quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

JOSÉ MARTÍ E SIMÓN BOLÍVAR E SIMONE DE BEAUVOIR

E a sempre divertida Judite de Sousa. Nuno Ramos de Almeida escreve, na sua página no facebook: "José Marti, o herói da independência", jornalista da TVI (Judite de Sousa) numa peça sobre a Venezuela.

Lembrei-me do sketch de Alexander Payne no filme "Paris, je t'aime" (minuto 2:50):


J'ai vu la tombe de Jean-Paul Sartre et Simón Bolívar. Mon livre dit qu'ils étaient deux fameux écrivains français et qu'ils s'aimaient beaucoup et c'est pourquoi ils sont enterrés ensemble.


Está tudo explicado, não está? Ufff, não é preciso complicar...


MOURA - HOJE NO "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"

Traz o "Diário de Notícias" de hoje uma importante reportagem sobre Moura. É um trabalho ponderado (tirando aquela de terem "batizado" o mercado municipal com um nome que não tem), claro e bem feito. Não faço comentários sobre o conteúdo e sobre as coisas que aí se dizem. Mas que são muito interessantes e relevantes, lá isso são. E tanta coisa que explicam... 


terça-feira, 29 de janeiro de 2019

QUANDO JÁ SÓ FALTA O QUASE...

Em 29 de janeiro de 1969, ainda eu não estava na escola primária, estava quase. Hoje continua quase. Só falta mesmo resolver esse quase.

Na minha longínqua carreira de vendedor de livros da CREDIVERBO (1981 ou 1982) fui à empresa ANA. Tenho a ideia que era para os lados de Entrecampos. Lá estava, em plena entrada, uma maqueta do Aeroporto de Rio Frio. Ficaria, o projetado aeroporto, no ponto que assinalo em rosa.

Os anos sucederam-se. As ideias e as intenções também. Está quase. 50 anos depois.



segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

DE BAMACO A BROOKLYN - KEYTA, SIDIBÉ, DELCY...

Porque misturo aqui três fotógrafos tão distantes no espaço e no tempo como Seydou Keita (1921—2001), Malick Sidibé (19352016) e Lougè Delcy (Dapper Lou), um americano de origem haitiana? Porque este último, com toda a sua sofisticação e com todo o refinamento da suas criações (moda, fotografia...) deve muito, quase tudo, ao jogo de geometrias e de trompe-l'oeil dos geniais malianos.

Não conhecia Dapper Lou, o nome pelo qual o fotógrafo é mais conhecido. Foi no instagram que vi os seus trabalhos. As redes sociais não servem só para difundir estupidez.



domingo, 27 de janeiro de 2019

QUANDO O KKK ESTÁ DE REGRESSO...


As provocações e ameaças de que Mamadou Ba foi alvo representam bem "o estado das coisas". Que um órgão de informação tenha dito que ele foi "confrontado" (quando, na verdade, foi intimidado e ameaçado) é pior ainda. Mamadou Ba deveria ter usado outros termos para se referir à polícia? Sim, uma vez que não me parece nada inteligente que um responsável do SOS RACISMO classifique as forças de segurança como "bosta de bófia".

Depois disso, as "redes sociais" foram tomadas pelo ódio, pelo racismo e pela xenofobia. Tenho lido as coisas mais primárias e abjetas.

Mamadou Ba deve ter, se necessário, proteção policial? Na minha opinião, sim. Era o que faltava que uma afirmação disparatada tivesse como "punição" uma qualquer forma de "justiça popular". Estamos bem arranjados, se formos por essa via. Todos nós, e não só Mamadou Ba.

A fotografia de W. Eugene Smith dá um ar pouco sério, quase de baile de máscaras, ao KKK. Temo que os tempos pela frente sejam, contudo, pouco divertidos.

sábado, 26 de janeiro de 2019

UM MINARETE NO CASTELO DE MOURA

Dei-me conta, no meio de infindáveis leituras para um daqueles trabalhos linha-do-horizonte (quanto mais nos aproximamos do fim, mais o fim se afaste), que nunca aludi, em mais de uma década de blogue, a esta inscrição, existente no Castelo de Moura.

De que se trata? Da lápide que comemora a construção do minarete da mesquita de Moura. Como já defendi algures, não se trata de uma simples celebração de uma obra pública. Esta lápide, mandada fazer, em meados do século XI, pelo poderoso al-Mutadide, senhor de Sevilha e de todo o ocidente, fez parte de um processo de afirmação política. Foi, em ultima análise, uma declaração de posse sobre as importantes minas de prata que havia em torno da Serra da Adiça.

