terça-feira, 29 de junho de 2021
LAGAR DE VARAS DE MOURA? TAL NÃO É O "POEIREDO" QUE A GENTE VAI FAZENDO...
PRÉMIOS APOM 2021
Os museus não pararam. A Associação Portuguesa de Museologia também não. É certo que a realidade se refez e reconstruiu. No meio da pandemia, muita coisa aconteceu. Por isso, mais que nunca, faz sentido que os Prémios APOM 2021 continuem a ser a prova de energia e de dinamismo de um setor.
segunda-feira, 28 de junho de 2021
URBAN SKETCHERS À VISTA!
Vai ter lugar, na manhã do próximo dia 10 de julho, uma visita ao Panteão Nacional de urban sketchers, numa parceria da Urban Sketchers Portugal com o monumento.
Ao longo de três horas, o Panteão tornar-se-á um local de criatividade por excelência. A temática é livre, mas terá por tópico central o espaço do monumento.
As inscrições, num limite máximo de 30, serão feitas unicamente através do seguinte mail: geral@panteao.dgpc.pt
Ver- http://www.panteaonacional.gov.pt/
REGRESSO A BARRANCOS
A vila de Barrancos está ligada ao meu passado profissional. Por ali andei, em intermitências várias, entre 1984 e 1988. Quando o convite surgiu, não houve margem para hesitações. É sobre bom voltar a sítios onde sempre nos trataram bem. Uma terra generosa.
Não há assim nenhuma novidade espetacular para apresentar, mas fazer um ponto de situação é sempre oportuno. Até porque este território de aquém-Guadiana continua a ser um tesouro bem escondido para o estudo do período islâmico.
Dia 2, em Barrancos.
domingo, 27 de junho de 2021
TINA MODOTTI
Faltam os adjetivos para caracterizar a extraordinária (ok, vou usar este) Tina Modotti (1896-1942) e a sua obra, comprometida e fora das normas. A fotógrafo já aqui foi mencionada, em julho de 2014. É altura de a voltar a referir.
Dei, há dias, com este registo das linhas telefónicas da Cidade do México, feito em 1925. Linhas paralelas, mas que convergem. Pelo menos, ilusoriamente.
Ela, László Moholy-Nagy, Alexander Rodchenko, Edward Weston, Manuel Álvarez Bravo estão, sempre, num sítio à parte.
sábado, 26 de junho de 2021
PORTUGAL NA ESPANHA ÁRABE - 50 ANOS
Precisei, há dias, usar um excerto do prológo ao terceiro volume do "Portugal na Espanha Árabe", de António Borges Coelho. No meio das pesquisas na net vou dar com uma referência de um alfarrabista, onde a coleção completa (quatro volumes) estava disponível. Pareceu-me improvável que assim fosse. A obra está esgotadíssima e é uma raridade, vendida em leilões. A dada altura pensei que talvez fosse uma contrafação (em tempos, houve um espertalhão que fez um fac-símile do 1º volume, quase igual, mas mais pequeno e com uma capa fotocopiada num tom parecido ao original). Mas não. O que estava à venda era mesmo uma primeira edição, a um preço honesto. Nem pensei duas vezes.
Comprei os volumes 2 a 4 em 1982, andava no começo do curso de História. Do volume 1 tenho a tal versão manhosa. Quase 40 anos volvidos, ajustei contas comigo mesmo. O lugar de honra da estante passou a ser devidamente ocupado.
"Portugal na Espanha Árabe" foi publicado pela Seara Nova entre 1971 e 1975.
sexta-feira, 25 de junho de 2021
ILITERACIAS
Episódio 1, ocorrido há meses, na Beira.
Um empresário confessa-me que nunca gostou da escola. Queria sair e começar a trabalhar: "fiz a terceira classe, nada mais". Depois riu baixinho para acrescentar: "bom, agora tenho o 9º. ano; puseram-me duas horas em frente a um computador e assim fiz o 9º. ano nas novas oportunidades, está a ver como é, não está?". Estou, pois. Mesmo descontando a hipérbole, estou bem a ver.
Episódio 2, ocorrido há dias, no metro.
