Um facto curioso, e que merece ser olhado de frente. Muitos emigrantes usam, a par da bandeira nacional, o logotipo da Federação Portuguesa de Futebol como símbolo do País de origem. Ou seja, a seleção de futebol é Portugal. Também é, naturalmente, mas que se sobreponha aos símbolos oficiais torna-se interessante. Decerto que quem está a trabalhar fora de portas admira os astros da bola, e neles se revê (a maior parte dos jogadores também trabalha no estrangeiro). Tenho a certeza que a classe política não tem a mesma popularidade.
terça-feira, 31 de julho de 2018
segunda-feira, 30 de julho de 2018
domingo, 29 de julho de 2018
A PROPÓSITO DE ARQUITETURA E PATRIMÓNIO E REABILITAÇÃO
O que se segue nada tem a ver com a discussão em torno de um certo e determinado prédio em Alfama.
Por norma, quem nunca mexeu um dedo para reabilitar o que quer que fosse, mostra grandes preocupações quando edifícios degradados e ao abandono começam a ser recuperados para uso público. Que devia ter sido assim, que devia ter sido assado, que devia pintar-se de amarelo, ou de branco, ou de azul, que devia ter sido usada madeira e não ferro ou ferro e não madeira etc. etc.
Mas o que gosto mesmo é que quando a discussão chega aos insetos lepidópteros. Ou seja, às traças. It kills me, como dizia Holden Caufield, o protagonista do livro que preciso ler de novo.
A preocupação é com a traça milimétrica ou com a traça original. À falta de régua, aqui fica uma dominical traça original.
sábado, 28 de julho de 2018
CRÓNICAS OLISIPONENSES - XII
Pode um cidadão comprar e vender casas? Pode, claro.
E gerar mais-valias? Acho que sim, nada na lei o proíbe.
E pode dirigir campanhas políticas contra a especulação imobiliária? Também pode. Não pode é a mesma pessoa fazer tudo isso, em simultâneo. Porque nesse desdobramento de personalidade alguém deixa de ser levado a sério.
Como no texto de Mário-Henrique Leiria.
O QUE ACONTECERIA
SE O ARCEBISPO DE BEJA
FOSSE AO PORTO
E DISSESSE QUE ERA NAPOLEÃO
Toda a gente acreditava que era. O presidente da Câmara nomeava-o Comendador. Iam buscar a coluna de Nelson, tiravam o Nelson e punham o arcebispo lá em cima. E davam-lhe vinho do Porto.
Então o arcebispo dizia:
- Sou a Josefa de Óbidos.
Ainda acreditavam que era, embora menos. O presidente da Câmara apertava-lhe a mão. Iam buscar o castelo de Óbidos, tiravam os óbidos e punham o arcebispo na Torre de Menagem. Além disso, davam-lhe trouxas d’ovos.
Nessa altura, convicto, o arcebispo de Beja afirmava:
- Sou o arcebispo de Beja.
Não acreditavam. Davam-lhe imediatamente uma carga de porrada. E punham-no no olho da rua. Nu.
Pintura de Carlos Botelho, um dos meus lisboetas preferidos.
FILÓCTETES P.C.
P.C.? Sim, politicamente correto. O discurso anti-guerra no final alinha por esse diapasão e foi o culminar da trama. Foi o melhor que vi em Mérida? Não, nem por sombras. Achei as interpretações pouco desenvoltas e uma encenação só com dois pontos altos: a omnipresença de Hércules nas projeções e o coro final (antes disso, as moças pareciam padecer do Mal de S. Vito...). Tenho vivas as imagens de uma Pentesilea, em 2002, dirigida por Peter Stein, e, em 2005, de uma Odisseia caribenha, sob a batuta de Derek Walcott. Foi há tanto tempo que quase me parece ter acontecido noutra vida...
Viva Mérida!