O primeiro a publicá-la de forma conveniente foi Alois Richard Nykl (1885-1958), grande arabista de origem checa. Deu-a a conhecer no vol. V da revista "Al-Andalus", em 1940. Citando de memória, com os riscos que isso comporta..., creio que foram Ana Labarta e Carmen Barceló quem, em 1987, esclareceram que a palavra "torre" que se lê na lápide não é uma qualquer estrutura, mas sim uma torre concreta. Ou seja, um minarete.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

SOROLLA Y RODRIGUES

Um velho amigo dizia-me, em tempos "é que enquanto o Sorolla pintava os meninos de rabinho ao léu na praia, Picasso estava a terminar as Demoiselles d'Avignon...". Admito que sim, mas Joquín Sorolla não pintava mal. Tem facetas absolutamente conservadoras e recorre, muitas vezes, a um tipicismo reacionário que antecipa o pior academismo ibérico franquista e salazarista.

Uma coisa é certa: a exposição patente no Museu Nacional de Arte Antiga está a ser um colossal sucesso de público. Constatei-o hoje de manhã, antes de uma reunião com um dos conservadores da casa.

Numa rápida passagem pelo “Terra Adentro – A Espanha de Joaquín Sorolla” reparei em duas ou três obras, que me vão obrigar a nova deslocação. Comentava alguém, sardónico e conhecedor de pintura "ele, quando pintava menos, pintava melhor". Uma das velas levou-me direitinho a uma fotografia que José Manuel Rodrigues fez em Moura, há quase 20 anos.


quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

A CAMINHO DO JARDIM DAS HESPÉRIDES

Para já, são só esquemas e riscos e esquiços. Costumo trabalhar assim, sobre plantas rudimentares. Segue-se o desenho das vitrines, a escolha de materiais gráficos, a redação de textos etc. A exposição sobre metais, a montar no Sobral da Adiça, vai tomando forma. O território foi um sítio importante de mineração e de metalurgia.

Hesíodo escrevia, no século VIII a.C. que "as Hespérides que vigiam além do ínclito Oceano belas maçãs de ouro e as árvores frutiferantes". A fama da Ibéria chegava à Grécia. O ocidente peninsular era rico em metais preciosos. Foram séculos a fio de exploração. No século X d.C. o autor árabe ar-Razi referia as minas de muito boa prata e muito branca, que existiam na zona de Totalica (ou seja, perto da ribeira de Toutalga). É essa memória que se vai resgatar e mostrar. O brilho dos metais será visto, em 2020, no Sobral da Adiça.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

HAVERÁ TEMPO...

And indeed there will be time
For the yellow smoke that slides along the street,
Rubbing its back upon the window-panes;
There will be time, there will be time
To prepare a face to meet the faces that you meet;
There will be time to murder and create,
And time for all the works and days of hands
That lift and drop a question on your plate;
Time for you and time for me,
And time yet for a hundred indecisions,
And for a hundred visions and revisions,
Before the taking of a toast and tea.


Um excerto de um poema que não conhecia, The Love Song of J. Alfred Prufrock, de T. S. Eliot. Haverá tempo ou chegará o tempo. Foi isso que me levou à fotografia da entrada do Mausoléu de Sidi Boumedienne, no limite oriental da cidade argelina de Tlemcen.

Não sei se haverá tempo de lá regressar. Mas gostaria de retornar a Tlemcen. A cidade fará parte de um livrinho em preparação.

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

PROCISSÕES, MÁRTIRES E SFUMATO EM TRAVASSÔ

No final da procissão, o Padre Júlio Grangeia fez questão de nos apresentar aos seus paroquianos. A festa em honra dos Santos Mártires de Marrocos, tema de um trabalho em andamento, tem lugar nesta altura do mês de janeiro. Fazer um projeto sem conhecer a única celebração que ainda tem lugar no nosso País era impensável.

São duas procissões, no sábado à noite e no domingo de manhã. As relíquias dos mártires cumprem um longo percurso entre a igreja e uma capela, já no campo. A procissão de regresso, no domingo, tem uma representação ao vivo dos mártires e dos seus algozes. Que vão à frente do respetivo andor.

Facto à margem que me impressionou sobremaneira? A procissão tinha duas bandas, uma com 55, outra com 45 músicos...


segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

ELEMENTOS - FOGO 7

Termina o ciclo do fogo. Que é elemento presente em muitos filmes. Lembrei-me deste final de final, destruidor e definitivo, dos tempos em que frequentava o Quarteto. E na altura em que achava Marco Ferreri (1928-1997) um grande cineasta. O Quarteto fechou há muito. A obra de Marco Ferreri está mais que datada e conheceu o desgaste do tempo. Este filme teve o Grande Prémio do Júri, em Cannes. Francesices...

domingo, 20 de janeiro de 2019

TODA A POESIA DE UM ABRIGO DE CONTENTORES EM ÁGUEDA

De Stijl lusitano? Um Vantongerloo em Barrô? Não, mas a espontaneidade tem destas coisas.



sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

STARDUST MEMORIES Nº 24: ALCÁCER CEGUER

Faz por estes dias 20 anos que fui a caminho de Tânger. A missão não era impossível, mas adivinhava-se difícil. Tratava-se de montar, em oito meses, a exposição que iria acompanhar a Cimeira Luso-Marroquina. O primeiro-ministro António Guterres designara-nos (ao Cláudio e a mim) responsáveis pelo projeto.