O combóio arranca do Terreiro do Paço, em direção a Santa Apolónia. Um homem, de ar modesto e saco de viagem puidíssimo, dá um salto: "era aqui o Terreiro do Paço, não era?". Confirmei. O homem, talvez um pouco mais novo que eu, ficou à beira do desespero, era ali que devia ter saído. Expliquei que era só uma estação, e nem tinha que sair do combóio. Continuou com ar de desespero, para depois me dizer que precisava de ir para Tomar. Comentei, "então, deve querer ir para Santa Apolónia". Sim, afinal era isso. Saiu da carruagem e estacou "como é que se sai daqui?". Disse-lhe para me seguir, enquanto ia desfiando que era de Fátima, tinha vindo trabalhar para Lisboa e tinha o irmão à espera.
Levei-o estação fora, até à bilheteira. Não sabia como se apanhava o combóio. Nem como se tirava um bilhete. Desfez-se um vénias de agradecimento, atarantado.
Nestas alturas pergunto-me, sem respostas, "onde facilitámos?", onde falhámos?", "qual a solução?"
#iliteracias
#SantaApolónia
quinta-feira, 24 de junho de 2021
D. MANUEL, NO ANO DO SEU CENTENÁRIO
JUNTO À PORTA DO CEMITÉRIO
É hoje ao fim da tarde. Não poderei estar, mas aproveito para fazer a divulgação. A necrópole de Lisboa ficava na encosta entre o Largo das Portas do Sol e S. Vicente de Fora. A porta oriental da cidade tinha, nas crónicas, o nome de Bab al-Maqbara (porta do cemitério).
Os trabalhos de vários colegas, nomeadamente Vanessa Filipe, têm vindo a pôr à luz do dia essa realidade absolutamente necessária para a compreensão de uma cidade. Por resolver está ainda o "mistério" da ausência de epigrafia funerária na Lisboa islâmica. Com exceção de um pequeno fragmento de uma lápide, que permanece inédito, no Castelo de S. Jorge, as outras duas inscrições não são daqui: a da Praça da Figueira veio da necrópole da Mouraria, a da Rua das Madres desconfio bem que desse mesmo local.
Às 18 horas, no Mercado de Santa Clara.
quarta-feira, 23 de junho de 2021
UM PEIXE DESSES DO POVO...
De forma provocatória, organizações de direita e de extrema-direita têm-se entretido, ante a bonomia da "comunicação social", a montar todo o tipo de festarolas e de manifestações, sem quaisquer preocupações sanitárias. Joga-se o perigosíssimo jogo do caos. Uma prática antiga e bem conhecida.
No meio disto, há motivos para rir. Um desses partidos organiza um arraial e anuncia-o como "sardinhada liberal". Tão liberal, mas tão liberal, que as sardinhas são carapaus. É o que acontece quando as "elites" se querem comportar assim como o povo...
terça-feira, 22 de junho de 2021
LACANT - UMA REVISTA DE ARQUEOLOGIA EM MOURA
Foi ontem publicada, em Moura, uma revista intitulada Lacant. É engraçado ser o pai do nome de uma revista. Nunca tal me tinha acontecido...
De onde vem o nome Lacant? De uma espécie de mantra. Tantas vezes se repetiu, que acabou por ser aceite. Nunca tal me tinha ocorrido (que Moura pudesse ser lacant), até ler o trabalho de Alicia Canto. E de me dar conta que as peças referentes à Ecclesia Santa Maria Lacantensis ou Lacaltensis estavam todas à volta de Moura. Verifiquei, sem espanto, que os arqueólogos da Antiguidade tardia não leram as fontes islâmicas e que os desta época não consultaram os materiais anteriores ao século VIII. Tornou-se-me então claro que a cora de Lacant referida nas fontes árabes mais antigas podia muito bem ser a nossa terra. E que o misterioso sítio de DNHKT (citado nos Muqtabis V), entre Beja e Aroche, podia ser identificado como Lacant e resultar de um erro de transliteração, ou da confusão entre duas consoantes do alifato. Sorte a minha, que tinha à mão de semear as obras de Ibn Hayyan e de Ibh Idhari... E que um dia dei comigo a pensar "esperam lá, a nossa ecclesia bem pode ser o do sítio desconhecido". E o nome de Moura ter, afinal, surgido no contexto da renovação urbana do século XI.
