quarta-feira, 31 de julho de 2019

OMAR TORRIJOS

Homenagem ao patriota panamiano Omar Torrijos (1929-1981), no ano em teria completado 90 anos e no dia em que passam 38 anos da sua morte, num misterioso acidente de avião. Há um livro que trata, de perto, a realidade política de Omar Torrijos. Foi escrito por Graham Greene e intitula-se Getting to Know the General: The Story of an Involvement.

Torrijos negociou com Carter a devolução do território em volta do Canal. A política do big stick continua ativa. Guess what? Com tanta dimócraci e tantos iuman raites, os territórios panamianos anda não são panamianos. E nem vale a pena recordar como se inventou um país chamado Panamá.

Omar Torrijos, na sua fotografia de que mais gosto: com um grupo de crianças, na represa do rio Bayano (1973)

terça-feira, 30 de julho de 2019

ENTRE GUSRKY E MONDRIAN

Ateneu Comercial: azulejos e armários abandonados, assim a dar para o flashy. Qualquer coisa a meio caminho entre a fotografia de Andreas Gursky e a pintura de Piet Mondrian. A Arte sempre a atravessar-se no quotidiano.



STARDUST MEMORIES Nº. 29: ATENEU COMERCIAL DE LISBOA

Em 1976, a piscina era descoberta e tudo era branco em volta do tanque. Houve melhoramentos, há mais de 20 anos, e o resultado foi uma total desgraça. Ali aprendi a nadar, beneficiando da paciência de Shintaro Yokochi e de Carlos Cruchinho. Quase me parece irreal que fossem treinadores e nadadores de primeira a ensinar os miúdos. Ainda para mais miúdos sem aptidão, como era o meu mais que óbvio caso. A única ligação que tive com a alta competição foi o facto de Yokochi me achar parecido com o  célebre nadador alemão Roland Matthes...

Voltei hoje ao Ateneu, por outras razões. Decrepitude é palavra curta para descrever o cenário. Houve uma insolvência e há apetites imobiliários. Está tudo na habitação de luxo e nos hotéis de luxo. Como a antiga sede dos CTT, na Rua de S. José. Perguntei ao José Vicente "queres ir até lá? é o único palácio de Lisboa que parece romano". Fomos. As obras ainda não começaram. Mas irão começar. Como daqui a uns tempos, no Ateneu. Que é já só uma sombra das glórias passadas.

segunda-feira, 29 de julho de 2019

CINEMA 15

Foi uma revista importante no começo da adolescência. O tempo torna as coisas difusas. Juraria que surgiu no verão, mas as informações disponíveis apontam para o inverno de 1975. Creio ter comprado todos os números. A revista teve curta existência. Era dirigida por Américo Leite Rosa e tinha como editor Vitoriano Rosa. Os textos eram claros, bem escritos e concisos. Não era uma revista "de esquerda", nem se debruçava sobre cineastas então muito incensados - qualquer demagogia pseudo-marxista passava por genialidade... -, mas também não era isso que eu procurava na revista.

Aos 12 anos, tudo era uma descoberta para quem queria ser cineasta. E dessas leituras retenho, entre outras  coisas, os textos de uma portuguesa chamada Leolina Clara Gomes Dias Simões (1925-2002), que se tornou conhecida com o pseudónimo de Clara D'Ovar. É um nome que está hoje esquecido, mas que teve papel importante nos anos 60 e 70. As crónicas que assinava, pícaras e pouco convencionais, faziam-me rir até às lágrimas.

Não me tornei cineasta. Fiquei-me pela cinefilia. Faz-se o que se pode.

domingo, 28 de julho de 2019

MILREU

São 16 horas e não se vê vivalma. Não está muito calor, mas as ruínas de Milreu estão desertas. "Cuidado com as vespas", avisara o cordialíssimo funcionário da receção. Mas nem essas dão sinal de vida, no meio da tarde. Quanto mais os anos passam, mais me convenço que um centro interpretativo, com bons e claros painéis, mais um percurso razoavelmente assinalado e uma estação arqueológica limpa e visitável, não chegam para "fazer" um sítio. Tardamos em colher experiências e em aplicá-las. Quarenta e cinco anos depois do 25 de abril estamos ainda no ponto de partida.

