domingo, 14 de novembro de 2010

UMA PERGUNTA SOBRE ALTER PEDROSO

Ao regressar de Óbidos voltei a passar os olhos por uma passagem do Muqtabis II, de especial interesse para esta região no período islâmico. Por volta de 835 d.C., e numa época de grande agitação, tiveram lugar estes acontecimentos:
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[A guarnição da cidade de Beja, derrotada pelas tropas da Mahmud b. Abd al-Jabbar numa batalha, toma o caminho da fuga] por lo que salieron huyendo en franca derrota, sin volverse por nada, mientras Mahmud los acuchillaba, haciendo en ellos gran carnicería y persiguiéndoles hasta la aldea de Riba Awtah de aquel distrito (...) La noticia de este encuentro se hizo famosa, hablándose mucho de él y haciéndose conocido en aquel país como la batalla de Ubadah Bitrushah, y Mahmud tuvo ciertamente inigualable ayuda divina en su victoria, Diós sabrá con qué propósito: tras ella continuó su camino, saqueando los llanos de Beja sin que nadie se le opusiera hasta llegar a la cora de Ocsónoba.
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Os tradutores da obra, Mahmud Ali Makki e Federico Corriente lançam duas pistas importantes: numa nota referem que Riba Awtah é "topónimo no identificado, del romanandalusí RÍPA ÁWTA rípa alta, "orilla alta", seguramente en alguna de las hoces del Guadiana en esta zona, donde discurrían los fugitivos a refugiarse en Beja"; noutra, adiantam que Ubadah Bitrushah deriva do latim "oppidum petrosum "fortaleza pétrea", a través de un romandalusí ÓPIDO PETRÓSÓ, atestiguado en el topónimo Úbeda y diversos derivados del latín petra "piedra" en los Glosarios de Simonet y Asín (...) El lugar no resulta fácilmente identificable, aunque debió estar en el área al norte de Beja, como los otros antes citados.
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Desconheço se esta passagem já foi objecto de alguma abordagem por algum colega da área da História ou Arqueologia, por isso aqui lanço a hipótese desta passagem da obra de Ibn Hayyan se reportar ao castelo de Alter Pedroso, fortaleza antiga e junto à qual se situa Alter do Chão, cujo pano de muralha aponta, no seu embasamento, para cronologia em muito anterior à Reconquista.

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Imagem do castelo de Alter Pedroso
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A primeira parte do Muqtabis II é uma das obras mais célebres da historiografia do al-Andalus, escrita no século XI. Citado por Lévi-Provençal numa obra publicada em 1944, o manuscrito desaparece misteriosamente, após a morte do grande arabista, ocorrida em 1956. Em 1999, Joaquín Vallvé edita uma versão facsimilada do texto. Sabe-se então que o manuscrito estivera, todo esse tempo, nas mãos de Emilio García Gómez (1905-1995), amigo de Lévi-Provençal e que tivera, provavelmente a intenção de estudar e editar o célebre Muqtabis II/1. Em 2001, Mahmud Ali Makki e Federico Corriente publicaram, finalmente, uma tradução da obra.
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A rocambolesca história foi tema para um comentário, de grande interesse, assinado por Manuela Marín, em 1999, na revista al-Qantara e que pode ser descarregado aqui.
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Índices da al-Qantara disponíveis em: http://www.eea.csic.es/qantara/qantara.html
O Muqtabis II/1 custa cerca de 21 euros e está disponível em www.porticlibrerias.es

3 comentários:

  1. Fantástico. Continuação de boas descobertas!!!!

    Bjs

    Susana Bailarim

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  2. Caro Santiago

    Não achas que, pela conversa, pelo menos do que citas, o teatro das operações se há-de situar mais a sul? Mesmo sendo verdade o que dizes sobre a muralha de Alter Pedroso, em cuja base são visíveis os tais vestígios pré-nacionais, parece-me geograficamente distante, por um lado e, por outro, de linguística não percebo nada, tu percebes?

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  3. Caro/a colega

    De linguística nada sei. Por isso mesmo me baseei nas notas e comentários de dois filólogos.

    O teatro das operações é a norte de Beja, como Mahmud Ali Makki e Federico Corriente sublinham. E numa zona relativamente próxima de Mérida, foco de todas as lutas.

    Vale a pena leres todo o capítulo. Torna-se mais clara a lógica da proposta. Que disso mesmo não passa.

    Cumprimentos
    SM

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