Foi um percurso empolgante, no qual foram parceiros de jornada Conceição Amaral, José Alberto Alegria, Francisco Mota Veiga, Pedro Moreira, Jorge Murteira, Luís Campos, João Gabriel Isidoro, Maria da Conceição Lopes, João Soeiro de Carvalho, Ana Maria Rodrigues, Pedro Moreira, Rui Patarrana, Joaquim Romero de Magalhães, entre outros, e falando só na parte lusitana.

Em pano de fundo esteve Alcácer Ceguer. Um sítio inalcançável, para mim. Vários vezes o visitei, sempre com a vaga sensação que o caminho não passaria por ali. É o meu falcão da malta privado.

Na exposição, inaugurada com grande pompa em setembro de 1999, marcaram presença duas peças da antiga catedral da cidade, provenientes das escavações arqueológicas de Charles Redman. Se a janela tem o impacto das coisas que são exóticas por estarem fora de contexto, a lápide funerária é uma peça extraordinária, na qual alguém copiou, sem saber que escrevia, um texto em cursivo. Disseram-me, há dias, que está em paradeiro desconhecido...

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

O QUE SERÁ UM DOCE MOURISCO?

Querendo promover o azeite, uma autarquia alentejana anuncia o CONCURSO DOCE REGIONAL MOURISCO.
Explicando...
A tradição "mourisca" / mediterrânica da doçaria comporta outros ingredientes (sésamo, amêndoa, cereais, muito mel, pistácios, gorduras como a manteiga, perfumes como água de flor de laranjeira, a menta, muito açúcar...), mas relativamente pouco azeite...
Será que se querem criar novos mitos, como o dos tapetes voadores?

MUSEUS E PATRIMÓNIO ETC. E TAL

Infelizmente, o Ministério da Cultura continua a ser visto como um sub-ministério. A pasta é ocupada para preencher calendário. Os resultados estão à vista. A imensa trapalhada que aí vai quase dispensa comentários.

Há gravíssimos problemas de funcionamento (podia dar exemplos pessoais de várias entidades em colapso total), há falta de meios, humanos e financeiros, e continua a não se perceber para que serve essa coisa da Cultura. Excetuam-se os momentos das inaugurações, com écharpes e croquetes, como ainda ontem me foi confirmado. Ao vivo e a cores.

A questão do NIF não resolve grande coisa, se não houver meios. O angustiante artigo de Lucinda Canelas no "Público" espelha o que se está a passar. Tem, contudo, uma passagem hilariante. A dado momento leio A ATL é dona da obra [do remate do Palácio Nacional da Ajuda] e é uma associação privada, com a maioria de sócios privados. Como é que as jóias do património nacional são deixadas à gestão privada?”. Quem faz a pergunta? Uma bloquista? Uma comunista? Frio, frio. Uma deputada do CDS-PP. Vou gravar e guardar. Para memória futura.


quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

ESSA INFINITA GIRÂNDOLA DE MINISTROS E SECRETÁRIOS DE ESTADO ETC. E TAL

Um dos aspetos mais divertidos na política pátria é o ritmo das visitas dos membros do governo às autarquias. É um dos textos do livro, em fase de revisão, sobre a experiência na Câmara de Moura. Dele retiro o excerto que se segue.

Em quatro anos convidei a vir a Moura:

* Um ministro para a inauguração de uma feira. Não teve agenda, mas rapidamente arranjou várias, e tem vindo aqui amiúde, a seguir a outubro de 2017;
* Um secretário de estado, que disse que gostava de visitar Moura, depois foi convidado cinco vezes, e que nunca teve a boa educação de responder;
* Um secretário de estado com quem tinha uma matéria importante a discutir, que não pôde vir, que marcou uma reunião comigo em Lisboa e depois enviou uma assessora maleducadíssima ter comigo. Despachei a reunião em cinco minutos e saí porta fora...

A única visita digna desse nome foi a da Secretária de Estado do Turismo, já no ocaso do mandato. Essa sim, valeu a pena, porque se assinou um documento importante, o da integração do Convento do Carmo no programa REVIVE.

