sábado, 30 de novembro de 2013

NA CONTENDA

Dia de estreia na Herdade da Contenda.
Primeira participação, em novas funções, na montaria que a nossa empresa municipal organiza. Participação institucional bem entendido, que o talento cinegético (o meu) é inexistente.
Olhar, ver, ouvir e aprender. Regras básicas, nestas como em tantas outras coisas.


AL ACECHO

(Lectura de Ungaretti)

Al acecho

como un cazador,
en largas tardes,
silencioso esperas
un batir de alas
que se pierde en el viento,
sombras veloces,
fugitivas palabras del poema.

Juan Luis Panero (1942-2013) e Annibale Carracci (1560-1609) são boa companhia neste dia de caça.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

TEMPESTADE

Sob a placidez aparentes das coisas há tempestades que se formam. Em volta nada é tocado. Como na fotografia de Mitch Dobrowner, traduzido por Victor Hugo. A aparência é uma coisa, a realidade outra...


Une tempête 
Approchait, et je vis, en relevant la tête, 
Un grand nuage obscur posé sur l'horizon ; 
Aucun tonnerre encor ne grondait ; le gazon 
Frissonnait près de moi ; les branches tremblaient toutes, 
Et des passants lointains se hâtaient sur les routes. 
Cependant le nuage au flanc vitreux et roux 
Grandissait, comme un mont qui marcherait vers nous. 
On voyait dans des prés s'effarer les cavales, 
Et les troupeaux bêlants fuyaient. Par intervalles, 
Terreur des bois profonds, des champs silencieux, 
Emplissant tout à coup tout un côté des cieux, 
Une lueur sinistre, effrayante, inconnue ; 
D'un sourd reflet de cuivre illuminait la nue, 
Et passait, comme si, sous le souffle de Dieu, 
De grands poissons de flamme aux écailles de feu, 
Vastes formes dans l'ombre au hasard remuées, 
En ce sombre océan de brume et de nuées 
Nageaient, et dans les flots du lourd nuage noir 
Se laissaient par instants vaguement entrevoir !

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

A POESIA SECRETA DAS LEIS PORTUGUESAS

Vão constituir exceção à idade de aposentação as profissões de desgaste rápido. Fazem parte desse grupo as bordadeiras da ilha da Madeira. Tanto quanto consigo perceber ficam de fora a produção de tapetes de Arraiolos, rendas de bilros e afins. É assim, não é?

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

NÃO-NO-NON etc


Dia de reuniões com os trabalhadores da Câmara Municipal de Moura. Que começam a sofrer na pele os efeitos da malfadada lei das 40 horas.

Ao fim da tarde enviei a todos os trabalhadores uma cópia do documento do FMI, onde tal horário é defendido. Um dos subscritores do documento é o socialista Carlos Mulas Granados, do PSOE, partido para o qual concebeu o programa económico de Rodríguez Zapatero e do qual foi candidato nas últimas eleições.

Amanhã enviarei cópia digitalizada doutro documento não menos célebre, o da troika.

NO é um trabalho do fotógrafo Santiago Sierra, incluído numa exposição Dedicated to the Workers and Unemployed (Dedicada aos trabalhadores e desempregados).

terça-feira, 26 de novembro de 2013

SEI LÁ QUEM É O DOM JUZÉ PRIMEIRO NEM O CARAÇAS...

Passa na tv um concursinho que não via há muitos meses. Fico a ver. Surge uma pergunta sobre o terramoto de 1755, ao qual aparece ligada a figura do Marquês de Pombal. Fazem a pergunta fatal: "quem era o rei de Portugal, nessa altura? D. Sancho II? D. Afonso IV? D. José I? D. Carlos?" A moça, com licenciatura e mestrado, riu. Riu muito, muito. E não soube a resposta.

Deve ter adquirido "outras competências", como tantas vezes ouço dizer...

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

A RENÚNCIA DO EXTERMINADOR IMPLACÁVEL AKA JOÃO RIBEIRO

As autárquicas têm destas coisas. A apresentação de muitos candidatos de ocasião é acompanhada por comoventes declarações de amor à terra em que apostam. À mistura, há assim muitas denúncias e muitas, muitas ideias. João Ribeiro, candidato do PS a Setúbal, não fugiu à regra, polvilhando a sua candidatura com o mais desbragado e ultramontano reacionarismo (veja-se aqui).