Uma revista não é fácil de manter. Coordenei a de "Arqueologia Medieval" entre 1992 e 2013 e sei bem o que se pena. Boa sorte, portanto.
LITERALMENTE UNDERGROUND
Ao regressar, ontem, da Fundação Oriente, passei pela degradadíssima passagem subterrânea, que dá acesso à Rua de Cascais. Uma galeria de arte underground onde já quase não há paredes que não tenham pichagens.
A jovem amiga que me acompanhava murmurou, a meia voz "nunca aqui tinha estado!". Pois, como galeria de arte não é das mais recomendáveis.
segunda-feira, 21 de junho de 2021
UM CERTO TOQUE ED WOOD...
Chegou-me, pelo correio, a magnífica "Agenda Cultural" da Câmara de Mértola. Já quase esquecera que me tinham pedido um texto sobre a minha aventura fílmica "Chegar a casa", em 2015. Um episódio engraçado, que foi visto na altura, por vários colegas meus, como uma total excentricidade. Foi só um pouco, mas diverti-me imenso.
Aqui fica o texto:
“Chegar a casa” não é exatamente um filme. É mais uma nota, uma daquelas folhas que tiramos de um bloco de apontamentos, qualquer coisa de que não nos queremos esquecer. A ação gira em tono de um homem que não consegue encontrar o caminho de volta, que quer chegar a casa e se perde, assombrado pela memória do passado e pela presença fantasmagórica de três mulheres. O grafismo do filme, e detalhes como a “voz-off” e o formato 4:3, foram vagamente inspirados em “Tabu”, de Miguel Gomes. O homem que anda em círculos é uma citação expressa de “Toby Dammit”, de Fellini.
Desta curta não rezará a história. Foi projeto que propus à Câmara de Mértola, em finais de 2014. O orçamento era modesto, mas suficiente. A minha única preocupação era que tudo corresse bem e que a entidade produtora não ficasse comprometida ante uma coisa imprestável. Tal não sucedeu, felizmente. O filme seria admitido em dois festivais, uma nacional, outro internacional, de onde saiu sem glória nem vexame.
A filmagem, milimetricamente planeada, ocupou três dias. Juntei depois, em jeito de uma pós-produção, imagens recolhidas com im telemóvel e com um “tablet”. A montagem foi a parte mais divertida. A criação de efeitos, de imagem e de som, o acerto dos planos, da locução e da música fizeram-me mergulhar num mundo desconhecido e estimulante.
“Chegar a casa”, falado em árabe e legendado em português, foi estreado no Festival Islâmico de 2015. Foi resultado da generosidade da Câmara Municipal de Mértola e de um vasto grupo de amigos: Sana Contá, Joseline Cabral. Percida Camará, Azeneide Batista, Manuel Passinhas da Palma, Joaquim Simões, Hélder Coelho, Fábio Moreira, Abdalah Khawli, Badr Hassanein, Guilhermina Bento, Mercedes Cerón, Antónia Baião, Daniel Sasportes, José Moças, Jorge Sales e Rui Madruga. Nunca teria visto a luz do dia sem o Jorge Murteira. E, bem entendido, sem a Isabel Martins.
Está disponível no youtube: https://youtu.be/vQHH8zXDiwQ
domingo, 20 de junho de 2021
RECORDANDO A INFANTA
De Carnide para Santa Clara. Sempre em torno de espaços criados pela mulher mecenas do século XVI, a Infanta D. Maria. Dois concertos com a voz por base. Sexta, na Igreja da Luz (Capella Patriarchal), domingo, no Panteão (Ensemble Vocal Aura).
O público começa a aparecer, há gente e há expectativa. Na mesma medida em que há receio e incerteza. 80 pessoas no concerto desta tarde é um número mais que apreciável nestes dias que correm.
sábado, 19 de junho de 2021
BIBLIOTECA DO MÉDIO ORIENTE E NORTE DE ÁFRICA
Uma iniciativa importante da Junta de Freguesia de Arroios. A Maria João Tomás convidou-me a estar presente e, naturalmente, não poderia recusar. Meio século (!) depois de se iniciar a publicação do "Portugal na Espanha Árabe", é altura de relembrar a importância decisiva do trabalho de António Borges Coelho. E o papel fundamental dos livros, das bibliotecas e da investigação.