Convites só porque sim ou reuniões com sexas só para fotografias, nem pensar. A minha atitude nem sempre foi bem aceite, mas o estilo pavão não era, nem é, bem o meu.

(os secretários de estado acima mencionados já foram à vida; os assuntos resolveram-se...)

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

É QUE NÃO HÁ BOA NEM MÁ PUBLICIDADE, HÁ PUBLICIDADE...

O texto que publiquei no meu blogue estava a ser muito lido. Ontem, teve mais um impulso, totalmente de borla. Um energúmeno anónimo resolver desatar às patadas no facebook, insultando-me a torto e a direito. Isso bastou que mais gente fosse ler o texto que publiquei. Já são mais de 1000... Agradeço a publicidade. Não há nada como uma boa pasquinada para nos promover. De borla, ainda por cima.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

CRÓNICAS OLISIPONENSES - XXIII

Os bairros funcionavam como pequenas aldeias. No nº. 7 da Rua Vicente Borga, a escassos 130 metros do meu local de trabalho, perdura esta fachada. Foi, e já não é, a Fábrica de pão de Francisco Lourenço. É uma casa de habitação. Da antiga função nada resta, a não ser esta memória. Dentro de menos de cinco meses, deixaremos o bairro. Que é cada vez menos bairro (ainda há senhoras idosas e isoladas, mas cada vez menos) e cada vez mais alojamento local. E, palavrão horrível, gentrificação.

ALGORITMO MARADO

Uso, regularmente uma plataforma de divulgação científica. Um dos últimos de trabalhos que usei foi a tese de doutoramento de Manuel Fialho de Sousa sobre Lisboa. Um belo trabalho, com muita informação de grande utilidade. A plataforma ACADEMIA faz, depois, conexões - se o meu amigo leu isto, deve gostar daquilo - e aconselha-nos outras leituras. Normalmente, os conselhos são um pouco "ao lado". Mas dei uma sonora gargalhada ao receber a seguinte sugestão:


Quase me senti tentado a ler o trabalho de Sofia Sampaio para perceber a ligação entre o urbanismo medieval e a história do novo cinema português.

domingo, 13 de janeiro de 2019

HENRIQUE MONTEIRO E AS ESCOLAS PÚBLICAS (QUE NÃO SÃO PÚBLICAS)

O jornalista do "Expresso" Henrique Monteiro é um velho especialista em pequenas facécias... Do estilo "estão a ver tão engraçadinho que eu sou?". Ontem, resolveu citar Evelyn Waugh, partindo de uma frase de um livro, segundo ele não traduzido: "...any one who has been to an English public school will always feel comparatively at home in prison". É um pequeno azar o livro não estar traduzido... Qualquer tradutor com conhecimentos que vão para além da síntaxe saberia, de imediato, que uma "public school" não é uma escola pública. É uma daquelas deliciosas contradições da Inglaterra. As public schools são as privadas. As public schools são caras (propinas a rondar os 20.000 euros/ano), é obrigatório o uso de uniformes e são sítios de reprodução da upper class. De pessoas como Evelyn Waugh, que frequentou uma.

O revolucionário arrependido Henrique Monteiro bem podia deixar o ensino público em paz. E ocupar a sua página com outras pequenas facécias.


sábado, 12 de janeiro de 2019

DA REALIDADE À DEMAGOGIA


Falando do ponto de vista pessoal, gostaria de estar sossegado. Tenho o próximo ano letivo na Universidade para preparar, livros em redação, comissariados de exposições etc. Retomei o percurso profissional. Com calma e de forma compensadora.

Tento não "me meter" na política local mourense.

Quando se anunciou o encerramento da fábrica, fiquei silencioso. Com a vida das pessoas em jogo, é mais prudente guardar silêncio.

Eis que surge na RTP o presidente da Câmara de Moura, sr. Álvaro Azedo, dizendo "o que é que falhou aqui? se calhar por via da negociação, podia-se ter negociado um prazo mais dilatado, em vez de 10 anos, [serem] 25 anos, que é o tempo que a ACCIONA vai explorar a Central Fotovoltaica [de Amareleja]".

Perdi a paciência e, um pouco (admito-o), a calma.

Em poucas palavras:
* As palavras do autarca Álvaro Azedo são produto da mais rasca e básica demagogia.
* As palavras do autarca Álvaro Azedo revelam má-fé, falta de caráter, desconhecimento e falta de preparação técnica e política.
Devia saber, se não sabe é ainda mais grave, que uma das principais dificuldades em todo o percurso foi precisamente a de encontrar quem assumisse o funcionamento da fábrica pelo período de 10 anos, o que levou ao abandono do processo de duas importantes empresas do setor e a que outras não tivessem apresentado sequer proposta.
* Devia recordar-se que, por vontade do PS, a fábrica nem arrancaria (nem 10, nem 25 anos...)
* Explique, já agora, quais foram os seus contributos, enquanto presidente de junta e enquanto membro da Assembleia Municipal nesta matéria.
* Explique também, sff, em que deram os contactos que fez, e qual foi a utilidade das diligências e da ida de ministros seus amigos a Moura...