Viva Mérida!
quinta-feira, 26 de julho de 2018
COR DUAL
Uma passagem, ontem ao final da manhã, pela Direção Regional de Cultura do Alentejo, permitiu-me ver a interessante e didática exposição sobre os tapetes de Arraiolos. As peças antigas são contrastadas com recriações feitas em computador. Que se recupera? As cores originais, muito mais vivas do que hoje podemos apreciar. As cores de outrora são tão vivas que quase diríamos que um pouco do espírito Haight-Ashbury passou, em tempos, por Arraiolos.
A exposição tem como subtítulo, justamente, a ilusão da cor e pode ser vista até dia 28 de setembro.
A exposição tem como subtítulo, justamente, a ilusão da cor e pode ser vista até dia 28 de setembro.
quarta-feira, 25 de julho de 2018
O MEU AIRBUS A380 - pequena crónica aero-ferroviária
Foi um cume da parolice a excitação à volta da aterragem de um avião, que teve lugar na passada segunda-feira, no Aeroporto de Beja.
Enquanto isso acontecia, e um engarrafamento assinalável era gerado na rotunda à entrada de Beja, os utentes da CP eram enfiados dentro de um autocarro a caminho de Casa Branca. "Vamos lá mas é ver se dou com o caminho", disse-me o motorista, quando o inquiri acerca do cumprimento do horário. Pensei que fosse uma piada. Não era. Em Viana enganou-se e teve de volta para trás numa rotunda. Não havia ninguém para cobrar o bilhete e meti-me no inter-cidades. Quis pagar com multibanco. O revisor olhou-me com ar "olha para este armado em fino". Só em contado. Mainada. Aterrei em Sete Rios com quase uma hora de atraso.
Hoje, apanhei a altometora (o inter-cidades não deu sinal de vida) para Évora. O altifalante ia educadamente avisando "senhores passageiros blablabla o atraso é de 6 minutos". Depois 20 minutos, 24 minutos, 45 minutos, 51 minutos, 56 minutos. Chega-se a Évora uma hora e cinco minutos depois da hora. Os que foram para Beja tiveram menos sorte. Tinham o autocarro à espera.
Menos mal. Temos o maior avião do mundo estancionado em Beja. Essa é que é essa.
o A380 à saída de Beja (23.7.2018)
outro A380, à saída de Sete Rios (25.7.2018)
segunda-feira, 23 de julho de 2018
domingo, 22 de julho de 2018
INVEJA DOMINICAL
Anda um grupo de cidadãos durante nove dias a escavar com mil cuidados paupérrimas estruturas medievais no Castelo de Moura e depois vai-se à net e vemos os esplendorosos mosaicos que, algures em Chipre, foram escavados. A mesma quantidade de terra removida, quase sem interferências e com este conjunto posto à vista.
Em 2019 continuaremos a saga iniciada em 1989. Nesta campanha encontrámos 1 (uma) tessela. Vamos no bom caminho.
sábado, 21 de julho de 2018
PESCADOR
Fotografia feita em Mopti (Mali), na primavera de 2008. O poema é de Vinicius de Moraes. Coisas de sábado ocioso.
PESCADOR
Rio de Janeiro , 1946
Pescador, onde vais pescar esta noitada:
Nas Pedras Brancas ou na ponte da praia do Barão?
Está tão perto que eu não te vejo pescador, apenas
Ouço a água ponteando no peito da tua canoa...
Vai em silêncio, pescador, para não chamar as almas
Se ouvires o grito da procelária, volta, pescador!
Se ouvires o sino do farol das Feiticeiras, volta, pescador!
Se ouvires o choro da suicida da usina, volta, pescador!
Traz uma tainha gorda para Maria Mulata
Vai com Deus! daqui a instante a sardinha sobe
Mas toma cuidado com o cação e com o boto nadador
E com o polvo que te enrola feito a palavra, pescador!
Por que vais sozinho, pescador, que fizeste do teu remorso
Não foste tu que navalhaste Juca Diabo na cal da caieira?
Me contaram, pescador, que ele tinha sangue tão grosso
Que foi preciso derramar cachaça na tua mão vermelha, pescador.
Pescador, tu és homem, hem, pescador? que é de Palmira?