Tarde de segunda-feira à beira Tejo.
COM TIRO E COM LUZ
Em tempos foi o Clube de Tiro de Monsanto. Um projeto de Carlos Ramos filho (1922-2012), discreto e bonito. Gosto em especial da zona da entrada, com a madeira em barras verticais. O edifício esteve meio abandonado. Foi depois recuperado e tem agora um nome e um ar trendy: Lisbon Secret Spot. Passei por lá na quinta-feira. Houve uma festa e um copo de fim de tarde. Havia DJ e este tom cromático, azul e lilás. Tinha graça o ambiente, mas não me levem a mal se preferir a sobriedade de outrora.
Um mistério que nunca conseguirei resolver: porque é que esta cidade tem tanto sitio pouco usado e depois anda tudo aos tombos nos mesmos, tantas vezes desinteressantes, locais?
sexta-feira, 18 de junho de 2021
A MINHA TERRA É UM SÍTIO SÉRIO
A minha terra é um sítio sério. Não é nenhuma bandalheira. As gentes do meu concelho são, numa esmagadora maioria, gente honrada. Não são habitantes de nenhuma bandalheira.
Que queira agora um para-quedista vir ensinar-nos o que é Moura é a parte quase engraçada desta história.
Há gente capaz de fazer mais e melhor? Há os candidatos da CDU, gente capaz de construir um futuro com esperança. É neles o único voto possível, em nome de um concelho melhor.
quinta-feira, 17 de junho de 2021
HUMOR VISUAL
Daqui a uns anos, esta imagem será incompreensível. Agora não o é. As coisas explicam-se sempre em função de um contexto. Certo?
MAIS MOURA NA FOTOGRAFIA DE DIOGO MARGARIDO
quarta-feira, 16 de junho de 2021
EXPRESS MUITO POUCO EXPRESS
Entreguei uma envelope (com 4 livrinhos dentro), a enviar por express-mail, no dia 11 de junho, de manhã, em Mértola. Destino: Paris, essa cidade situada para lá dos dos trópicos...
Propuseram-me duas tarifas: um express-mail, assim para os mais abonados, por 60 euros; um express-mail para os tesos, por 40 euros. Pouco barato, em qualquer dos casos. O primeiro levaria entre 1 a 2 dias, o segundo 4 dias. E o serviço anda atrasado, avisaram logo. Para express-mail não está mal, não senhor. Em tempos que já la vão uma carta por este sistema chegava a Paris no dia seguinte. Agora, com a privatização, funciona tudo muitíssimo melhor, claro está.
A carta chegou hoje, 5 dias depois da partida. Por 40 paus não está mesmo nada mal. Deve ter ido assim:
A TAL DEMOCRACIA QUE SÓ VALE QUANDO SE GANHA
Não é 50,1 contra 49,9. Ou, sequer, 50,13 contra 49,87. Vai-se às milésimas, como faz o Guardian: The son of peasant farmers, Castillo had 50.125% of the votes while Fujimori, the eldest daughter of imprisoned former president Alberto Fujimori, had 49.875%. Isto é uma foram de dizer que Pedro Castillo tem uma legitimidade medida às milésimas?
E que foram "só" 44.000 votos de diferença (oh, que-pe-na...). Uma maçada esta coisa de filhos de camponeses, com cara de índio e tudo, ganharem eleições presidenciais. Ainda por cima é de esquerda.
Arranjem lá um Guaidó, vá lá. Ou uma Jeanine. Ou um Bolsonaro. Aquele que confunde a Líbia e a Síria, o da dimócraci e dos iuman rraites trata do resto.
segunda-feira, 14 de junho de 2021
O PANTEÃO NO "PÚBLICO"
Trabalho jornalístico de Lucinda Canelas no "Público" sobre o Panteão Nacional, com fotografias de Daniel Rocha. Um triplo privilégio.
O plano de trabalho trienal foi apresentado à tutela no final de maio. O que disse ao "Público" reflete uma parte do que foi escrito e que deverá ser posto em prática. Num monumento com tanta carga do passado, o que importa é, como sempre, preparar o futuro.
Aguardo, como todos os colegas, com grande expetativa, as possibilidades que o PRR nos irá abrir. Depois, é fazer o caminho.
O BOLSONARO DAS AVENIDAS NOVAS
Todo o significado que uma imagem tem.
