"Só me aconteceu isto em Bombaim", dizia o senhor para a senhora, em francês, enquanto a entrega das malas, no aeroporto de Lisboa, ia sendo sucessivamente adiada. A cena prolongou-se por mais de duas horas.
Lembrei-me desta cena ontem, quando um casal luso-francês me contou que se deslocou à GNR para participar um assalto à viatura. Uma coisa banalíssima: arrombamento da porta e alguns danos na dita. Era preciso participar o facto ("dar parte", dizia-se antigamente) por causa do seguro. Quanto tempo durou o preenchimento da papeleta? Quatro-horas-quatro. Em várias outras secretárias outros guardas completavam, afanosamente, papéis e mais papéis.
O casal luso-francês conhece bem Portugal e achou o que se passou "natural". Resignadamente "natural". Discutimos o assunto longamente. Sustentei que o problema não é da GNR, nem de uma qualquer suposta ineficácia da corporação. O cerne da questão está na malha burocrática em que vivemos e que se estende a toda a sociedade portuguesa (eu que o diga, no meu percurso de vereador...). As dificuldades passam pelas leis (leis e mais leis), pelos regulamentos, pelos impressos, pelos infindáveis relatórios, por coisas infames como o SIADAP. Quase fico surpreendido por só terem precisado de quatro horas para apresentarem uma simples queixa.
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