Ficou dormindo? eu gosto de tua mulher Palmira, pescador!
Ela tem ruga mas é bonita, ela carrega lata d'água
E ninguém sabe por que ela não quer ser portuguesa, pescador...
Ouve, eu não peço nada do mundo, eu só queria a estrela-d'alva
Porque ela sorri mesmo antes de nascer, na madrugada
Oh, vai no horizonte, pescador, com tua vela tu vais depressa
E quando ela vier à tona, pesca ela para mim depressa, pescador?
Ah, que tua canoa é leve, pescador; na água
Ela até me lembra meu corpo no corpo de Cora Marina
Tão grande era Cora Marina que eu até dormi nela
E ela também dormindo nem me sentia o peso, pescador...
Ah, que tu és poderoso, pescador! caranguejo não te morde
Marisco não te corta o pé, ouriço-do-mar não te pica
Ficas minuto e meio mergulhado em grota de mar adentro
E quando sobes tens peixe na mão esganado, pescador!
É verdade que viste alma na ponta da Amendoeira
E que ela atravessou a praça e entrou nas obras da igreja velha?
Ah, que tua vida tem caso, pescador, tem caso
E tu nem dás caso da tua vida, pescador...
Tu vês no escuro, pescador, tu sabes o nome dos ventos?
Por que ficas tanto tempo olhando no céu sem lua?
Quando eu olho no céu fico tonto de tanta estrela
E vejo uma mulher nua que vem caindo na minha vertigem, pescador.
Tu já viste mulher nua, pescador: um dia eu vi Negra nua
Negra dormindo na rede, dourada como a soalheira
Tinha duas roxuras nos peitos e um vasto negrume no sexo
E a boca molhada e uma perna calçada de meia, pescador...
Não achas que a mulher parece com a água, pescador?
Que os peitos dela parecem ondas sem espuma?
Que o ventre parece a areia mole do fundo?
Que o sexo parece a concha marinha entreaberta pescador?
Esquece a minha voz, pescador, que eu nunca fui inocente!
Teu remo fende a água redonda com um tremor de carícia
Ah, pescador, que as vagas são peitos de mulheres boiando à tona
Vai devagar, pescador, a água te dá carinhos indizíveis, pescador!
És tu que acendes teu cigarro de palha no isqueiro de corda
Ou é a luz da bóia boiando na entrada do recife, pescador?
Meu desejo era apenas ser segundo no leme da tua canoa
Trazer peixe fresco e manga-rosa da Ilha Verde, pescador!
Ah, pescador, que milagre maior que a tua pescaria!
Quando lanças tua rede lanças teu coração com ela pescador!
Teu anzol é brinco irresistível para o peixinho
Teu arpão é mastro firme no casco do pescado, pescador!
Toma castanha de caju torrada, toma aguardente de cana
Que sonho de matar peixe te rouba assim a fome, pescador?
Toma farinha torrada para a tua sardinha, toma, pescador
Senão ficas fraco do peito que nem teu pai Zé Pescada, pescador...
Se estás triste eu vou buscar Joaquim, o poeta português
Que te diz o verso da mãe que morreu três vezes por causa do filho na guerra
Na terceira vez ele sempre chora, pescador, é engraçado
E arranca os cabelos e senta na areia e espreme a bicheira do pé.
Não fiques triste, pescador, que mágoa não pega peixe.
Deixa a mágoa para o Sandoval que é soldado e brigou com a noiva
Que pegou brasa do fogo só para esquecer a dor da ingrata
E tatuou o peito com a cobra do nome dela, pescador.
Tua mulher Palmira é santa, a voz dela parece reza
O olhar dela é mais grave que a hora depois da tarde
Um dia, cansada de trabalhar, ela vai se estirar na enxerga
Vai cruzar as mãos no peito, vai chamar a morte e descansar...
Deus te leve, Deus te leve perdido por essa vida...
Ah, pescador, tu pescas a morte, pescador
Mas toma cuidado que de tanto pescares a morte
Um dia a morte também te pesca, pescador!