Perdeu as eleições. Renunciou há dias, esquecendo todo a paixão que jurou devotar aos sadinos... Atão isso faz-se???

domingo, 24 de novembro de 2013

A CABINE

Lembro-me do filme por dois motivos: em primeiro lugar, porque é muito bom e porque o seu argumento, realmente kafkiano, é um achado; depois, porque a RTP teve a estranha ideia de o passar numa noite de Ano Novo (em 1975?). Depois de um espetáculo musical com Frank Sinatra...

O argumento é simples: um homem entra numa cabine telefónica e depois não é capaz de sair. Terror contemporâneo, sem efeitos especiais nem sangue. Esta média-metragem de Antonio Mercero (n. 1936), rodada em 1972, teve grande e merecido sucesso. Um dos co-argumentistas foi José Luis Garci (n. 1944), mais tarde oscarizado. La cabina é a escolha cinéfila da semana.

sábado, 23 de novembro de 2013

FEIRA ESCALABITANA

Dia de Congresso da ANMP. É a minha segunda participação, depois de uma já longínqua presença, como vice-presidente da Câmara de Moura, em 2006 ou 2007. Saída de Moura às 6.30, o regresso será lá para as 22. Um dia de concílio. Gravatas, moções, vedetas, jornalistas, mocassins, discursos, poses, televisões, cumprimentos, cartões de visita, telemóveis e bocejos. Vamos ter ministro à sobremesa.

A MARIA DA CONCEIÇÃO NA UNESCO

Há uns meses este texto não teria sido possível. As palavras soariam de forma equívoca…

A Profª Maria da Conceição Lopes, cuja equipa integrei até ao passado dia 20 de outubro, foi eleita para o Comité do Património Mundial na UNESCO. Uma vitória da diplomacia portuguesa, sem dúvida. É uma razão para a Paula Amendoeira, presidente da secção portuguesa do ICOMOS, celebrar. E é um motivo de orgulho para os colegas da Universidade de Coimbra, para a equipa do CEAUCP/CAM e para os amigos da Conceição. É mais um desassossego aos muitos que já soma. Mas ela prefere assim.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

DEALEY PLAZA


Esta fotografia da Dealey Plaza, em Dallas (sim, o que está assinalado no passeio é o sítio onde…) foi tirada numa quente manhã no final de dezembro de 1999. O Archaeological Institute of America organizou o seu colóquio anual no Texas. Podia ter sido convidado no ano em que o organizaram em New Orleans ou em San Francisco, mas "calhou-me" Dallas.

Da cidade guardo apenas a recordação da Dealey Plaza, da Elm Street, dos elétricos onde só viajavam negros e brancos de ar pouco próspero e das ruas desertas e onde quase ninguém andava a pé. Ah, e de comer baked beans ao pequeno-almoço...

MÉRTOLA, A FEIRA DO LIVRO E O MICRO-ONDAS

Começou ontem e vai até dia 30. Refiro-me à Feira do Livro de Mértola, iniciativa acolhedora e que envolve um significativo número de entidades locais.

O programa é vasto, amplo e diversificado, para usar uma expressão cara a um amigo.

Do ponto de vista pessoal, são dias difíceis, em especial para o micro-ondas, sujeito a testes de stress...


Programa completo em www.cm-mertola.pt

DE SOLNA A SANTO ALEIXO

Foi em dias sucessivos. Primeiro, o banho de bola que Cristiano Ronaldo deu. Depois, o encontro entre um jovem de Santo Aleixo da Restauração e um representante do Maior Clube Português. O jovem António vai representar esse clube a partir do outono de 2014. Tiveram a simpatia de me convidar a estar presente na reunião. Pela sala passou uma preocupação, a de que os aspetos educativos e formativos fora das quatro linhas têm a primazia. Oxalá que sim, porque cristianos e eusébios não surgem todos os dias. Nem em todas as décadas.


O jovem Edson, quando ainda não sabia que o mundo o conheceria, para sempre, como Pelé.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

IGREJA DE SAFARA - à procura de soluções

Foi hoje, ao fim da tarde, na Junta de Freguesia de Safara. A Câmara Municipal ofereceu à Paróquia o projeto de restauro da igreja, monumento classificado. O processo teve início em 2009, mas dificuldades de vária ordem levaram a que só já no decorrer deste ano o projeto fosse dado por concluído.

