O Convento do Carmo de Moura vai integrar o Projeto
REVIVE. O projeto REVIVE abre o património ao investimento privado para
desenvolvimento de projetos turísticos, através da realização de concursos públicos.
A
participação do Convento do Carmo neste programa de dinamização resultou dos
contactos e diligências feitas pela Câmara Municipal de Moura junto da
Secretaria de Estado do Turismo.
Esta simples notícia, difundida na passada semana
pela Câmara Municipal, provocou um conjunto desencontrado de reações. Do júbilo
à desconfiança, da esperança à provocação, de tudo um pouco fui lendo.
Vale a pena recordar de que estamos a falar e como
aqui chegámos. A igreja tem origem medieval (um olhar mais atento permite
identificar, ainda hoje, elementos arquitetónicos do primitivo edifício, que se
enquadrava no chamado “gótico alentejano”). O conjunto é uma mistura de épocas
e de campanhas de obras. A última utilização efetiva foi como hospital. A
construção de um novo equipamento (primaira asneira), sem se planear o uso
seguinte do convento (segunda asneira), deu mau resultado. Há mais de 25 anos
que todo aquele conjunto está sem utilização. Ideias disparatadas e sem sentido
(como a do pólo universitário ou a do ‘centro cultural’) cairam por terra, por
mais que evidente inviabilidade. Contactos, feitos em 2014, com o Ministério da
Admistração Interna, para a instalação de um Centro Municipal de Proteção
Civil, acabaram por se gorar.
Qual o cerne da questão? Atribuir ao edifício
funções compatíveis com a sua dignidade, garantir a vibalidade da sua
manutenção e, questão crucial, pagar a fatura. Quanto custa a recuperação do
Convento do Carmo? Algo entre quatro e cinco milhões de euros.
A inclusão no projeto REVIVE resolve o problema? Não
resolve. Cria um mecanismo que permite trabalhar soluções e financiá-las.
Porque é que o convento foi incluído neste projeto? Porque insistimos junto do
Turismo de Portugal e da Secretaria de Estado do Turismo para que tal acontecesse.
Com que argumento? Um, muito simples. A capacidade demonstrada pela Câmara
Municipal em recuperar e utilizar edifícios e espaços públicos (Quartéis,
Matadouro, antigo quartel dos bombeiros, igreja do Espírito Santo, Pátio dos Rolins,
igreja de S. Francisco, Lagar de Varas, Mouraria, castelo etc.). Em fazê-lo de
forma determinada e com reconhecida qualidade. Tem sido assim. Há outras formas
de fazer? Há, de certeza. Mas nunca vi uma só proposta nesse sentido.
De momento, o Convento do Carmo é o único imóvel no
distrito de Beja a integrar o REVIVE. Podíamos ter tido outras opções? Decerto.
Podíamos dedicar-nos à política da treta, da “coisinha piquinina”, das
fraldinhas e dos dodots.
Preferimos outro caminho. A das infraestruturas e da
reabilitação dos sítios. O antigo grémio, o Bairro do Carmo, a torre do relógio
(Amareleja), o terminal rodoviário, todos com projetos aprovados e
financiamento em vias de concretização são as intervenções que se seguem. O
Convento do Carmo surge agora como passo seguinte. E de grande dificuldade.
Podemos trocar isso por uma política de fraldinhas e de dodots? Podemos. Mas
seria uma lástima. E as gerações futuras não nos perdoariam.
O presente texto foi editado hoje, em "A Planície". A fotografia de Ruth Bernhard (1905-2006), com o seu ponto de fuga indica-nos o caminho. Sempre em frente, sempre mais além. Com determinação e com a certeza do caminho que se trilha.
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