Recebi a notícia, friamente, por mail. Faleceu, em Madrid, Juan Zozaya Stabel-Hansen.
Conheci-o em Mértola, no início de 1987, faz agora 30 anos e tudo passou tão depressa. Era, já nessa altura, um dos nomes maiores da arqueologia islâmica. Homem fraterno e tranquilo, tratava os mais jovens como se fossem seus pares. Conhecia como poucos a arte mediterrânica e a arqueologia islâmica. Uma erudição discreta e isenta de vaidade.
Um dos museus que me causou mais impacto foi, decididamente, o Museo Arqueológico Nacional, onde estive pela primeira vez em janeiro de 1987. Enquanto o meu amigo Juan Zozaya foi subdirector da instituição visitava-o com alguma regularidade, nos tempos em que a minha vida mertolense estava a começar. Recordo que o meu castelhano com forte sotaque (muito diferente do puro andaluz do meu pai) causava surpresa ao contínuo que me atendia. Fui brindado com a pergunta "es usted argentino?" (duas vezes) e "es usted paraguayo?" (uma vez). O senhor teria tão fraco ouvido como má memória...
Recordo a grande surpresa que tive com a rica e diversificada coleção do MAN. E retenho, com clareza, a confirmada paixão que senti pela arte islâmica e pelos ambientes paradisíacos que retratava. Como nos cofres em marfim, que nunca me cansarei de admirar. Devo ao Juan inúmeras facilidades, contactos e informações. A genuína vontade em ajudar estava sempre presente. O seu percurso foi marcado pelo brilhantismo e pela generosidade. Fui-o encontrando, quase sempre em Mértola, ao longo destes anos. A vez derradeira foi há sete meses.
Fez parte de uma lista de colegas e amigos que estiveram comigo quando me candidatei à Câmara de Moura, em 2013. Quando lhe telefonei a pedir apoio, respondeu-me com a sua típica gargalhada e um "claro que sí, camarada!".
Estarás sempre entre nós, Juan.
Muchas gracias, Santiago, de toda la familia. Lo escribo yo pero va por todas, María Zozaya
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