Tive o prazer de proceder à entrega do dossiê, em nome da Câmara Municipal de Moura. Não existisse "uma coisa" chamada Lei dos Compromissos e daríamos, de imediato, apoio à obra. Assim, vamos ter de fazer antes algumas acrobacias de ginástica orçamental para dar corpo a uma mais que necessária reabilitação.

Intervieram no ato Antónia Baião, Presidente da Junta de Freguesia de Safara, Mário Capa, pároco local, e o autor do blogue. Assistiram mais de duas dezenas de pessoas, facto que excedeu largamente as minhas expetativas, sobre as quais pairava a ameaça do Suécia-Portugal.


Fotografia: António Miguel Trindade em http://olhares.uol.com.br.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

DO IMEDIATISMO DA ARQUEOLOGIA

Foi em meados da década de 90, pouco depois do tema Foz Côa emergir na arqueologia nacional e internacional. O Presidente da Câmara de um município do sul de Portugal convidou-nos (ao Cláudio Torres e a mim) para opinarmos sobre uma conhecida estação arqueológica do seu concelho. A história do local era antiga e o futuro do sítio era, sobretudo, um passado cheio de peripécias.

No meio da conversa percebeu-se que o Presidente não depositava grandes esperanças em que lhe dava assessoria na área do Património. A dada altura, eu tentava explicar que uma das dificuldades daquela estação era a sua escassa visibilidade, dando o exemplo de Foz Côa: "é que as gravuras tornaram-se, sem dúvida, uma questão mediática". A técnica reagiu com veemência "peço desculpa, mas para mim o problema deste concelho é muito mais imediático; ou deitamos mão ao sítio arqueológico ou depois já é tarde…". O Presidente olhou-a obliquamente, enquanto repetia, a meia voz "mediático, minha senhora, mediático".

O problema arrastou-se, durante mais dez anos, até surgir alguém com um domínio mais pragmático dos temas do Património. E com outros conhecimentos de Língua Portuguesa.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

SIGAMOS O FRANGO, NESTE LUMINOSO PAÍS DE POETAS

Esta manhã, a caminho de Lisboa, dei com este slogan extraordinário: LUSIAVES - FRANGAMENTE BOM. O Luís Moreira, grande designer gráfico e entusiastas destas coisas, contribuiu para a minha cultura geral informando-me que havia, em Almada, a churrasqueira Frango Sinatra e, em Cascais, o Franguenstein.

Um País de Poetas é isto. A imaginação e o delírio ao serviço da palavra.

Um homem com cara de frango? Sim, L'avvocato, pintado em 1566 por Arcimboldo (1526-1593). Sigamos o frango, sigamos o frango, pelo menos até ao Nationalmuseum, de Estocolmo.

Ver - http://www.nationalmuseum.se

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

DA PALESTINA À PALESTINA

Participei anteontem num colóquio sobre a cultura palestina, que teve lugar lugar na Faculdade de Letras de Lisboa. Participarei, no próximo dia 21, noutra iniciativa integrada nas Jornadas de Solidariedade com a Palestina 2013. A organização é do MPPM.

A luta dos palestinianos pelo direito a uma pátria é um combate de todos nós. Autarcas incluídos.

Ver: www.mppm-palestina.org

terça-feira, 12 de novembro de 2013

OS PELOUROS E AS VARAS

Já não se usam as varas, símbolo do poder dos vereadores.

Mas os pelouros existem, claro está.

Eis as nossas varas, para 2013-2017, em Moura:

Santiago Macias
Coordenação
Obras por empreitada
Gestão Financeira
Área de Estudos e Projetos
Área de Projetos Comunitários
Informação

José Gonçalo Valente
Obras particulares
Planos de Ordenamento
Obras Municipais e Conservação (exceto as obras por empreitada e o trânsito)

Maria do Céu Rato
Gestão Administrativa e Recursos Humanos
Cultura e Património
Desenvolvimento Económico, Turismo, Feiras e Mercados

Joaquim Simões
Ação Social, Saúde e Educação
Trânsito
Juventude e Desporto
Espaço Internet


Estas varas são de uma Misericórdia, não de uma Câmara. Mas, do ponto de vista formal, são idênticas.

QUANTO MAIS QUENTE, MELHOR

Se não é o melhor diálogo no final de um filme, anda lá perto.