As palavras de A. Azedo são um desnecessário insulto a várias equipas autárquicas e, em especial, a José Maria Pós-de-Mina. Um homem que não merecia ouvir disparates deste calibre.

Sr. Presidente da Câmara, trabalhe. Faça mais que continuar os muitos projetos que herdou. E, acima de tudo, tente prestigiar o cargo que desempenha.


Leia-se também este texto que publiquei em março de 2017: https://avenidadasaluquia34.blogspot.com/2017/03/tantissimo-que-eles-gostam-de-projetos.html

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

CLÁUDIO TORRES - 80 ANOS

CLÁUDIO,

Não vou poder estar hoje aí, em Mértola. Logo hoje, que é data redonda e fazes 80 anos. Ligamos muito a essas coisas, e logo hoje é que falho. Ainda assim, e como este dia marca a tua entrada na nona década, achei que devia escrever-te esta carta. Pública e aberta. Normalmente, carta aberta é pancadaria. Não é este o caso. Não é, também, uma carta laudatória, nem nostálgica. E só é novidade porque, nestas coisas, prefiro a discrição.
Recuemos umas décadas. O Diretor de História da Arte e tu entraram na aula. Ele fez as apresentações: “este senhor chama-se Cláudio Torres e vai ser vosso professor no próximo ano”. Estava-se em plena crise das Torres das Amoreiras e deste uma aula explicando porque é que não nos sentimos agredidos por uma catedral gótica, mas sentimos o peso de arranha-céus repetitivos e sem pontos de referência. A explicação foi feita desenhando no quadro, com giz. O mesmo método que usarias sempre, nas aulas, para explicar o funcionamento dos zigurates, a modulação das muralhas ou a topografia da Lisboa Islâmica. Hoje, serias defenestrado se tal fizesses…
Dois dias antes do natal passado, e com um copo de moscatel à frente, confessei-te, no meio da nossa longa conversa, que tenho saudades de escrever livros e de preparar exposições contigo. Aqui me contradigo e cedo à nostalgia. O frenesim dos anos 1991/2001 não o repetirei. Não o repetiremos. Em final de 2001, com a inauguração do Museu Islâmico, fechou-se um capítulo. Isso era mais que claro. Ao longo dos anos, tornou-se também evidente que o modelo de trabalho que desenvolvíamos tinha, ele próprio, um tempo e um limite. Aí nunca concordámos, como bem sabes. Sou defensor de soluções mais formais, mais institucionais e muito mais conservadoras. De ligações fortes a Universidades (o acordo com Coimbra foi tirado a ferros…), a bancos, empresas e fundações. Num sistema de “matching funds”, e não de apenas de subsídios ou de donativos. Mas, como sempre disse e aqui reafirmo, este projeto é teu. A condução da máquina cabe-te. Como sempre sucedeu.
Como no futebol, a grande aprendizagem colhida em Mértola foi a de saber ver as jogadas pelo ângulo inverso. A de perceber que as pequenas coisas são as mais importantes, e que as pessoas “pouco importantes” são as decisivas. Por isso, os anos trabalhando contigo foram mais importantes que os graus académicos. E não há MBA, pós-graduações em políticas públicas, doutoramentos etc. que valham a outra formação por que aí passei. E que foi a humana e a política, antes de mais.
Quando, há meses, decidi tomar outro rumo, várias pessoas me perguntaram “mas houve chatices com o Cláudio?”, “zangaram-se?” etc. Nada disso. Nem por sombras. Dificilmente tal acontecerá. E nunca, em caso algum, deixarei de mostrar o meu reconhecimento pelos anos extraordinários que correram entre agosto de 1991 e fevereiro de 2006. Quinze anos de exposições, de livros, de correrias, de escavações, de Portugal Islâmico, de Marrocos-Portugal, de Memórias Árabo-Islâmicas, de Terras da Moura Encantada etc. De uma aprendizagem intensa e de todas as oportunidades que me foste dando e que fui aproveitando. Claro que ainda fui voltando, depois de 2006, mas já não era a mesma coisa. Também não queria regressar, em 2018, ao sítio onde fui feliz. Foram dois sítios, de facto, Mértola e Moura, o que me deu o privilégio raro de ter duas terras.
Nesses 15 anos, aprendi a desempenhar o meu papel de ator secundário. Digo-to com convicção e sem qualquer melindre. Aproveitei a placa giratória que o Campo foi, e ainda é. É agora muito menos que antes, como bem sabes. Mas o mundo mudou, e nós com ele.
O projeto vai continuar? Claro que sim. Quem o duvida? Não voltará a ser o que era? Decerto que não. Não pode, nem deve. Também não pode, nem deve, perder a alma. Como isso vai ser feito, é coisa que cabe a quem aí está. Pela minha parte, foi uma sorte poder ter aí estado durante tantos anos.
A parte mais divertida de tudo isto? Ter podido escrever e publicar, nos 40 anos do Campo, um texto como “350.400 horas mais tarde…”. Sem bibliografia nem um raio de uma citação. E borrifar-me para o que os “cientistas” pensem ou deixem de pensar acerca disso. Essa descontração foi sendo aprendida contigo, fica a saber.
Não estou aí hoje, mas espero estar em 2020. Por isso, aqui da Madragoa, te saúdo e brindo, com um copo de vinho tinto, como deve ser e manda a lei, “à tua e à nossa”.