Tens um branco de luz nos teus cabelos, pescador:
É a aurora? oh, leva-me na aurora, pescador!
Quero banhar meu coração na aurora, pescador!
Meu coração negro de noite sem aurora, pescador!
Não vás ainda, escuta! eu te dou o bentinho de São Cristóvão
Eu te dou o escapulário da Ajuda, eu te dou ripa da barca santa
Quando Vênus sair das sombras não quero ficar sozinho
Não quero ficar cego, não quero morrer apaixonado, pescador!
Ouve o canto misterioso das águas no firmamento...
É a alvorada, pescador, a inefável alvorada
A noite se desincorpora, pescador, em sombra
E a sombra em névoa e madrugada, pescador!
Vai, vai, pescador, filho do vento, irmão da aurora
És tão belo que nem sei se existes, pescador!
Teu rosto tem rugas para o mar onde deságua
O pranto com que matas a sede de amor do mar!
Apenas te vejo na treva que se desfaz em brisa
Vais seguindo serenamente pelas águas, pescador
Levas na mão a bandeira branca da vela enfunada
E chicoteias com o anzol a face invisível do céu.
sexta-feira, 20 de julho de 2018
GORJETA ZERO
A história foi-me contada por um jovem algarvio, que trabalhou no ano passado na Quinta do Lago. Foi bell boy e valet numa unidade hoteleira luxuosa. O ordenado era fraco, mas as gorjetas compensavam largamente. Duplicavam o vencimento. As notas de 10 ou de 20 eram coisa corrente. O sítio era frequentado por astros da bola lusitanos. Com esses encheste os bolsos, provoquei. Tive como resposta uma sonora gargalhada. Nada, nem uma moeda de dez cêntimos. Desfiou o nome de quatro ou cinco estrelas. "Quanto mais conhecidos, pior se portam. São de uma total arrogância". Fiquei esclarecido. Embora já poucas dúvidas me restassem, confesso.
quinta-feira, 19 de julho de 2018
CHIQUE A VALER
Causaram alguma indignação as abjetas declarações de Miguel Guedes de Sousa, CEO da Amorim Luxury. Alguma, mas não muita, que o facebook anda cheio de supostas frases de Ghandi, de Mandela e de Einstein, à mistura com muitos elogios à presidente da Croácia, pelo seu suposto despojamento.
Que disse a criatura ao Expresso? Que não podemos ter pessoas da classe média ou média baixa a morar em prédios classificados. É tanta a arrogância, que já nem disfarçam. O que precisam os da luxury? Um povo-cenário, alegrote e que tenha uma vivência genuína, que cante o fado mas, POR FAVOR!, que não se misture...
Criaturas como Miguel Guedes de Sousa merecem-me o mais absoluto desprezo. E levam-me a combater em sentido contrário.
Em Moura, o Pátio dos Rolins (um edifício classificado, justamente) foi destinado a habitação social. As casas foram entregues no verão de 2017, sem pompa nem circunstância. Qual a lógica? Muito simples. Se o edifício podia ter funções de habitação social enquanto estava degradado, também o deveria ter depois de recuperado. Os mais desfavorecidos podem e devem viver em palácios ou palacetes. Era essa a nossa convicção. Foi isso que a nossa equipa fez.
terça-feira, 17 de julho de 2018
LUGAR DE PISTA
post 100% mourense e só para a geração 50+
Em tempos, a praça de touros era transformada em "sala de espetáculos". Havia bailes pelos santos populares, pela Santa Maria e no final da festa da padroeira. Nessas alturas, a praça de touros ganhava o nome de Esplanada Salúquia. O palco costumava ficar em frente à entrada e esta fazia-se pela porta por onde os cavaleiros entravam na arena. Havia dois tipos de bilhetes com direito a lugar sentado: geral (nas bancadas) e mesas com cadeiras (na arena). Estes últimos eram os mais caros. Mas havia também os lugares de pista, um requinte que permitia que se ficasse no redondel, mas de pé. Posso estar enganado, ou a exagerar, mas era a solução preferida de boémios, farristas e conquistadores, aqueles que se alheavam do espectáculo e ficavam a beber, junto ao bar, a conversar ou a fazer olhos de carneiro mal morto às mourenses mais belas.
