sexta-feira, 7 de agosto de 2020

ÁGUA – PATRIMÓNIO DE MOURA (CINCO ANOS DEPOIS)

Tenho, ao longo dos anos, somado experiências, no âmbito das exposições, que considero particularmente gratificantes. Desde “Moura na época romana” até às que estão “em fase de montagem” (o covid é quem mais ordena...), contam-se quase 20 projetos, ao longo de 30 anos, e com passagens por terras africanas e americanas.

É-me difícil dizer qual foi o que mais me agradou ou o mais completo. Ou aquele em que colhi mais ensinamentos. Talvez o de maior impacto público tenha sido “Portugal Islâmico” (1998), por ter sido a primeira síntese arqueológica daquele período. Ou o que mais me tenha impressionado tenha sido “Lusa: a matriz portuguesa” (2007), no Rio de Janeiro, por ter ultrapassado a inimaginável fasquia dos 750.000 visitantes.

Feito o balanço, e agora com três exposições em fase de preparação, a aguardar luz verde dos melhores dias que virão, talvez a experiência mais marcante tenha sido “Água – património de Moura”. Em primeiro lugar, pelo desafio de conceber um guião e de o pôr em prática, ao mesmo tempo que desempenhava outras tarefas, bem mais complexas, de resto. Depois, pela especificidade e caráter volátil do tema. Houve uma opção de base, que mantenho e continuo a considerar válida. Do ponto de vista conceptual, creio que muitos museus locais têm muito a ganhar com abordagens "não-diacrónicas" das coleções ou do património local. Daí que a água fosse vista na sua intemporalidade, explicando-se a importância decisiva que o aquífero Moura-Ficalho tem em todo este território.

O edifício tinha dificuldades logísticas, e de percurso, que foram superadas, com esforço e numa permanente procura de soluções. Resolvemos aproveitar os espaços circundantes, apesar do seu ar precário e inacabado. Assumiu-se aí um certo estilo “arte povera”, que tão bem resultou nas sucessivas exposições (uma sobre aquedutos, outra com fotografias de José Manuel Rodrigues) que ali se montaram. Tal como foi gratificante receber no local João Neto, Pedro Inácio, Jorge Calado, Alexandre Pomar, entre muitos outros, em sucessivos debates. Programas de animação vocacionadas para o público infantil completaram o leque da programação.

Durante dois anos, “Água - património de Moura” esteve patente ao público. O local foi visitado por colegas autarcas de Portugal, Espanha, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe. Claro que cabe aqui especial menção a visita do Presidente da República Portuguesa. Tal como cabe destaque para os vários prémios com que a exposição foi distinguida.

Faço questão de assinalar a data. E de recordar os nomes dos que estiveram com o projeto: Marisa Bacalhau, Vanessa Gaspar, Patrícia Novo, Francisco Mota Veiga e a Terraculta, Jorge Silva, António Viana, Vítor Vajão, Jorge Murteira, Manuel Passinhas da Palma, José Finha, a equipa de arqueologia (Mário Romero, Luísa Almeida, Marta Coeho) e vários etc. 

Um lustro passou. Aquele projeto deixou marcas fundas. A minha vida profissional tomaria outro caminho. Faço questão de recordar aquela exposição. Em especial numa altura em que leio tantas declarações de amor ao tema "museus". Com alguma frequência, vindas de quem não tem a mais remota ideia do que está a dizer.


Crónica em "A Planície"

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