No meio da visita, dou com uma fotografia do Dr. Theodor Hauschild. O que será feito dele? Como verá tudo isto, do alto dos seus 90 anos? A escavação de Milreu foi mais além - ou vai mais para cá - do período romano. Dos pagãos passou aos cristãos, depois aos muçulmanos. Dois fustes com inscrições em árabe são a prova tangível daquilo que há muito se sabe. Que as grandes villas romanas tiveram ocupação continuada até ao período califal.

Uma hora mais tarde, o sítio continua deserto. E à espera de visitantes que tardam em chegar.


sábado, 27 de julho de 2019

REGRAS DE COMUNICAÇÃO

O propósito de um painel à porta de um estabelecimento é informar, certo?

Há caracóis.
Temos pneus novos e recauchutados.
Computadores a partir de xis euros.

Este portão é um naïve e eficaz meio de comunicação. Os serviços da oficina estão ali bem explicados. Menos, para mim, a parte da cama, que me parece meio enigmática.

Ainda existirá? A fotografia data de 2012 e foi feita em Bolama.

LOULÉ - 5/5

Aos poucos, se tem revelado o Portugal Islâmico. A hipótese de o embasamento da torre sineira de S. Clemente, em Loulé, ser parte do minarete da mesquita local foi avançada, salvo erro, por Michel Terrasse. É a estrutura que, a título indicativo, se referencia na imagem.

A estrutura deverá datar de finais do século XI ou da primeira metade do século XII d.C.

Veja-se a abordagem mais detalhada de Cristina Garcia em http://islamicart.museumwnf.org/database_item.php?id=monument;ISL;pt;Mon01;12;pt

sexta-feira, 26 de julho de 2019

O ELOGIO DA BURACA

         “Você mora onde??”. Várias vezes tenho sido surpreendido com esta pergunta. O tom é quase de alarme. Podia “iludir” a questão e dizer “na Amadora”. Ou, de forma ainda mais dissimulada, “muito perto da estação de Benfica”. Mas não, a Buraca é a Buraca. É onde estou e onde gosto de estar. O nome é, quase sempre, sinónimo de terror. Como se dissesse “vivo no South Bronx”. Ou “em LA South Central”. Ao fim da rua, a menos de 400 metros, fica a Cova da Moura. Que é sinónimo de periódicas confusões.
         A janela da cozinha fica virada para um local de passagem. Ao longo do dia, quando lá estou de dia, é uma janela sobre o mundo. Gente que vai para o trabalho ou do trabalho regressa. Emigrantes africanos ou cidadãos portugueses de origem africana passam a toda a hora. O passo deles tem um ritmo musical ou sou eu que assim quero que seja? Há reformados, que o bairro tem cada vez mais reformados, e há ainda um ambiente de família. Há gente que se conhece há décadas. A dona do supermercado pergunta-me pela Isabelinha com regularidade. A senhora do rés-do-chão em frente trabalhou em Moura e ainda se lembra das ruas, descrevendo-mas como elas eram há 50 anos. O dono do quiosque dos jornais é da Amareleja. A praceta é um mix de alentejanos, de beirões e de população de origem africana. Afinal, foi o bairro que deu origem aos BURAKA SOM SISTEMA. Na Buraca não há condes nem viscondes. Se há, é porque faliram. Os carros velhos são tantos como os novos. O bairro está entre a memória dos subúrbios de outrora – oficinas nas traseiras, cafés de ar pouco próspero – e a modernidade que aí vem. Num quintal das traseiras há uma figueira, a dar um toque de ruralidade. Mais longe, a uns 100 metros, e do outro lado da Estrada da Circunvalação, há sempre música num bairro habitado maioritariamente por ciganos. O facto de usar chapéu já deu origem a divertidos equívocos.
         Volto à janela e o bulício continua. Novos, velhos, continuam a passar a ritmo incessante. Ao fim do dia, quando a noite se fecha, são mulheres anafadas, na casa dos 50/60 anos, que regressam das empresas onde trabalham nas limpezas. Não é raro que tenham dois empregos: 14 horas de trabalho, mais 2 em transportes vários, mais as compras, mais a família. Dessas vidas ninguém se lembra, e a elas não chegam as condecorações nem o elevador social. É neste ambiente que regresso muitas vezes a casa, no 50 ou no 54.
         “Você vive na Buraca??”. E eu que sim, e gosto daquele ambiente de mistura e popular. Um bairro com gente autêntica e onde ainda há crianças no parque infantil e no polidesportivo ao virar da esquina.