O chefe dos liberais está, de arco e flecha na mão. Leio nos jornais que houve jogos de dardos atirando a figuras de políticos. Uma coisa assim um bocadinho liceal e agarotada. Lembro-me de fazer coisas do género quando tinha 13 ou 14 anos.
O boneco ao qual Cotrim de Figueiredo atira tem no peito a célebre imagem de Che Guevara, que andou pelos quartos de muitos jovens há umas décadas. Não sinto "indignação" ou "ultraje" quando vejo um político com ambições fazer uma coisa assim. Mas não posso deixar de ler o significado profundo de uma tal representação. Que é interessante, a vários títulos.
Bolsonaro atirava contra a petralhada usando uma metralhadora. Um hard-facho.
Cotrim, em estilo-tio, usa arco e flecha e velcro. Para não correr sangue. Um soft-facho.
O problema é o 25 de abril. Essa é que é essa. O povo ter ideias.
domingo, 13 de junho de 2021
EN PETIT COMITÉ
IR ATÉ AO ÚLTIMO CERRO
Perguntou-me, há uns bons anos, uma jovem amiga, qual era o meu método de trabalho quando tinha de enfrentar um trabalho, um desafio ou um projeto. Respondi, convictamente, "ir até ao último cerro". Ou seja, esgotar todas as possibilidades, dar tudo por tudo, não ter nada como adquirido. Em bom português, "ir a todas". Não dar tréguas. Posso falhar, posso não conseguir (algumas vezes me tem acontecido), mas não é por não tentar.
A célebre cena do Bluesmobile, que os irmãos Blues promovem um concerto indo aos mais recônditos e improváveis sítios, muitas vezes me serviu de mote. Ainda hoje me serve.
O filme The blues brothers é de 1980.
sábado, 12 de junho de 2021
STARDUST MEMORIES N°. 53: HÁ MUITOS ANOS, NUMA LONGITUDE DISTANTE
O avião era este, um Boeing 747-400. Com uma pintura assim parecida. A viagem foi tormentosa, entre Paris e a Martinica. Nove horas no ar. O Manuel, com 16 meses, desapareceu a meio do voo. Fui dar com ele gatinhando para o upper deck, a primeira classe do avião. Ora bem...
Se a palavra inesquecível quer dizer alguma coisa, aplica-se a esses dias, na primeira quinzena de outubro de 1994. Às vezes parece que está tudo tão distante, noutras há sensações próximas e quase palpáveis.
Photo Caribb (flickr)
sexta-feira, 11 de junho de 2021
SOB O LEMA DA DIVERSIDADE
Se há coisa que detesto é a rotina. Os últimos dias têm tido de tudo um pouco. Menos rotina. Da moderação do debate-conferência em Mértola se passou ao lançamento de um selo no Panteão.
No fim de semana terá lugar, em Moura, uma sessão privada de apresentação de dois livros.
quinta-feira, 10 de junho de 2021
TANTA SENHORA DE MAU PORTE ARMADA EM FINA...
Não sou do partido de Pedro Adão e Silva.
Nunca votei no partido de Pedro Adão e Silva e é pouco provável que o venha a fazer.
Não conheço pessoalmente Pedro Adão e Silva.
Tenho dúvidas que seja a melhor escolha para comissário destas comemorações. Não por não ser historiador ou militar - não vejo qualquer razão para ter de exibir tais credenciais -, mas por falta de traquejo em iniciativas como esta. Não é por nada, mas esta coisa das políticas públicas em cultura pode ter muita e boa teoria, mas obriga a uma longa e persistente prática. Um comissário é, essencialmente, um gestor, um promotor de ideias e um "inventor". Tenho muitas reservas e, sobretudo, expetativa.
Posto isto, assisto comovido aos ataques da direita à nomeação do comissário das comemorações do 25 de abril. Ao salário (torna-se comum exigir conhecimento e trabalho qualificado low-cost..., uma cena muito ao gosto dos populismos, para quem a frugalidade é sempre a dos outros). Vir dizer que três anos é um exagero de tempo para preparar as celebrações implica que já conheçam o programa, supostamente reduzido a um dia. Já têm sido chamadas à colação as múltiplas celebrações da Comissão dos Descobrimentos (múltiplas, excelentes, inesquecíveis, eternas etc.).