Osgood - Telefonei à mãezinha. Ficou tão feliz que até chorou. Quer que uses o vestido de noiva dela. É branco, de renda.
Jerry - Não me posso casar com o vestido da tua mãe. Ela e eu não somos feitos da mesma maneira.
Osgood - Isso pode mudar-se.
Jerry - Não pode, não. Osgood, deixa-me ser franco contigo. Não podemos casar-nos.
Osgood - Porque não?
Jerry - Primeiro, não sou uma loura natural.
Osgood - Isso não tem importância.
Jerry - Eu fumo. Estou sempre a fumar
Osgood - Não me importo.
Jerry - Tenho um passado terrível. Durante três anos vivi com um saxofonista.
Osgood - Eu perdoo-te.
Jerry - Não podemos ter crianças.
Osgood - Adotamos algumas.
Jerry - Não entendes, Osgood. Sou um homem.
Osgood - Bem, ninguém é perfeito.

Some like it hot, rodado em 1959 por Billy Wilder, é a escolha cinéfila da semana.


domingo, 10 de novembro de 2013

100 anos mais tarde


Álvaro Cunhal nasceu há 100 anos. Não se fará a história do século XX, em Portugal, sem a figura ímpar deste homem que liderou, durante décadas o Partido Comunista Português e que foi, também, um intelectual de grande craveira. Saiu derrotado no seu confronto principal, em 1975. Como tantas vezes sucedeu na História, o papel dos que perdem, e a forma como se projetam no futuro dão-lhe uma aura e uma importância acrescidas. Tenho a certeza que ele gostaria de ver o PCP de hoje, como não duvido que assistiria, com prazer, à adesão de milhares de jovens aos ideais da utopia. A utopia é decisiva. Justamente porque não se concretiza.

Vi Álvaro Cunhal de perto apenas uma vez. Foi numa visita ao Campo Arqueológico de Mértola, marcada por um ambiente de uma levíssima crispação. E pelas perguntas cirúrgicas que nos fez, com olhar penetrante e atento. Mas esse é um episódio menor no dia de hoje. Celebremos a data e o papel de Álvaro Cunhal na construção do Portugal Democrático.

BATUTANTO


O maestro no seu labirinto de notas, poder-se-ia dizer. Ontem à tarde, em Safara, tiveram a simpatia de convidar, de surpresa, o Joaquim Simões, meu colega de vereação, a dirigir a banda de Pampilhosa da Serra numa peça musical. Uma equipa multiusos na Câmara de Moura. Dirigir bandas, que é o mesmo que dizer dirigir sensibilidades, dá experiência. Disso tenho eu a certeza.

sábado, 9 de novembro de 2013

40 anos mais tarde




Quarenta anos separam as duas fotografias. O meu amigo José Maria Pós-de-Mina em 1973 e em 2013. A imagem de cima foi-lhe, ontem, oferecida pelo Dr. Francisco Cravo, seu antigo professor na Escola Industrial e Comercial de Moura.

A Comissão Organizadora da homenagem teve a simpatia de me convidar a intervir. Fiz o discurso que queria fazer e do modo que queria fazer. À minha maneira. Aos que insistem em apoucar o trabalho do José Maria como alcaide do nosso concelho deixei uma curta e conhecida frase: A inveja é a homenagem que a inferioridade presta ao mérito.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

TLÖN, UQBAR E ORBIS TERTIUS



É um dos meus contos favoritos de Borges. Já uma vez aqui o citei, por causa do absurdo desenho de uma mapa de estradas. Deixo-vos um excerto, como proposta de leitura de fim de semana.

“Algún recuerdo limitado y menguante de Herbert Ashe, ingeniero de los ferrocarriles del Sur, persiste en el hotel de Adrogué, entre las efusivas madreselvas y en el fondo ilusorio de los espejos. En vida padeció de irrealidad, como tantos ingleses; muerto, no es siquiera el fantasma que ya era entonces. Era alto y desganado y su cansada barba rectangular había sido roja. Entiendo que era viudo, sin hijos. Cada tantos años iba a Inglaterra: a visitar (juzgo por unas fotografías que nos mostró) un reloj de sol y unos robles. Mi padre había estrechado con él (el verbo es excesivo) una de esas amistades inglesas que empiezan por excluir la confidencia y que muy pronto omiten el diálogo. Solían ejercer un intercambio de libros y de periódicos; solían batirse al ajedrez, taciturnamente... Lo recuerdo en el corredor del hotel, con un libro de matemáticas en la mano, mirando a veces los colores irrecuperables del cielo.”