Em tempos, a praça de touros era transformada em "sala de espetáculos". Havia bailes pelos santos populares, pela Santa Maria e no final da festa da padroeira. Nessas alturas, a praça de touros ganhava o nome de Esplanada Salúquia. O palco costumava ficar em frente à entrada e esta fazia-se pela porta por onde os cavaleiros entravam na arena. Havia dois tipos de bilhetes com direito a lugar sentado: geral (nas bancadas) e mesas com cadeiras (na arena). Estes últimos eram os mais caros. Mas havia também os lugares de pista, um requinte que permitia que se ficasse no redondel, mas de pé. Posso estar enganado, ou a exagerar, mas era a solução preferida de boémios, farristas e conquistadores, aqueles que se alheavam do espectáculo e ficavam a beber, junto ao bar, a conversar ou a fazer olhos de carneiro mal morto às mourenses mais belas.
segunda-feira, 16 de julho de 2018
O GOLO MARCADO POR MBAPPÉ FOI UM ESPINHO CRAVADO NA GARGANTA DE KOLINDA GRABAR-KITAROVIC
Para os mais novos o título é, no mínimo, enigmático. Para quem se recorda da A.O.C. não o é tanto. Ainda que no linguajar maoísta destes o alvo do espinho fosse outra pessoa.
Bref, não tenho a mínima simpatia pelo regime político croata. E vi com alívio a vitória gaulesa. Ao menos, refreou a paranóia nacionalista.
KIKO - PALETA MOURENSE
Exposição de pintura do meu amigo Francisco Fachadas Marques, no âmbito das Festas de Nossa Senhora do Carmo. Mais uma belíssima mostra. A nossa terra, reinterpretada pelas cores de um muito jovem autor.
O quadro que aqui se reproduz pode, a partir de hoje, ser exposto com a referência "coleção particular". Perspetiva que muito me apraz.
domingo, 15 de julho de 2018
AZEITONAS
As oliveiras são árvores sagradas no Mediterrâneo. Recordo, neste domingo da Festa de Moura, uma passagem de um tratado de agricultura do período islâmico a respeito da preparação das azeitonas para consumo caseiro: "das frescas e verdes umas se partem com pedra lisa ou com um pau de forma que cada caroço delas fique quebrado e estas se chamam partidas; a outras fazem-se três golpes ao alto e são chamadas abertas". Este procedimento corresponde aos tipos de preparação de azeitona que ainda hoje se praticam no Alentejo e que popularmente se designam como pisadas e arretalhadas. A principal diferença reside nos temperos utilizados, sensivelmente modificados desde aquela época.
A expressiva descrição que transcrevi está no Kitab al-Filaha, de Ibn al-Awwam, escrito no final do século XII. Chegou até nós como Libro de agricultura e foi traduzido por José A. Banqueri e editado em Madrid em 1802, pela Imprenta Real. O quadro é de Henri Matisse (1869-1954). Estas oliveiras em Colliure devem datar de 1906, e estão hoje no Met, em Nova Iorque.
A expressiva descrição que transcrevi está no Kitab al-Filaha, de Ibn al-Awwam, escrito no final do século XII. Chegou até nós como Libro de agricultura e foi traduzido por José A. Banqueri e editado em Madrid em 1802, pela Imprenta Real. O quadro é de Henri Matisse (1869-1954). Estas oliveiras em Colliure devem datar de 1906, e estão hoje no Met, em Nova Iorque.
