Há sempre, haverá sempre,
coisas por resolver. Isso mesmo referi no passado dia 9, durante a apresentação
do livro “Castelo de Moura – escavações arqueológicas”. Recordei, de forma
breve, as intervenções realizadas em anos recentes (de 2008 a 2015, em
especial) e que resultaram num número substancial de trabalhos de reabilitação.
A cidade ganhou e ficou diferente? Decerto que sim.
O Centro de Joalharia
Alberto Gordilho, a renovação da Mouraria, a igreja do Espírito Santo, o novo
Posto de Turismo, o Pátio dos Rolins, a igreja de S. Francisco, os Quartéis, o
antigo Matadouro, a sala de exposições na Torre de Menagem fizeram e fazem
parte de uma plano de intervenção, levado a cabo de forma convicta. Se o
presente nos dá razão quanto a estas matérias, o futuro mais razão nos dará.
Que intervenções de
fundo temos, na cidade, por resolver? Duas, neste domínio: os conventos do
Carmo e do Castelo. Retomo, quase “ipsis verbis”, um texto publicado há meses e
que continua, infelizmente, bem atual.
Porque não avança o
Convento do Carmo? Porque não se conseguiu ainda arranjar a parceria para o
fazer. E porque os valores envolvidos – a reconversão em unidade hoteleira, por
exemplo, não é possível por menos de 5/6 milhões de euros – são significativos.
Numa altura de retração do investimento, mais difícil a tarefa se torna.
O Convento do Carmo
vai ser um hotel? Pode ser uma das possibilidades, mas não a única. Depois de
cometida a inacreditável estupidez de se ter de lá tirado o centro de saúde, é
preciso adequar o espaço a novas funções. Por favor, poupem-me a modelos de
gestão do género “centro cultural”, “universidade”, “museu”, etc.. Façam-se
contas, veja-se o País em que vivemos e calculem-se custos de manutenção antes
de se fazerem propostas disparatadas.
Reabilitar o Convento
do Castelo é uma necessidade? É verdade. Então porque não se reabilita?
Primeiro, porque o trabalho de reforço das estruturas foi feito há cerca de
seis anos e orçou em quase 500.000 euros (financiamento governamental: zero);
depois, porque é necessário desenvolver um projeto para o imóvel,
encontrando-lhe um uso adequado e financiando as suas obras. Com tantas obras a
decorrer e com a especificidade desta intervenção, isso não seria possível. Os
valores não serão inferiores a 3 milhões de euros. E recordemos que antes disto
está a recuperação do antigo Grémio da Lavoura, que defendo como a próxima
grande intervenção (com financiamento previsto numa “coisa” chamada PEDU).
São tarefas fáceis?
Não são. Por isso mesmo se tornam mais interessantes e o desafio é maior. Por
isso mesmo nos empenhamos nestes projetos.
Há propostas
concretas e fundamentadas (não me refiro a sugestões e hipóteses) para o
Convento do Carmo ou para o Convento do Castelo? Venham de lá elas. Se forem
viáveis não haverá um segundo de hesitação.
O interior do País
foi deixado à sua sorte. Cabe-nos, por isso, lutar por soluções. De forma
determinada e com conhecimento de causa. Entre outras coisas, porque estas
tarefas não podem ficar à mercê de amadorismos e de especialistas de fim de
semana.
Texto publicado hoje, em "A Planície". A tela de Leonardo Coccorante (1680-1750), hoje no Honolulu Museum of Art, mostra bem o conceito romântico da "ruína".