Texto publicado hoje, no "Diário do Alentejo"

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

UM FINAL LUSITANO

E pois que, Senhor, é certo que tanto neste cargo que levo como em outra qualquer coisa que de Vosso serviço for, Vossa Alteza há de ser de mim muito bem servida, a Ela peço que, por me fazer singular mercê, mande vir da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro — o que d'ela receberei em muita mercê. 



O que acima se reproduz é o final da Carta do Achamento de Pero Vaz de Caminha. Referi-a, há dias, num encontro, em Évora. Ao jantar, o Joaquim Caetano pergunta-me "recordas-te do final? é uma coisa típica portuguesa, o fulano a meter uma cunha ao rei...". Já não me lembrava desse detalhe. Que merece bem ser reproduzido. O escriba tenta, no final da carta, que o rei perdoe o genro, entretanto no degredo, em São Tomé. Um final tipicamente à nossa maneira. Literatura com cunha à mistura.

É por isso que o ó xoutôr, faça lá o jeitinho, o amigo dê-lhe lá uma palavrinha, etc., são uma coisa só nossa. São, nesse sentido, quase Património...

O quadro não representa Pero Vaz de Caminha, mas sim Carlos V no Mosteiro de Yuste, um quadro de Joseph-Nicolas Robert-Fleury (1797-1890).

ALDOUS HUXLEY, EM 1963

Há palavras que devem ser lidas e ouvidas. Como esta entrevista de Aldous Huxley, há quase 56 anos. Agora mais, que a gouchismo dá passos firmes.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

AS NOVAS ESTRELAS DA TV

Goucha esmera-se. Que Frota tenha sido ou seja ator porno, é-me indiferente. Que sejam essas as suas qualificações para ser deputado já é preocupante. Mas isso é com os eleitores brasileiros. Que seja um confesso adepto de violência, é francamente pior. Sendo esses os predicados, de que irá falar a criatura?

Depos, tenho amigos que acham que é por snobeira que raramente vejo televisão: cinema, alguma coisa da RTP2, o Mezzo... Não é. É por não gostar de malbaratar o tempo. Como, contraditoriamente, acabo de fazer.

