segunda-feira, 28 de novembro de 2011

ALJUBE - A VOZ DAS VÍTIMAS

 É uma das grandes exposições do ano de 2011.  Bem montada e bem iluminada,  com um ótimo desenho, didática e com um percurso pensado de forma inteligente.  Ainda por cima, historicamente relevante. O site da exposição clama "mais de 14.400 visitantes desde 14 de abril". Digo, com desalento, só 14.400 visitantes...

Ao longo de várias salas, organizadas em três andares da antiga prisão do Aljube, está a memória viva da resistência ao fascismo e o modo como a polícia política oprimiu e matou resistentes. É uma parte importante da história do século XX que passa por aqueles muros, por entre os sons das entrevistas e de programas radiofónicos e com excertos de programas televisivos que enquadram os caminhos da repressão. Na parte superior há mesmo uma reconstituição dos vergonhosos curros, as celas reservadas aos prisioneiros menos submissos. "Sala dois, cela um / passos dois por um", escreveria António Borges Coelho num dos seus poemas. O nobel Tomas Tranströmer também dedicou um poema à prisão (v. aqui).

Tive no Aljube uma das mais dramáticas derrotas da minha carreira docente. Costumo incluir uma passagem pela exposição nos percursos sobre o(s) património(s) da(s) cidade(s). A única vez em que  não incluí o Aljube como visita obrigatória, tendo-me limitado a sublinhar a importância de visitar o sítio, tive uma "resposta" concludente: nenhum dos alunos achou importante gastar 30 minutos a passar por ali e para ouvir a voz das vítimas. Isso só me convenceu da importância de darmos maior relevo a estas questões e da necessidade de passarmos a informação às próximas gerações. Caso contrário, deixaremos que desapareça a voz das vítimas e permitiremos que os poderes instalados apaguem a sua memória. Já temos exemplos: o que aconteceu com as sedes da PIDE, em Lisboa e no Porto, é uma vergonha nacional. Que teve a conivência de muito boa gente...

A voz das vítimas encerra no dia 31 de dezembro.

Site: http://avozdasvitimas.net/

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