Ainda Manuel Teixeira Gomes, com o calor do sul:
(...) Ao dia seguinte, ela esperava-me à janela, por trás da gelosia. Deu-me as boas tardes, e logo:
- Entre, compadrinho...
E já estava abrindo a porta. Enleado, parei e disse:
- É que eu vou dormir a sesta...
- Tire-se do sol que lhe pode fazer mal, e venha dormir a sesta comigo...
Estendida a um canto da casa, que estava muito fresca, e tinha o chão caiado, havia uma grande esteira de empreita, com o travesseiro da cama de casados. Tudo rescendia a manjerona: a casa, o travesseiro, o seio da Senhorinha... Uma hora depois, quando de lá saí, todo o ar me parecia pouco para encher o peito, e sentia bater-lhe dentro um novo coração, um coração de herói!... E no entanto o vencido fora eu.
Que tem o texto de invulgar? É que este episódio passa-se em 1872, quando o narrador tinha 12 anos. E a sua amante apenas 17, embora já casada, com um embarcadiço, e mãe. Manuel Teixeira Gomes recorda este episódio em dezembro de 1926, num texto publicado em Agosto Azul.
Casas brancas de Capri, de Henrique Pousão
Não consigo ler Manuel Teixeira Gomes sem pensar neste quadro, de Henrique Pousão (1859-1884), cheio de uma luz vibrante. Um pintor de talento, que a doença levou cedo de mais. O quadro está no Museu Soares dos Reis, no Porto:
Este é também o primeiro quadro que me vem à cabeça quando leio ou oiço alguém falar de "paisagem mediterrânica".
ResponderEliminarGostei do Presidente. Vou ler Manuel Teixeira Gomes. Quadro lindo! E combina mesmo com o trecho escrito.Aliás parece a casa descrita. Lindo!
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