quinta-feira, 25 de julho de 2019

BIBLIOGRAFIA MOURENSE - UM REGISTO PESSOAL: 5/13

Novo interregno. Entre 2001 e 2005 tive os meus anni di galera. Depois do ciclo de exposições no Museu Nacional de Arqueologia e em Marrocos e do projeto Terras da Moura Encantada, fechei-me na tese. Com a abertura do Museu Islâmico, em Mértola, em finais de 2001, terminava um ciclo. No final de 2005, e já numa nova vida, pude retomar dois projetos antigos. Um, este que agora menciono, implicava publicar um trabalho feito para uma cadeira da licenciatura, em 1984/85. Nele recolhia toda a informação iconográfica e documental disponível sobre as muralhas seiscentista de Moura. Só me faltou um pequeno troço, que haveria de "descobrir" anos mais tarde. Tal como me escapou a existência de algumas estruturas dessa muralha, nos anos 20 do século XX, no sítio onde está hoje um super-mercado.

Completava este livro um estudo sobre atalaias, de uma jovem colega, a quem decidi dar "sociedade".



Fortificações modernas de Moura
Autores: Santiago Macias e Vanessa Gaspar
Formato - 20 x 20
Nº de páginas - 93
Ano de edição - 2005
Classificação CDU - 725.18(469)"13/18"

quarta-feira, 24 de julho de 2019

COMANDAR E ASSUMIR RESPONSABILIDADES

Nesta época do passa-a-bola, mais impressão me faz a fuga às responsabilidades. Quando um "responsável" quer fugir a perguntas incómodas responsabiliza "os técnicos" ou chama "as chefias" para responderem por ele. A isto chegámos...

Encontramos disto por toda a parte. Nos governos, nos institutos, nas universidades, nas câmaras... Gente sem preparação técnica e/ou política e com debilidade éticas foge e esconde-se. Vamos encontra-los em momentos simpáticos, quando tudo corre bem. Dizia-me esta tarde um amigo "é difícil atacar quem não assume a liderança". Respondi que "há um momento para tudo, até porque os cobardes se traem sempre".

Nunca entendi a perspetiva da fuga às responsabilidades. Sempre defendi que o princípio é não atirar para cima dos trabalhadores o que quer que seja. Muitas vezes o disse na Assembleia Municipal: "o responsável é o Presidente da Câmara". Poderá haver outras perspetivas. Seguramente que sim. Mas continuo a pensar que quem tem de assumir responsabilidades é quem comanda. E não atirar para cima de subalternos essas responsabilidades ou o fornecimento de explicações quando se dá barraca...


STARDUST MEMORIES Nº. 28: HAWKER SIDDELEY HS 748

Faz hoje 30 anos. Nunca tinha ido a Cabo Verde e aproveitámos a hospitalidade da Maria João e do Carlos. A casa deles era num sítio chamado Terra Branca. Há poucos anos, voltei ao local e foi com dificuldade que reconheci o edifício, hoje rodeado pelo crescimento da cidade da Praia.

A Praia ainda não tinha aeroporto internacional. Isso obrigou-nos a uma razoável seca de sete ou oito horas no Sal. De Lisboa para o Sal o voo era feito pela TAP, num Airbus A 310, um modelo que a companhia não tem há muito. Do Sal para a Praia, os aviões eram estes: os Hawker Siddeley HS 748, um modelo que os TACV também já não têm ao serviço. Bom, a verdade é que 30 anos se passaram...

