terça-feira, 6 de novembro de 2012

A AGRICULTURA - MODOS DE VER

Angelus - Museu de Orsay (Paris)

Lembro-me de um ensaio de Lionello Venturi, no qual comentava a postura submissa dos camponeses de Jean-François Millet (1814-1875), no seu Angelus (1857). Foi com um sorriso que, há meses, dei algures com uma pasta de velhos papéis pertencentes a um familiar. Entre eles conservava-se um recorte de um folheto antigo, com a imagem de Silvana Mangano, no filme Arroz amargo. Imagino que a película, rodada em 1950 por Giuseppe de Santis (1917-1997), deva ter tirado o sono a muito bom adolescente daquela época...

Cem anos separam as duas obras. Mas o contraste entre o silêncio dos orantes de Millet e a estridente sensualidade de Silvana Mangano não pode ser mais óbvio. Adapta-se a ela, que não a eles, um conhecido poema de William Wordsworth (1770-1850):

The Reaper


BEHOLD her, single in the field,
Yon solitary Highland Lass!
Reaping and singing by herself;—
Stop here, or gently pass!
Alone she cuts and binds the grain,
And sings a melancholy strain;
O listen! for a vale profound
Is overflowing with the sound.


No nightingale did ever chant
More welcome notes to weary bands
Of travellers in some shady haunt
Among Arabian sands;
No sweeter voice was ever heard
In springtime from the cuckoo-bird,
Breaking the silence of the seas
Among the farthest Hebrides.

Will no one tell me what she sings?—
Perhaps the plaintive numbers flow
For old, unhappy, far-off things,
And battles long ago,
Or is it some more humble lay,
Familiar matter of to-day?
Some natural sorrow, loss, or pain,
That has been, and may be again!

Whate’er the theme, the maiden sang
As if her song could have no ending;
I saw her singing at her work,
And o’er the sickle bending;—
I listen’d till I had my fill;
And, as I mounted up the hill,
The music in my heart I bore
Long after it was heard no more.

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