Nos campos de Mértola II
Sobre a luz branca das estevas
corre o silêncio quebrado
pelo voo das aves
e o sopro do pulsar da terra.
Flores brancas roxas amarelas
cobrem as raízes dos chaparros
enfeitavam
os lenços
das camponesas
teciam os mantos
das santas e das deusas.
De colina em colina
de brejo em brejo
aspirando o aroma das estevas
procuras o quê?
aloendros vermelhos?
De repente os olhos caem
na fenda do rio.
Está lá baixo
quieto vivo
um retângulo de água
num tabuleiro de pedra.
Esquálidas de sede
amendoeiras descem a encosta
mas as raízes ficam presas no xisto.
As casas os muros as torres
estremecem na água
À noite chegam as vozes dos astros
no silencio dos mortos e dos vivos.
Foi este o poema que António Borges Coelho me dedicou, no livro editado em agosto deste ano. Seria o derradeiro.
A dedicatória é, para mim, uma pequena-grande condecoração.
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