Nunca escrevi sobre essa viagem, que tantas e tão fundas marcas me deixou. Poderia começar pela viagem no Hawker, onde um trio de animados emigrantes, vindos de Portugal, se entretinha a contar anedotas em crioulo. Não conheço a língua, mas deu para perceber que algumas delas eram sobre alentejanos.

terça-feira, 23 de julho de 2019

FOGO

O fogo chegou a Cardigos e rondou o Carvalhal. Casas queimadas e hortas meio torradas pelo calor. Não há gente para limpar o mato. Ficaram os velhos e chegam os reformados. O problema é demográfico, em primeiro lugar. O interior está votado ao abandono. Menos nos momentos em que há feiras. Aí, há uma revoada de secretários de estado, de deputados e de ministros. Elogiam muito e regressam aos tapetes fofos. Em 2020 vai tudo voltar a arder.

António Costa está em momento teflon. Os autarcas e tal. Depois de toda a gama de inutilidades legislativas que se vão produzindo, dos cortes orçamentais, de mais e mais entorpecimentos, a culpa é dos autarcas. Pois claro! De quem mais haveria de ser?

Já agora, quais são os resultados práticos dessa inutilidade pomposa que dá pela nome de Unidade de Missão para a Valorização do Interior?

segunda-feira, 22 de julho de 2019

DIA LIDO E ESCRITO

Leituras e escritas cruzadas. Um livro cuja redação se conclui. Haverá lançamento em Moura, no outono. Apesar da escrita avançar aos saltos e de um modo que me parece errático.

Mas o fator de perturbação foram as Canções mexicanas, de Gonçalo M. Tavares. Não posso dizer que tenha gostado. A inversa também não é verdadeira. Não conseguiria perceber o livro se não tivesse visto Roma, de Alfonso Cuarón. E também não gostei especialmente do filme. A verdade é que a escrita fragmentária e difícil de Tavares - algo entre o David Lynch de Eraserhead e uma versão radical de António Lobo Antunes - nos dá imagens parcelares e violentas do México. O narrador não é Tavares, mas alguém num caminho de vertigem por entre um México popular e violento. Não sei se a cidade é assim, mas as canções parecem convincentes.

O estilo de escrita ajuda-me. Nem sempre os fragmentos são desconexos. 

domingo, 21 de julho de 2019

DONALD TRUMP E A PRÉMIO NOBEL DA PAZ

Conversa com a Nobel da Paz, Nadia Murad Basee Taha (legendada em espanhol). Custa a crer que é este o nível do homem mais poderoso do planeta. Indigência e falta de preparação...

LOULÉ - 4/5

Ando para aqui às voltas sem conseguir saber quem é o autor desde sóbrio e bonito edifício. Tem ar de cine-teatro, com aquele espaço na esquina para os cartazes de outrora. Hoje é um supermercado.

A arquitetura moderna, na região algarvia, dá cartas. Muitos e bons edifícios foram desenhados e construídos nos anos 50 e 60 no extremo sul do País. Já disso me dera conta, em anteriores estadas. Fui descobrindo nomes e edifícios. Fica agora esta dúvida: quem desenhou este edifício?

sábado, 20 de julho de 2019

OLHA O ANTÓNIO!

Só ontem descobri este site/portfólio, do António Cunha (n. 1954). Ali revi velhos projetos. E outros que conheço, sem neles ter participado. O António é um grande fotógrafo alentejano, com passagens por todos os cantos do mundo. Vale a pena consultar o site. Há muita e boa fotografia.


Ver - http://www.antoniocunhafotografia.com

sexta-feira, 19 de julho de 2019

UM HOMEM NA LUA - 19.7.1969

Há os terraplanistas.
Há os criacionistas.
Há os anti-vacinas.
Há os que acreditam que James Dean e Elvis Presley estão vivos.
E há os que acham que a chegada à Lua foi um filme rodado por Stanley Kubrick.
Em homenagem aos que criaram essa madrugada, e da qual tenho uma difusa memória (com seis anos não dá para muito), aqui fica um excerto do alucinante Operation Avalanche. Não estão muito longe do meu bisavô José Perfeito (1888-1975), que achava, convictamente, que eram homens mascarados aos pulos numa seara.

quinta-feira, 18 de julho de 2019

BIBLIOGRAFIA MOURENSE - UM REGISTO PESSOAL: 4/13

Sempre tive este livro como "pouco amado". É verdade que a grande fotografia que o Mariano Piçarra fez, e que foi escolhida para a capa, não é muito festiva. Mas o que se queria era que a Festa de Moura fosse retratada por seis fotógrafos. Que cada desse uma perspetiva de um aspeto particular e que todos fotografassem a procissão. Moura - crónica da festa foi mais um esforço de fixação da memória do sítio e das coisas que nele sucedem naqueles cinco dias.

