segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

ARQUEOLOGIA AMARELEJENSE


Obras em curso na Torre do Relógio, em Amareleja. Uma imagem que me dá imenso prazer. Vemos duas sondagens, no ponto onde, imagino, se localiza a implantação do anteparo em frente à entrada. Não conheço a escavação, mas o que conheço do projeto é mais que suficiente para uma avaliação, mesmo à distância.

A chamada torre do relógio foi, temporariamente, utilizada como cemitério. As inumações coincidem com o ponto de implantação das sapatas. Um facto banalíssimo em empreitadas como esta. Sem que tenha grande prática destas circunstâncias, já tive situações do mesmo género na basílica paleocristã de Mértola, na igreja do Espírito Santo e no posto de turismo do Castelo de Moura. E, nesta última, a situação só não foi mais onerosa porque um oportuno auxílio do Campo Arqueológico de Mértola levou a que não tivéssemos de gastar dinheiro com a componente de antropologia física. Sempre a Câmara de Moura poupou uns milhares de euros...

Estas situações são pacíficas? Nem sempre. O caso da Torre do Relógio "nem conta". Recordo sempre o que aconteceu em Toledo, onde se teve de fazer uma intervenção em 40 (quarenta) hectares, o que levou a anular o projetado investimento de um hipermercado (ler aqui e aqui).

No caso da Amareleja é tudo mais fácil, até porque os pontos de escavação são poucos, e globalmente irrelevantes.

Problemas em obra? São o pão nosso de cada dia. Têm de ser ultrapassados com pragmatismo, conhecimento e um certo estilo flamboyant (no sentido que, na língua inglesa, se dá à palavra). Viver a vida sem problemas? Só nos contos de fadas.

Voltemos a Alberto Caeiro que, não dando respostas, explica as coisas.


A espantosa realidade das coisas


A espantosa realidade das coisas
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada coisa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.

Basta existir para se ser completo.

Tenho escrito bastantes poemas.
Hei-de escrever muitos mais, naturalmente.

Cada poema meu diz isto,
E todos os meus poemas são diferentes,
Porque cada coisa que há é uma maneira de dizer isto.

Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada,
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.

Outras vezes oiço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.

Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto;
Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem esforço,
Nem ideia de outras pessoas a ouvir-me pensar;
Porque o penso sem pensamentos,
Porque o digo como as minhas palavras o dizem.

Uma vez chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer coisa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade.

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