O que espero destas comemorações, que vão, e muito bem, até 2026?
* Que abranjam as eleições constituintes (1975), legislativas (1976) e autárquicas (1976);
* Que incluam um trabalho intenso com a A.N.M.P., com os municípios, com as escolas de todos os graus de ensino;
* Que produzam conhecimento e documentação;
* Que cruzem todo o País.
O problema da direita, cada vez mais extrema (vejam aqui a tirada de Rui Rio sobre o fascismo) não é Pedro Adão e Silva, o salário do comissário ou o facto de ter motorista. O problema da direita é o 25 de abril. Certo?
AJUDA XXI
Finalmente está terminado.
O processo será, seguramente, objeto de muitas, muitíssimas avaliações, comentários e críticas. Que abrangerão, por certo, o novo e controverso museu.
Mas estar terminado este imbróglio/edifício é o grande facto destes dias.
quarta-feira, 9 de junho de 2021
PARA OS DEVIDOS EFEITOS SE DECLARA QUE...
1. Não anunciarei quando vou ser, ou se já fui, vacinado;
2. Não vou mostrar o local onde estou a ser vacinado;
3. Também não vou mostrar nenhuma imagem dos meus portentosos bíceps com a agulha espetada;
4. Não revelar a marca da vacina, dando provas de temerária heroicidade por ter tomada a "perigosa";
5. Não vou fazer nenhum post com a fotografia do cartão da vacina.
IRRA
SILÊNCIO OLIVENTINO
Começa o verão. Um dia extremenho, entre nomes portugueses e na demanda de um sítio já quase desaparecido. Onde está a vila do século XVI? As portas identificam-se, há uma capela que deve ter sido destruída quando se construiu a Puerta del Calvario. O ambiente urbano antigo é mais evidente do que suporia. Mas a marca do dia é o silêncio, cortado pelos clics da máquina fotográfica. Ruas desertas e muito calor. E muito silêncio.
Um pouco assim:
As Horas pela Alameda
Arrastam vestes de seda,
Vestes de seda sonhada
Pela alameda alongada
Sob o azular do luar...
E ouve-se no ar a expirar -
A expirar mas nunca expira -
Uma flauta que delira,
Que é mais a idéia de ouvi-la
Que ouvi-la quase tranquila
Pelo ar a ondear e a ir...
Silêncio a tremeluzir...
Fernando Pessoa
domingo, 6 de junho de 2021
E DEPOIS DE AMANHÃ...
... haverá o encontro de dois Prémios Pessoa: Tiago Rodrigues e Cláudio Torres. Talvez não seja muito comum pôr o diretor de um monumento a moderar um debate assim. Mas é isso que vai acontecer, na terça-feira, às 17:30. Um regresso breve mas que me agrada. Uma tarefa que não me é inédita, mas que neste caso me dará especial prazer.
sábado, 5 de junho de 2021
INFANTA D. MARIA - 5º CENTENÁRIO
De entre as muitas atividades culturais dos CTT avulta uma permanente atenção aos grandes momentos da História. Um facto que se saúda. Uma das primeiras iniciativas a que tive de dar seguimento foi a da celebração do 5º centenário do nascimento da Infanta D. Maria, filha do rei D. Manuel e promotora da primeira igreja de Sta. Engrácia. Que ficava no mesmíssimo sítio onde hoje temos o Panteão Nacional.
Dia 9 pela manhã, lá estaremos. Para o lançamento do selo evocativo.
sexta-feira, 4 de junho de 2021
AMANHÃ, VAI SER OUTRO DIA
Morto de saudades, amanhã é dia de estar na Póvoa. Finalmente! Com as devidas precauções, porque isto não é nenhuma turba de "hooligans" da bola.
Vai ser uma bela tarde, aposto!
NO FEMININO
Uma grande exposição no feminino, a da Fundação Gulbenkian. Tudo o que eu quero parece-me um título meio esotérico. Ainda que não tanto como os textos que enquadram cada setor. Para quem gostar de ler simples não são nada simples.
Em todo o caso, um grande momento. Em todos os sentidos. Pela primeira vez, vejo ali uma exposição ocupando a galeria principal, a do museu e o átrio junto ao anfiteatro 2.
