segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

ACUDAM-LHE, QUE ESTÁ A ARDER!

Sempre tive um especial carinho por aqueles cripto-fascistas, cada vez menos cripto nos dias que passam. Um dos meus preferidos é um antigo colega de Faculdade, chamado Miguel Castelo-Branco, uma vezes com hífen, outras sem, que já um dia me brindou com o apodo de Quisling do Islão (podem ver aqui) e que se entretem a fazer "análises" sobre o 25 de Abril, onde se podem ler pérolas como "Quando eclodiu o golpe militar de Abril, Portugal era um país em adiantada fase integração na comunidade dos países democráticos" (ler o texto todo aqui). A onda de azedume é mais ou menos a mesma do sociólogo Alberto Gonçalves - escusam de ir à porbase, o sociólogo não tem nenhum livro publicado - que se entreteve a chamar-me alucinado nas páginas do "Correio da Manhã. Moços embirrantes, como se diz por estas bandas.
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O autor do combustões é hoje menos jovem, como todos nós. Tinha,e parece que ainda tem, uma característica curiosa: anda sempre de ar mal disposto, como se odiasse o universo. Assim parecia, pelo menos. Embirrava com os comunistas, com os socialistas, com os professores barbudos, com os freaks, com o ar abandalhado da faculdade, com as mulheres etc. A má disposição era estilo e dava um certo toque de
mal de vivre. Nada de preocupante.
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O Miguel sempre se deu ares de independente, não se sabe bem de quê, e tinha aquele tique de dar aulas de ética e verticalidade a quem passasse por perto. Ao fazer, há dias, uma pesquisa em blogues sobre escritores contemporâneos sairam imensas coisas. Uma delas fez-me rir com gosto. Dei-me conta que, em 2008, o Miguel declarava, em tom desdenhoso, nunca ter lido Lídia Jorge ou Augusto Abelaira. Muito bem, cada um lê o que quer. O pior é que três anos antes o nosso investigador aconselhara livros desses autores a dois alunos de um mestrado, numa "listagem de títulos e autores que terão marcado profundamente a nossa identidade colectiva ao longo do século passado. Aceitei o desafio e apresentei-lhes a seguinte relação, precedida por algumas explicações." (fim de citação).
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Das duas uma: ou leu e disse que não tinha lido só para dar aquele ar superior de não ligo a coisas insignificantes...
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Ou então:
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Não leu e aconselhou o que não tinha lido, fazendo bluff.
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Em qualquer dos casos, tem graça.
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Jovem investigadora ensaiando a leitura à distância
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05 Março 2008


Seis insignificâncias forçadas pelo Euro-Ultramarino

Nunca li a Lídia Jorge, nem o João de Mello, nem o Augusto Abelaira, nem o Mário Cláudio, nem a Maria Gabriela Llansol (é assim que se escreve?), nem a Teolinda Gersão (talvez me sentisse tentado se mudasse o nome para Tailandinha Gersão), nem o Nuno Júdice, nem o José Luís Peixoto e penso não ter perdido nada.

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27 Setembro 2005

Os grandes títulos em português do século XX

Dois alunos de mestrado em Estudos Coloniais e Pós-Coloniais solicitaram-me uma listagem de títulos e autores que terão marcado profundamente a nossa identidade colectiva ao longo do século passado. Aceitei o desafio e apresentei-lhes a seguinte relação, precedida por algumas explicações. Com tal exercício pretendi demonstrar que a cultura não é permanente. Varia nos modos e modas. Nada é eterno, tudo é transitório, como nós.

Revolução (1970)
1) Rui Belo. País Possível (1973) Pt. L
2) António de Spínola. Portugal e o Futuro (1973) Pt. P
3) Sophia de Mello Breyner Andresen. O Nome das Coisas (1977) Pt. L
4) Eduardo Lourenço. O Labirinto da Saudade (1978) Pt. E
5) José Gomes Ferreira. Poeta Militante (1977) Pt. L
6) Lídia Jorge. O Dia dos Prodígios (1978) Pt. L
7) Manuel Antunes. Repensar Portugal (1979) Pt. E
8) Augusto Abelaira. Sem Tecto Entre Ruínas (1979) Pt. L

9 comentários:

  1. O que será que este Dr. lê?
    Gostava tanto de saber!

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  2. Caro Santiago
    Que raio de história - que mete psicanálise e tudo - vem aqui chamar ao blogue (por sinal interessante) que anima. Não me lembro de si, mas se foi meu colega não me conheceu e ouviu dizer muito. Não posso nem quero fazer polémica sobre aquilo que de mim poderão dizer as pessoas -há quem faça e quem limite a fazer rótulos - mas sei,disso estou seguro, que esses adjectivos não se colam à minha pele. É caro que, não fazendo lóbi por nada nem por ninguém, me posso dar ao luxo de gostar e não gostar das coisas e das pessoas que são de esquerda ou de direita e vice-versa. Depois, a questão bloguística. Para mim, um blogue é uma brincadeira e sei distinguir aquilo que é do foro académico daquilo que substituiu as velhas conversas de café. Em matéria de correcção de coisas sérias e profissionais, penso sem interferência das minhas simpatias. O mesmo não faço, decididamente, no blogue. Se hoje me apetecer fazer de advogado do diabo e dizer que o Ceausescu até nem era o diabo que pintam e amanhã riscar umas linhas sobre as tiranias dos amanhãs cantantes, isso é comigo.
    Um bom ano
    Miguel

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  3. Daquilo que leio aqui verifico que o Santiago lida mal com com as críticas contra sí.

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  4. Nota-se uma certa inveja do Santiago em relação a este Miguel.

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  5. Gostava de saber qual o significado de Quisling e qual o motivo porque isso o ofendeu.

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  6. Caro anónimo 1 em 3:

    Não só não me ofendi, como me diverti a mandar o link a todos os amigos de quem me lembrei. Vidkun Quisling (1887-1945) foi um colaboracionista norueguês. Ser comparado a um nazi foi uma "première"...

    A inveja não é mesmo um dos meus muitos defeitos. Inveja, inveja, só tive do massagista da Paulina Porizkova. Em homenagem à moça até pusémos o nome dela como password no computador do Campo Arqueológico.

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  7. O Santiago escreve sobre o Miguel como se fosse um colega próximo na Faculdade, no entanto o referido Miguel diz que nem sequer o conheçe. Em que ficamos?

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  8. Minha cara/meu caro

    O que o Miguel diz é que não se lembra de mim. Uma coisa não posso negar: o Miguel tem-se mantido coerente em relação aos ideais que defendia/defende.

    Fui aluno da FLL (História da Arte - 1981/85), sensivelmente pela mesma altura em que o Miguel.

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