MASJID

Em 1999 era literalmente impossível andar a pé nos curtos 200 metros que separam a mesquita Ketchaoua da grande mesquita de Argel. As medidas de segurança eram pesadas e nem pensar em frequentar antros de integristas islâmicos. Chateado e frustrado, não pude então visitar qualquer dos espaços religiosos da cidade. Pensei “nunca mais”. Não regressaria à Argélia e não visitaria nenhuma das mesquitas que queria ver.
            O destino troca-nos as voltas. Há sítios onde pensamos não mais regressar e que depois voltam a fazer parte do nosso percurso. Com Argel, foi assim. Cinco anos volvidos estava de volta à cidade. A guerra esfumara-se, o projeto de estudo da arte islâmica que, a partir de Portugal, coordenava estava no bom caminho e era preciso regressar a Argel. A cidade mudara radicalmente e circulava-se com calma. Depois de um par de voltas pelo exterior da mesquita principal, um intrigado Boussad inquiriu-me “mas queres entrar?”. Surpreso, perguntei se era possível. Estava convencido que vigoravam os princípios de “exclusão” praticados em Marrocos. Nem pensar. Podia visitar tudo, em total liberdade. No Oriente, a prática era essa – a grande mesquita dos omeias, em Damasco, é um grande local de encontro comunitário – mas não tinha a certeza que assim fosse noutros locais. A minha entrada na sala de orações não despertou mais que uma vaga curiosidade. Um dos orantes, divertido e pouco concentrado, fazia-me adeus com as duas mãos, enquanto eu disparava a máquina fotográfica. Tinha a certeza que o espaço não seria tão multicultural como o de damasco, onde o mausoléu de S. João Batista é local de oração de muçulmanos e de cirstãos, mas também não pensei que o ambiente fosse de tão completa “nonchalance”. Nos anos seguintes, várias vezes retornei à Argélia. Recordo a impressiva visita ao mausoléu de Sidi Boumedienne, assim como a entrada no ambiente de tenso fervor de Sidi Ramdane (um senhora muito idosa chegou-se ao pé de mim e segredou-me “transmita os nossos melhores votos às pessoas da sua terra”, para depois se afastar e continuar a rezar). Ou ainda, o insólito passeio por uma deserta e gigantesca mesquita de Tlemcen, acompanhado por um desnecessário segurança. Que resolveu rezar e deixou a pistola cair no chão, espalhando balas pelo solo...
Ao longo dos anos, fui recolhendo elementos e dados em mesquitas em terras tão diferentes como o Mali, Marrocos, a Tunísia, o Egito, a Turquia, a Síria, Gibraltar, Portugal ou Espanha. Com várias limitações, ora técnicas, ora de aceso a determinados lugares, ora de aperto de tempo.
Ao redigir o capítulo seis, sobre espaços religiosos e funerários, de um livro em produção, achei que era altura de retomar o tema para um trabalho autónomo. "Mesquita / Masjid" estará pronto dentro de uns tempos. Regresso, lenta mas firmemente, ao Mediterrâneo. Cada vez como menos certezas quanto aos sítios que irão fazer parte do percurso futuro.

PS: Tinha pensado fazer a crónica sobre o Convento do Carmo. Não vale a pena, para já. Cada coisa a seu tempo. A verdade triunfará. Faço apenas votos que o processo de reabilitação seja coroado de sucesso.


Crónica publicada hoje, em "A Planície"

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

WYLER... WILDER... MONET... MANET... PEPA... PAPA...

"Somebody went up to Billy Wilder and said, “Oh, Mr. Wyler.”And he says, “Wilder.” But he said, “What’s the difference? Manet. Monet.”

Agora em versão "jornal de referência":

E A BIBLIOTECA NACIONAL, SENHORES?

Falava-se em 1.000.000.000 de euros. Afinal, são mais de 1.700.000.000 de euros. Uma ampliação da Portela e o novo aeroporto no Montijo. Não tenho conhecimentos que me permitam pronunciar sobre opções tão complexas, se é melhor assim ou de outro modo. Mas tenho a certeza que a permanência da Biblioteca Nacional na aproximação a uma das pistas da Portela continuará a ser motivo de preocupação. Mo meio da ganância dos milhões nunca a mudança da biblioteca foi equacionada? Certezas? A Cultura serve (quase só) para show-off e nas Infraestruturas de Pedro Marques não cabem as culturais.

Punch-line: tirando os momentos de inauguração e do croquete, não me recordo ter visto um governante (Paulo Macedo à parte, by the way...) num museu ou numa biblioteca, interessar-se por estas matérias ou promovê-las de forma ativa e prática.

Aditamento: na opinião abalizada do Comandante José Correia Guedes (TAP) não basta tirar dali a Biblioteca Nacional ou o Hospital de Santa Maria. É o aeroporto que tem de mudar de local. Fala quem sabe.


segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

DE 1147 A 2019: ERA UMA VEZ A LISBOA ISLÂMICA

Já lá vão 871 anos, 2 meses e 17 dias. A cidade de Lisboa passou para mãos cristãs no dia 21 de outubro de 1147. O nome do quadro, hoje no Palácio Pimenta, tem que se lhe diga: E ASSIM SERIA LISBOA MOURISCA TODA DE BRANCO DEITADA COMO NOIVA NA SUA ALCOVA NUPCIAL.

O que aqui interessa, contudo, é o caráter bem expressivo da pintura de Jaime Martins Barata (1899-1970). Um trabalho rigoroso e sugestivo. Que seguiu as indicações de Augusto Vieira da Silva (1869-1951). A Cerca Moura de Lisboa, da autoria deste último (primeira edição em 1899), continua a ser uma dos grandes livros da História da Cidade.

