quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

UM FINAL LUSITANO

E pois que, Senhor, é certo que tanto neste cargo que levo como em outra qualquer coisa que de Vosso serviço for, Vossa Alteza há de ser de mim muito bem servida, a Ela peço que, por me fazer singular mercê, mande vir da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro — o que d'ela receberei em muita mercê. 



O que acima se reproduz é o final da Carta do Achamento de Pero Vaz de Caminha. Referi-a, há dias, num encontro, em Évora. Ao jantar, o Joaquim Caetano pergunta-me "recordas-te do final? é uma coisa típica portuguesa, o fulano a meter uma cunha ao rei...". Já não me lembrava desse detalhe. Que merece bem ser reproduzido. O escriba tenta, no final da carta, que o rei perdoe o genro, entretanto no degredo, em São Tomé. Um final tipicamente à nossa maneira. Literatura com cunha à mistura.

É por isso que o ó xoutôr, faça lá o jeitinho, o amigo dê-lhe lá uma palavrinha, etc., são uma coisa só nossa. São, nesse sentido, quase Património...

O quadro não representa Pero Vaz de Caminha, mas sim Carlos V no Mosteiro de Yuste, um quadro de Joseph-Nicolas Robert-Fleury (1797-1890).

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