Maria Helena Vieira da Silva e Octavio Paz
Tus ojos son la patria del relámpago y de la lágrima,
silencio que habla,
tempestades sin viento, mar sin olas,
pájaros presos, doradas fieras adormecidas,
topacios impíos como la verdad,
o toño en un claro del bosque en donde la luz canta en el hombro de un árbol y son pájaros todas las hojas,
playa que la mañana encuentra constelada de ojos,
cesta de frutos de fuego,
mentira que alimenta,
espejos de este mundo, puertas del más allá,
pulsación tranquila del mar a mediodía,
absoluto que parpadea,
páramo.
quinta-feira, 3 de junho de 2021
RAPTURE: A PARTIR DE UMA MEMÓRIA SÍNICA
A partir de amanhã abre ao público a grande exposição RAPTURE, de Ai Weiwei. Vi-a, em grande parte, como um documento político, com os grandes temas da atualidade a surgirem e serem o foco e o ponto de partida para a criatividade do artista chinês.
Não é por acaso que as suas memórias do sítio do origem regressam, uma vez e outra, ao longo da exposição. A começar pelo portal de entrada, que evoca claramente a época maoista. Sem essa China, para o bem e para o mal, não haveria Ai Weiwei.
quarta-feira, 2 de junho de 2021
O ESCULTOR VAI NU
INTERIOR/EXTERIOR
O Campo de Santa Clara em versão LaChapelliana. O interior da casa narrado a partir do exterior. Espontaneidade popular sem objetivo evidente, ao que suponho.
David LaChapelle fez o seu Self portrait as house em 2013. Só que aí temos mesmo o interior. E a ideia é outra.
terça-feira, 1 de junho de 2021
O PS E O DISCO RISCADO DA PAIXÃO PELO INTERIOR
Anunciava a empresa “Infraestruturas de Portugal” há semanas: “foram publicados os concursos públicos para a elaboração dos estudos e projetos necessários tendo em vista a modernização do troço entre Casa Branca e Beja e o estudo da execução de uma Ligação Ferroviária ao Aeroporto de Beja e o concurso para a elaboração do projeto de duplicação e modernização do troço Poceirão – Bombel". Estudos e projetos e projetos e estudos. Os prazos são generosos. Um deles aponta para quase 1000 (mil) dias de execução.
Recordemos: em novembro de 2017, o então ministro das Infraestruturas, Pedro Marques, afirmava que havia a possibilidade de a capital do distrito ter ligação ferroviária a Lisboa em 2018. O deputado Pedro do Carmo diria mesmo que depois de meses de reuniões e contactos sem alaridos (adoro esta do “sem alaridos” – psshiuuu, vamos falar assim baixinho que os senhores que mandam ficam assim tipo mais sensíveis) iam ser compradas novas carruagens que iriam garantir a tal ligação. De 2017 passamos para 2018. De 2018 para 2019. De 2019 para 2020. E depis 2021. E depois virão os estudos e os projetos e os estudos. Daqui a uns anos haverá projeto. Mas depois já não valerá a pena porque o modelo de negócio não o justifica e não é sustentável blablabla.
Regularmente, vemos por cá ministros (Moura está no top dessas visitas rigorosamente inúteis) e depois lá vem a conversa habitual “oh, sim, o interior; oh, claro, o cante alentejano; oh, sem dúvida, o Património; oh, pois evidentemente, o queijo e os enchidos e mais o vinho”. É sempre assim.
Há quem goste disto. Sobretudo os que vivem da Política. Literalmente. A girândola de ministros e secretários de estado de visita aos sítios mais remotos vai ser um hábito, que vamos ter autárquicas. Preparem-se os tapetes vermelhos, as fanfarras e os discursos balofos. Preparem-se as promessas, os protocolos e o anúncio de projetos. Preparemo-nos, sobretudo, para ouvir as desculpas que a culpa foi do covid para pouco ou nada se fazer.
Tem de ser assim? Não tem. Importante mesmo é explicar que é preciso construir uma nova esperança. E é preciso explicar às pessoas que enquanto este desfile de governantes tem lugar, o verdadeiro investimento nos passa ao lado. Porque a paixão pelo interior mora no interior e não no Terreiro do Paço.
Crónica em "A Planície"