sábado, 14 de julho de 2018
ANTÓNIO BORGES COELHO - PRÉMIO UNIVERSIDADE DE LISBOA 2018
Do site do Centro de História da Universidade de Lisboa:
O Prémio Universidade de Lisboa 2018 foi atribuído, no passado dia 4 de Julho, a António Borges Coelho, investigador emérito do Centro de História da Universidade de Lisboa e Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Citando a deliberação do júri, "António Borges Coelho é um nome singular na historiografia portuguesa contemporânea. A sua obra incide sobre tópicos tão diversos como as raízes da expansão portuguesa, a revolução de 1383, a história da Iniquisição, a multissecular presença árabe no que é hoje Portugal, e a historiografia portuguesa. Este trabalho, inovador nos domínios tratados, culmina numa História de Portugal em diversos volumes, que prossegue, em que o autor cumulativamente delineia uma interpretação global do percurso histórico nacional, das origens à actualidade. Foi, a partir de 1974, professor na Faculdade de Letras de Lisboa, onde atingiu a cátedra. Formou, ao longo de décadas, centenas de alunos, nos quais deixou marcas, pelas suas qualidades humanas e pedagógicas. Para além da relevância do seu percurso científico, muitas vezes prosseguido em circunstâncias adversas, o júri sublinhou a grande erudição e acessibilidade da sua obra, e o seu comprometimento com a cultura e língua, evidenciado no modo como integra na narrativa dos acontecimentos a carcterização detalhada de instituições, informações demográficas, e estruturas económicas, sociais e culturais."
Gosto em especial da frase "formou, ao longo de décadas, centenas de alunos, nos quais deixou marcas, pelas suas qualidades humanas e pedagógicas". Não foi meu professor, do ponto de vista formal, mas foi-o de muitas outras formas.
Ler este início do seu livro Raízes da expansão portuguesa, aos 16 anos, deixou-me marcas inapagáveis:
O Prémio Universidade de Lisboa 2018 foi atribuído, no passado dia 4 de Julho, a António Borges Coelho, investigador emérito do Centro de História da Universidade de Lisboa e Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Citando a deliberação do júri, "António Borges Coelho é um nome singular na historiografia portuguesa contemporânea. A sua obra incide sobre tópicos tão diversos como as raízes da expansão portuguesa, a revolução de 1383, a história da Iniquisição, a multissecular presença árabe no que é hoje Portugal, e a historiografia portuguesa. Este trabalho, inovador nos domínios tratados, culmina numa História de Portugal em diversos volumes, que prossegue, em que o autor cumulativamente delineia uma interpretação global do percurso histórico nacional, das origens à actualidade. Foi, a partir de 1974, professor na Faculdade de Letras de Lisboa, onde atingiu a cátedra. Formou, ao longo de décadas, centenas de alunos, nos quais deixou marcas, pelas suas qualidades humanas e pedagógicas. Para além da relevância do seu percurso científico, muitas vezes prosseguido em circunstâncias adversas, o júri sublinhou a grande erudição e acessibilidade da sua obra, e o seu comprometimento com a cultura e língua, evidenciado no modo como integra na narrativa dos acontecimentos a carcterização detalhada de instituições, informações demográficas, e estruturas económicas, sociais e culturais."
Gosto em especial da frase "formou, ao longo de décadas, centenas de alunos, nos quais deixou marcas, pelas suas qualidades humanas e pedagógicas". Não foi meu professor, do ponto de vista formal, mas foi-o de muitas outras formas.
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Ler este início do seu livro Raízes da expansão portuguesa, aos 16 anos, deixou-me marcas inapagáveis:
Ao sul e leste o Saará, a oeste o Atlântico, a norte o Mediterrâneo, a oriente desertos e a estrada natural do norte de África, a estrada das invasões, das especiarias e do Islão: eis Marrocos.
No mapa parece um cavalo deitado voltado para o Mediterrâneo com a garupa nervosa bem recortada sobre o Atlântico. A cordilheira do Atlas com os seus 4000 metros de altitude liberta-o da estepe e dos desertos do Leste. Depois os seus campos vão descendo de planalto em planalto, abrindo sobre o oceano os seus largos terraços de terras úberes. Atlas, o velho gigante, não sustenta o céu com os seus ombros possantes, mas sustém estes açafates mouriscos que podem abarrotar de cereais, de gados e de frutas. Um outro braço de montanhas corre paralelamente ao Mediterrâneo - é a cordilheira do Rif, muralha onde vêm quebrar-se as ondas invasoras.
sexta-feira, 13 de julho de 2018
1998 - UM ISLÃO PORTUGUÊS
Vinte anos se passaram. Recordo bem a intensidade da primeira quinzena de julho de 1998. Terminava-se a impressão do O legado islâmico em Portugal e a abertura da exposição Portugal islâmico - os últimos sinais do Mediterrâneo.
