, irrefutável, do João ser um moço simpático e que passou ao lado de quezílias e disputas inúteis nesses anos da Faculdade de Letras;
3) O facto, mais surpreendente, de nunca ter imaginado que ele se interessasse por poesia e, ainda menos, que escrevesse poemas bonitos;
4) O facto da recordação dos pavões me levar em linha recta para a magia dos mosaicos bizantinos e para as evocações das aves do paraíso.
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O mosaico está no Monte Nebo (Jordânia). O poema do João pode ser ouvido em http://conta-meumconto.blogspot.com/

1 comentário:

  1. Belo mosaico e bonito poema. Palpita-me que João Cravo leu e admira Daniel Filipe e a sua "Invenção do Amor". É que ao ler esta Notícia de Última Hora é impossível não sentir a presença daquela peça maior – para mim - da literatura amorosa do século XX.
    Indícios? Aqui: “Um suspiro atirou-se de um balcão, numa casa de Lisboa!”
    E aqui: “Pensa-se ser um acto propositado”. E aqui: “Caminharam os dois na direcção do rio”. E ainda aqui: “E quem souber do paradeiro destes dois sentidos,
    Por favor guarde bem essa informação!”
    Abraço
    JCL

    Post-scriptum:

    PALAVRAS

    O que fazem, de que falam entre si quando não estou por perto?
    Conspiram, decerto.
    Ei-las,
    As palavras,
    Juntando à pressa os pontos,
    As vírgulas,
    Os traços,
    Mal pressentem na casa o som dos meus passos.

    João
    Abril de 2006

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