Three spheres II, de 1946, é o título desta litografia de Maurits Cornelis Escher (1898-1972), um artista plástico que tenho como borgesiano. O conto é de 1940.

LIBERTÉ


Sur mes cahiers d’écolier
Sur mon pupitre et les arbres
Sur le sable de neige
J’écris ton nom
Sur toutes les pages lues
Sur toutes les pages blanches
Pierre sang papier ou cendre
J’écris ton nom
Sur les images dorées
Sur les armes des guerriers
Sur la couronne des rois
J’écris ton nom
Sur la jungle et le désert
Sur les nids sur les genêts
Sur l’écho de mon enfance
J’écris ton nom
Sur les merveilles des nuits
Sur le pain blanc des journées
Sur les saisons fiancées
J’écris ton nom
Sur tous mes chiffons d’azur
Sur l’étang soleil moisi
Sur le lac lune vivante
J’écris ton nom
Sur les champs sur l’horizon
Sur les ailes des oiseaux
Et sur le moulin des ombres
J’écris ton nom
Sete vezes liberté. Mas o poema de Paul Éluard (1895-1952) não está aqui na íntegra. Veja-se o resto algures na net. Foi um dos poemas que mais impressionou a minha adolescência, no Liceu Nacional de Queluz. Acompanha-o uma fotografia da argentina Paula Luttringer (n. 1955), que realizou o projeto El lamento de los muros, justamente porque não teve aquilo sobre o que escreveu Éluard.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

ALBERT CAMUS (7.11.1913)

Au printemps, Tipasa est habitée par les dieux et les dieux parlent dans le soleil et l'odeur des absinthes, la mer cuirassée d'argent, le ciel bleu écru, les ruines couvertes de fleurs et la lumière à gros bouillons dans les amas de pierres. A certaines heures, la campagne est noire de soleil. Les yeux tentent vainement de saisir autre chose que des gouttes de lumière et de couleurs qui tremblent au bord des cils. L'odeur volumineuse des plantes aromatiques racle la gorge et suffoque dans la chaleur énorme. A peine, au fond du paysage, puis-je voir la masse noire du Chenoua qui prend racine dans les collines autour du village, et s'ébranle d'un rythme sûr et pesant pour aller s'accroupir dans la mer.

Nous arrivons par le village qui s'ouvre déjà sur la baie. Nous entrons dans un monde jaune et bleu où. nous accueille le soupir odorant et âcre de la terre d'été en Algérie.


Bem sei que o centenário é amanhã e não hoje. Mas Albert Camus, nascido em 7 de novembro de 1913, continua intemporal. O excerto que acima transcrevi é o início do pequeno e belo texto Noces à Tipasa. Não gosto mais de Tipasa por causa do texto. O sítio alberga a mais bela estação arqueológica do mundo - não vi Pompeia e talvez um dia mude opinião -, com o mar a bater nas ruínas e a massa escura da Chenoua em fundo. Estive em Tipasa na primavera de 2000. Num dia luminoso, em que o som do mar era interrompido pelo som do bombardeamento que tinha lugar na montanha ao lado. Uma situação inimaginável na placidez bucólica do texto de Camus.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

ATRAVESSANDO A LUZ

A procura de fotografias de Zambrano Gomes "levou-me", esta noite, à Fototeca Municipal de Lagos. De entre um conjunto de imagens salienta-se esta, onde a luz do dia rompe a escuridão da caverna. Em linha reta com um poema de Sylvia Plath (1932-1963), onde se atravessa a água.



Crossing the Water

Black lake, black boat, two black, cut-paper people. Where do the black trees go that drink here? Their shadows must cover Canada. A little light is filtering from the water flowers. Their leaves do not wish us to hurry: They are round and flat and full of dark advice. Cold worlds shake from the oar. The spirit of blackness is in us, it is in the fishes. A snag is lifting a valedictory, pale hand; Stars open among the lilies. Are you not blinded by such expressionless sirens? This is the silence of astounded souls.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

SAFARA, NO DIA 9

No dia 9 terá lugar o V Encontro de Bandas Filarmónicas, organizado pelo Círculo Artístico Musical Safarense.

