sábado, 1 de fevereiro de 2014

DEVEM AS CÂMARAS MUNICIPAIS RESTAURAR IGREJAS?

Em abril de 2013 recebi uma carta do Padre Carlos Sepúlveda Escobar, pároco da Estrela, da Póvoa e da Amareleja. Era um pedido de restauro da igreja da Póvoa de S. Miguel, com uma chamada de atenção para o estado em que se encontravam os frescos da capela-mor. Em 17 de janeiro de 2013 tivera lugar a assinatura do contrato de restauro da igreja da Estrela. Nesse ato participou o padre Carlos, manifestamente satisfeito por ver chegar ao fim um processo que se arrastou por muitos anos. Meses depois, a primeira fase dos trabalhos estava terminada, conforme o mesmo padre publicamente reconheceu.

Devem as Câmaras Municipais restaurar as igrejas? Deve uma autarquia, ainda para mais tendo como Presidente um agnóstico, gastar o dinheiro do povo recuperando espaços de culto? A pergunta pode ser fácil, a resposta não o é. Se somarmos as obras de restauro da igreja do Convento do Castelo, mais as da igreja de S. Francisco, mais as da igreja de Santo Aleixo e ainda as do Convento do Espírito Santo e as da Estrela teremos atingido uma soma na ordem dos dois milhões de euros. Isso mesmo, dois milhões de euros.

Retomo a pergunta do parágrafo anterior, respondendo-lhe. Sem dúvida que a recuperação de igrejas é fundamental. Poderíamos embarcar numa qualquer demagogia fácil – “com tanta gente a passar necessidades e gastam o dinheiro com igrejas...” – mas esse não é o nosso estilo nem essa é a nossa forma de atuação. Entendemos, pelo contrário, que a reabilitação urbana e a recuperação do património histórico-cultural fazem parte do nosso compromisso para com a população do concelho. O restauro das igrejas e a proteção de todas as nossas tradições têm a ver com a nossa vida, com aquilo que os nossos antepassados nos legaram, com o concelho que eles construíram e com a terra que um dia vamos querer deixar a quem vier a seguir. Os templos religiosos foram construídos, decerto, em tempos de grande dificuldade e quando as carências eram ainda maiores do que hoje. Ignorar esses factos é desconhecer a realidade das nossas terras. Pior ainda, fazer demagogia com as dificuldades que nos rodeiam é faltar ao respeito de quem aqui vive.

Devem as Câmaras Municipais restaurar as igrejas? Decerto que que sim. Na justa medida em que elas se assumem como espaços decisivos para a vida de uma comunidade. É possível que esta maneira de ver as coisas possa parecer estranha nas palavras de um presidente de câmara comunista.  Mas terá tanto de estranha como de convicta, na escrita e nas convicções de alguém que defende os valores da sua terra. E nesses fazem parte os de uma crença que ele não tem.

A próxima igreja a ser restaurada será a de Safara.

Artigo publicado hoje, no jornal "A Planície".



Da esquerda para a direita - Santiago Macias, António Cordeiro (da empresa Monumenta), José Maria Pós-de-Mina, Manuel Rico, Josefa Rico e o Padre Carlos Sepúlveda Escobar, no dia de assinatura do contrato de restauro da igreja da Estrela

3 comentários:

  1. Concordo plenamente com o restauro, das igrejas e demais património cultural.
    Parabéns á câmara de Moura, por verem que as raízes não se podem negligenciar, e que as memórias de um povo se criam com lutas e conquistas, nomeadamente as do seu património que vão erigindo e defendendo ás vezes por séculos.
    Boa e sóbria decisão. Restaurem-se as Igrejas .......

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  2. Gostei muito do seu texto.
    já vi escrito noutro país que fecham as igrejas e aumentam o número de mesquitas
    e as pessoas sentem-se "assustadas" porque não reconhecem a sua cultura

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