A pergunta foi feita, em
1987, por Mário Soares, então Presidente da República, a Miguel Urbano
Rodrigues, que era Presidente da Assembleia Municipal de Moura. O motivo de tão
arrasadora pergunta era o edifício dos Quartéis. O aspeto que aquela área tinha
não era particularmente convidativo (condições de salubridade mais do que
deficientes, o terreiro com ar de abandono, carros estacionados de qualquer
maneira, “avançados” que ampliavam os cubículos onde se amotoavam famílias
inteiras), mas daí a propor-se o arrasamento de um imóvel classificado… O Miguel insurgiu-se “Mário, este edifício é
uma obra-prima da arquitetura militar joanina, não pode ser demolido”. Contou-me
o episódio, anos depois, e deu-me permissão para o reproduzir.
A “ruína” não foi arrasada.
Nos últimos 15 anos, ao invés, teve lugar um programa de reabilitação dos
Quartéis de Moura. Que incluiu, primeiro, o realojamento dos habitantes, depois
a recuperação da cobertura, mais tarde a conceção de projetos para o imóvel em
si e para toda a área envolvente. Um processo longo. Que foi, sobretudo,
arrancado a ferros. Não foi só a dificuldade de financiar uma obra destas que
esteve em causa. A intervenção (edifício mais a área à sua volta) custou cerca
de 1.500.000 euros. Desse montante, a Câmara Municipal pagou cerca de 225.000
euros. O resto foi garantido pelos fundos comunitários, em resultados de
projetos defendidos com energia e postos em prática com toda a convicção.
Têm alguns setores locais
tido atitudes arrasadoras, na senda da do Dr. Mário Soares, em relação aos
processos de reabilitação patrimonial. O azedume das críticas tem atingido
tanto as obras e recuperações concluídas (Mouraria, Posto de Turismo, primeira
fase do Pátio dos Rolins, igreja de S. Francisco, Centro de Joalharia
Contemporânea, Jardim das Oliveiras, igreja do Espírito Santo, Torre de
Menagem, Torre do Relógio, Quartéis), como as que estão em curso (Matadouro,
Zona Industrial) ou as que, havendo condições financeiras, irão ser lançadas (e
a primeira desse novo lote será a Biblioteca Municipal). Confesso que, em
determinada altura, esse tipo de atitude me causou algum incómodo. Agora
divertem-me. E até as agradeço. O futuro dirá quem tinha razão. E tornará claro
quem trabalhou por amor ao concelho. E quem tinha agendas pessoais e se
limitava a procurar protagonismo. O tempo, esse grande escultor, tornará, um
dia, tudo mais claro.
Fotografia de Rui Ferreira. O texto foi publicado em "A Planície" de 1 de julho de 2014.
De muitas decisões que se veem pelo país depreende-se pouco amor aos concelhos!
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