Lá estaremos, ouvindo a banda local, mais as convidadas, que virão do Redondo e de Pampilhosa da Serra. Localidade que, por motivos não musicais, mencionei há dias, aqui no blogue.

domingo, 3 de novembro de 2013

ÀS FATURAS, CIDADÃOS!

E agoooraaaa, um magníficoooo au-to-mó-veeeellll.

O nacional-bazarismo está no poder. As faturas com número de contribuinte são senhas de concurso. Dão carros. Como aquelas senhas da Liga dos Cegos João de Deus que, em tempos, comprávamos. O carro era exibido de terra em terra, em cima de uma camioneta.

Os concursos da Liga davam um carro novo, um Opel Kadett, um Ford Escort ou coisa do género. Espero que não nos brindem com semi-novos, carros de serviço com poucos quilómetros ou usados com estofos impecáveis. Haja seriedade!

sábado, 2 de novembro de 2013

JOSÉ MARIA PÓS-DE-MINA (1998-2013)

O título deste texto é, na verdade, impreciso. José Maria Pós-de-Mina foi Presidente da Câmara entre 2 de janeiro de 1998 e 20 de outubro de 2013. Mas o seu percurso autárquico começou em 1979. E ainda não terminou. 

Esta iniciativa parte da sociedade civil. O que lhe dá mais força e significado. Reconhecimento é uma palavra adequada e justa. Sobretudo porque, nesta vida, a memória é muito curta. Dia 8 lá estarei. Convictamente e não porque "tem de ser".





CALÇADA DO POÇO DOS MOUROS


Não te deves ter dado conta que já não regressas. Os fins-de-semana são agora um pouco mais festivos, com os amigos de há vinte anos e que, ainda não o sabes, serão os mesmos daqui a trinta. Estas vindas hão-de espaçar-se. Desaparecerão de vez ou não, consoante a tua vontade. E segundo se afirme, ou não, a ligação à pátria de origem. Mas regressar mesmo, como eu pude fazer, é coisa que te está vedada. No meio do tempo, talvez percas o sotaque de origem. A influência materna é decisiva, e por isso o teu sotaque é menos vincado. Abres os eee, como é caraterístico de Mértola. Mas pouco mais.

Fiquei um pouco surpreendido que tivesses escolhido a área de informática. Nunca pensei que fosses para Ciências Humanas, claro está. O ambiente caseiro pouco contou e levaste a sério (demasiado a sério?) um espírito de liberdade e de independência que temos como lei fundamental. A Faculdade de Ciências fica a curta distância do sítio onde vivi, quase dia e noite, durante mais de quatro anos. Ainda não percebi, mas ainda é demasiado cedo para isso, por onde vai o teu caminho e o que quererás fazer na vida.

O concelho onde nasceste perdeu, nos últimos cinquenta anos, 75% da população que tinha. Sim, leste bem, 75%. Não ligues a demagogias de momento. A culpa não é da Câmara PS, tal como antes a culpa não foi da Câmara CDU. Precisamos de um pouco mais do que de momentâneas demagogias para explicar o que se passa no interior deste nosso País.

A tua casa é, agora, na Calçada do Poço dos Mouros. A calçada é uma mistura magnífica de ucranianos, guineenses, paquistaneses, brasileiros, indianos, sei lá que mais… O teu prédio é mais português. Com senhoras gordas e com varizes, com reformados que fumam e pigarreiam, com gatos, com gente que nunca dali saiu e para quem o universo não deve ir muito além da Morais Soares. O teu prédio é nessa Lisboa remediada que Lobo Antunes, melhor que ninguém, soube entender.

Por agora, a tua existência é um vaivém semanal ou quinzenal, acompanhado, na mais genuína tradição das mães portuguesas, por excursões de marmitas com comida, cujo destino tenho por duvidoso.

Para já, o teu quotidiano é isso. Uma revoada de fotocópias e de apontamentos, aulas e senhoras gordas que arfam ao subir as escadas, as guineenses que se bamboleiam Calçada do Poço dos Mouros abaixo, o olhar atento dos paquistaneses tomando conta da mercadoria, a tua pequena república de mertolenses, as marmitas de comida caseira e os telefonemas que pouco fazes. De certezas, só tenho uma, Manuel. A de que já não regressas.

Crónica publicada na edição de ontem do jornal "A Planície"