Foi um dos momentos mais traumáticos do meu
percurso de autarca. A apresentação de um determinado plano numa localidade do
concelho de Moura ficou liquidada com aquela resposta. Um dos autores do
trabalho, depois de embrulhar o discurso num powerpoint esotérico sobre
unidades de execução e cronogramas, resolveu tirar as dúvidas a um munícipe, a
propósito da localização de um determinado terreno proferindo esta frase
hieroglífica: "esse terreno situa-se no remate da malha urbana
consolidada". O ar esgazeado do meu amigo B., assim como dos outros
habitantes, não me deixou a mais pequena dúvida. Ninguém mais iria colocar
perguntas.
Vem isto a propósito de mais uma proposta, elaborada em 1928 e não
concretizada, concebida para o remate da malha urbana consolidada da zona
oriental de Moura. Uma área que, pelos vistos, espicaçou a curiosidade e o
interesse de vários autores. Esta planta de Jorge Segurado, que devo ao José
Francisco Finha, mostra-nos a abertura de uma arrojada Avenida de Salúquia, que
iria unir a zona da estação dos caminhos de ferro à Rua Dr. Garcia Peres,
passando por uma Praça da República. A avenida romperia parte do bairro da
Porta Nova, o Fojo e o Curralinho. Interessante é a criação de uma Rua João de
Morais, mestre construtor ativo em Moura no século XVII. Uma forma indireta de
homenagear a sua profissão de arquiteto.
Jorge Segurado (1898-1990) foi um grande arquiteto e historiador da arquitetura. Foi ele o autor da bela monografia sobre a Igreja de S. João, editada em 1929. Do seu talento saiu também um dos mais notáveis projetos do modernismo: a Casa da Moeda, em Lisboa.
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