Martins Barata (e Roque Gameiro) não deixarão de fazer parte do projeto em curso. No qual cabem estas e outras visões da Lisboa Islâmica.

domingo, 6 de janeiro de 2019

DA LOUSÃ A BAGDADE

Diferentes razões levaram-me ao contacto com projetos do arq. Jorge Sotto-Mayor de Almeida (1924-1996). Uma das suas obras foi a agência da Caixa Geral de Depósitos da Lousã, um trabalho de final dos anos 60. Não será dos mais expressivos, mas a verdade é que o edifício está algo descaracterizado por sucessivas intervenções. Mais interessante foi verificar que o Modern Arts Centre, construído pela Fundação Calouste Gubenkian, em Bagdade, teve também risco seu. Uma informação difícil de obter, uma vez que na exposição Arte e Arquitetura entre Lisboa e Bagdade - A Fundação Calouste Gulbenkian no Iraque, 1957-1973 quase não há elementos sobre a autoria dos projetos concretizados na década de 60. Fiquei com outra interrogação: que lhes terá acontecido?


sábado, 5 de janeiro de 2019

NOITE DE REIS

Noite de Reis, que será logo mais. Ao rever, na net, os mosaicos de Santo Apolinario Nuovo, dei com esta extraordinária representação dos Reis Magos. Baltazar não é aqui negro, apenas mais moreno que os outros, presumindo-se que o toque "mouro" seja dado pelas barbas.

Os Reis Magos apresentam calças ao estilo persa, mostrando assim que são "estrangeiros". Na verdade, tão cingidas e com tão exuberante colorido, mais parecem leggings dos nossos dias, bastante trendy por sinal...

Romance dos Três Reis Magos
Escutai, ó nobre gente, escutai e ouvireis,
Que da parte do Oriente, são chegados os três Reis.

São chegados os três Reis, da parte do Oriente,
Visitar o Deus Menino, alto Deus Omnipotente.

O caminho de um ano, fizeram-no em treze dias,
Por favor muito soberano, do Infante Rei Messias.

Guiados por uma estrela, que a todo o mundo dá luz,
Buscar vão outra mais bela, que é o Menino Jesus.

Foram a casa de Herodes, por ser o maior reinado,
Que lhes ensinasse o caminho, onde Jesus era nado.

Herodes como malvado, como perverso, malino,
Aos Santos Reis ensinou, às avessas o caminho.



Os três Reis como eram santos, uma estrela os guiou,
Em cima duma cabana, a estrela se pousou.

A estrela se escondeu, chegando a uma cabana,
Todos três se ajoelharam, a Jesus, neto de Ana.

A cabana era pequena, não cabiam todos três,
Adoraram o Deus Menino, cada um por sua vez.

Todos três lhe ofereceram, ouro, mirra e incenso,
Não lhe ofereceram mais, porque era o Deus imenso.

Ofereceram-lhe ouro fino, como Rei universal,
Incenso, como divino, e mirra, como mortal


sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

LA DESSERTE ROUGE, QUE DEVIA TER SIDO AZUL

Um quadro de Henri Matisse (1860-1854), para compor o dia. La desserte rouge está no Hermitage. Esta encomenda do colecionador russo Sergey Shchukin devia ter sido pintada em tons de azul e teria o título de Harmonie en bleu. Matisse, insatisfeito com o resultado, mudou a cor e pintou-a em vermelho.

E ISSO DE OS CARDEAIS ANDAREM DE VERMELHO TAMBÉM TEM DE ACABAR...

Quando vi a notícia ainda pensei (juro que pensei) "mais uma parvoíce no facebook". Depois, fui ver o site da Globo. É mesmo verdade. Não haverá cadeiras vermlhas do palácio presidencial. E passadeira vermelha? Tendo em conta o papel do vermelho Oscar Niemeyer na construção de Brasília, teme-se o pior.

E a estupidez, que cor terá?


quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

À VOLTA DAS CALIGRAFIAS - DIA 8, EM ÉVORA

Com a exposição quase a terminar, dia 8, às 18 horas, haverá conversa à volta das fotografia e das caligrafias. Participam Ana Paula Amendoeira (Diretora Regional de Cultura do Alentejo), Joaquim Caetano (Conservador no Museu Nacional de arte Antiga), Jorge Calado (curador da exposição) e o autor do blogue.

Algumas semanas mais tarde, a exposição irá uns quilómetros para noroeste. Ainda não há data marcada, mas há essa intenção.

DE ACRA PARA O FRIO

Haja cor no início do ano. Um dos fotógrafos que mais me interessou em 2018 foi o jovem ganês Prince Gyasi Nyantakyi. Um intenso sentido da cor, sempre ligado à presença humana. A fonte de inspiração para o tratamento das figuras humanas não é a tradição clássica europeia (nem tinha de sê-lo). Vi a fotografia de Prince Gyasi Nyantakyi ser classificada como "espiritual". Parece-me mais lúdica que outra coisa. Sem chegar aos paroxismos de excentricidade de Ouka Leele (duas imagens inferiores).

Prince Gyasi Nyantakyi fotografa com um Apple. Custa a crer, confesso...