A apresentação do primeiro teve lugar no dia 14 de julho, no Pavilhão de Portugal da Expo-98, a inauguração da segunda no dia 15 de julho, no Museu Nacional de Arqueologia. O livro esgotou as duas edições (na Fundação Círculo de Leitores e na Temas e Debates), em pouco tempo. A exposição ultrapassou os 100.000 visitantes. O catálogo esgotou, há muito.
Recordo estes dias, com um abraço de amizade aos colegas com quem colaborei nesses dias.
Vinte anos?
Como no final de um poema de Kavafis:
Meia-noite e meia. Como passam as horas.
Meia-noite e meia. Como passam os anos.
A apresentação do primeiro teve lugar no dia 14 de julho, no Pavilhão de Portugal da Expo-98, a inauguração da segunda no dia 15 de julho, no Museu Nacional de Arqueologia. O livro esgotou as duas edições (na Fundação Círculo de Leitores e na Temas e Debates), em pouco tempo. A exposição ultrapassou os 100.000 visitantes. O catálogo esgotou, há muito.
Recordo estes dias, com um abraço de amizade aos colegas com quem colaborei nesses dias.
Vinte anos?
Como no final de um poema de Kavafis:
Meia-noite e meia. Como passam as horas.
Meia-noite e meia. Como passam os anos.
quinta-feira, 12 de julho de 2018
ESCAVAÇÃO ARQUEOLÓGICA - DIAS 7 A 9
Foram nove dias de campanha. Uma temporada muito curta, dedicada a avaliações e a tomadas de decisão, tendo em vista o futuro.
Os trabalhos tiveram lugar no espaço que corresponde a um dos antigos claustros do convento do castelo. Não esperávamos encontrar níveis medievais tão cedo. Bem vistas as coisas, as cotas das estruturas (c. 185.00) são coerentes com as da ocupação islâmica junto ao posto de turismo (c. 185.50) e as da alcáçova (entre 185.25 e 186.00). Ou seja, a construção do convento criou uma "falsa realidade" topográfica no sítio).
O tipo de estruturas postas a descoberto obrigarão a um alargamento de área de trabalho. Ocupações recentes (séculos XIX e XX) afetaram fortemente os níveis medievais. Uma coisa é certa. Estamos já ante a presença de vestígios - ainda fragmentários - das casas islâmicas dos séculos XII e XIII. A realidade da nossa terra de há sete ou oito séculos começa a mostrar-se.
Os trabalhos tiveram lugar no espaço que corresponde a um dos antigos claustros do convento do castelo. Não esperávamos encontrar níveis medievais tão cedo. Bem vistas as coisas, as cotas das estruturas (c. 185.00) são coerentes com as da ocupação islâmica junto ao posto de turismo (c. 185.50) e as da alcáçova (entre 185.25 e 186.00). Ou seja, a construção do convento criou uma "falsa realidade" topográfica no sítio).
O tipo de estruturas postas a descoberto obrigarão a um alargamento de área de trabalho. Ocupações recentes (séculos XIX e XX) afetaram fortemente os níveis medievais. Uma coisa é certa. Estamos já ante a presença de vestígios - ainda fragmentários - das casas islâmicas dos séculos XII e XIII. A realidade da nossa terra de há sete ou oito séculos começa a mostrar-se.
Dia 9 - 12:09 (fecho da campanha)
Dia 8 - 07:34 (canalização do século XIX interferindo diretamente nos estratos medievais)
Dia 7 - 09:54 (uma telha digitada dá o mote: andamos pelos níveis islâmicos)