quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

BARCO ABANDONADO

O poema, escrito por António Borges Coelho quando estava preso em Peniche, tornou-se célebre na voz de Luís Cília. O mundo de seis passos era a cela do António. Uma imagem que tento, com pouco sucesso, recriar. Nunca perguntei ao António se crê que os barcos abandonados chegaram mesmo a Portugal. Talvez na próxima vez que o encontrar.

A fotografia é de Arthur Rothstein e foi feita na China, há 70 anos.


Sou barco abandonado
Na praia ao pé do mar
E os pensamentos são
Meninos a brincar.

Ei-lo que salta bravo
E a onda verde-escura
Desfaz-se em trigo
De raiva e amargura.

Ouço o fragor da vaga
Sempre a bater no fundo,
Escrevo, leio, penso,
Passeio neste mundo
De seis passos
E o mar a bater ao fundo.

Agora é todo azul,
Com barras de cinzento,
E logo é verde, verde,
Seu brando chamamento.

Ó mar, venha a onde forte
Por cima do areal
E os barcos abandonados
Voltarão a Portugal.

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