1981-2016
No dia em que
este jornal estiver nas bancas já se terá iniciado o novo ano. “A Planície”
entrará no 35º ano desta sua segunda vida. No dia do relançamento, que bem
recordo, andava eu no 12º ano e, vedadas as possibilidades de fazer jornalismo ou
cinema, não tinha ideia nenhuma, mas nenhuma mesmo, do que quereria fazer
profissionalmente. A Vida se encarregou de me orientar... Apaixonado sem ser
correspondido (estas coisas acontecem a todos, menos aos que nunca perdem),
pertencia então à conhecida “Banda dos Corações Solitários do Sargento Pimenta”.
Uma condição que mantive durante vários anos, ganhando na Faculdade de Letras a
injusta fama de “distante”, “monge”, “solitário” e mais uns quantos epítetos
que algumas colegas (sim, elas são terríveis...) se entretinham a lançar-me.
Se agora
recordo estes dois ou três detalhes de há muitos anos é porque a profissão de
historiador me ensinou uma coisa fundamental: melhor se perspetiva o futuro se
tivermos um detalhado conhecimento do passado. Foi essa convicção, moldada pela
prática, que norteou muitas das minhas opções quando era vereador. É essa
experiência acumulada que uso nas metas que traço, em conjunto com os colegas
da vereação, procurando sempre ultrapassar problemas de fundo. As questões
estruturais prevalecem sobre as conjunturais. Daí a necessidade permanente de
lançarmos novos projetos para questões que estão por resolver. Se deixarmos que
o quotidiano tome conta de nós, andaremos atrás do quotidiano e o essencial
ficará por fazer. Este método, posto em prática de modo assertivo desde há
muitos anos, nem sempre é “simpático”. Muito menos consensual. Guardo um
arquivo de comentários produzidos sobre as intervenções promovidas pela
autarquia, em especial a partir de 2005. Estaria hoje profunda e amargamente
arrependido se tivesse/tivéssemos, em tempos, cedido à lógica do “estamos a
fazer grandes obras e devíamos era fazer pequenas obras” (quantas centenas de
vezes ouvi isto?). Uma falácia absoluta. Não há grandes obras e pequenas obras,
mas intervenções que são necessárias e outras que o não são. Sejam elas
pequenas, médias ou grandes... Em 2016, não teremos, à partida, grandes obras
(leia-se empreitadas de 2 ou 3 milhões de euros). Os cortes financeiros
limitam, hoje, a nossa capacidade. Mas haverá outras iniciativas
indispensáveis.
Numa altura
de grandes dificuldades, e vivendo nós num país pobre com mentalidade de rico, não
será 2016 um ano fácil. Não será isso motivo de desânimo. Muito menos de
desistência. Os problemas existem? Decerto, e não são poucos. Digamos então
como George Mallory, a quem perguntaram porque queria escalar o Evereste,
“because it’s there”, porque está lá. As dificuldades existem para serem
superadas. Encaro, por isso, o ano que agora começa com a tranquilidade de
sempre, à qual não é alheia a certeza da transitoriedade das coisas.
É nessa
certeza de atividade intensa que arranca 2016. Para amenizar, terminarei um
livro (escrito com mais dois colegas) e tentarei financiar outro, há muito
concluído. A ida aos trópicos – a uma cidade que me “persegue” sem cessar... –
ajudará a terminar o argumento de “Lethe”, uma ficção cinematográfica que ocupa
os poucos minutos livres. Destes devaneios pessoais irei dando conta aos
pacientes leitores destas crónicas.
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