É um livro de registo e de crónica. Que teve uma inspirada produção gráfica de Luís Moreira. Criou soluções geniais e pontuou o texto de vinhetas, numa proposta criativa. Já passaram quase 20 anos. Continuo a achar que foram produzidas imagens excecionais. Que o tempo tem melhorado. Como sempre acontece com as boas colheitas.


Moura - crónica da festa
Autores: Alberto Frias, António Cunha, António Pedro Ferrreira, José Manuel Rodrigues, Mariano Piçarra, Rui Cunha e Santiago Macias
Formato - 28x30
Nº de páginas - 159
Ano de edição - 2001
Classificação CDU - 77.04(469)"19/20"

quarta-feira, 17 de julho de 2019

JOÃO MIGUEL TAVARES I, O INCULTO

O discurso do dia 10 de junho foi um chorrilho de bem escritas banalidades. Com um par de equívocos e umas asneiras sobre elevadores sociais à mistura. Espantou-me que causasse tantos entusiasmos, pró e contra.

Depois do lamentável texto de Fátima Bonifácio - que não me parece de molde a causar processos judiciais (não tarda nada estamos nos crimideias...), surge agora JMT a dar um ar da sua graça. Vai perdendo o ar algo "desalinhado" que tinha. Era só cosmética, afinal. Atreve-se agora a umas aflições conceptuais, que envergonham quem as lê. Um intelectual de café que, objetivamente, confunde cultura com mundo ocidental.

Ioánnis Metaxás (1871-1941) decretou, na Grécia, o surgimento de uma Terceira Civilização Helénica. O tavarismo quer ser a versão lusitana do fascismo grego. Com a mesma prosápia e idêntica incultura.

007 - VERSÃO POLITICAMENTE CORRETA

Lixam tudo. Com o politicamente correto, não vai sobrar nada. Não fica pedra sobre pedra. Que Lashana Lynch seja muito bonita é uma coisa (acho que ainda posso dizer brasa sem ir preso...). Que se queira fazer dela a 007 pós-Craig é um disparate. Vai agradar aos grupos que fazer da reivindicação uma profissão. Eventualmente, também agradará a um punhado de feministas. Não vai "colar". Porque há coisas que não fazem sentido assim. E não se promove a igualdade assim.

Quanto aos futuros bond boys, prevejo-os por quotas. Tem de haver um branco, um magrebino, um cigano, um latino, um chinês, um negro etc.

Quanto aquela relação com Moneypenny, não sei, não sei...

Lixam tudo e transformam a vida em xanax.

terça-feira, 16 de julho de 2019

LOULÉ - 3/5

Foi um personagem chave do salazarismo.

Teve carreira fulgurante:
Professor catedrático aos 25 anos.
Diretor do Instituto Superior Técnico aos 27 anos.
Ministro da Instrução Pública aos 28 anos.
Ministro das Obras Públicas e Comunicações aos 32 anos.
Presidente da Câmara de Lisboa aos 38 anos, cargo que virá a acumular com a pasta das Obras Públicas e Comunicações.

Morreu em Setúbal no dia 16 de novembro de 1943, em consequência de um acidente sofrido, na véspera, perto de Vendas Novas.

A memória de Duarte Pacheco (1900-1943) está perpetuada na sua Loulé natal, em monumento desenhado por Cristino da Silva. O obelisco foi inaugurado no 10º. aniversário da morte de Duarte Pacheco.

Situa-se, ironicamente, no final da Avenida 25 de abril.

segunda-feira, 15 de julho de 2019

LOU REED, ANTES DE TEMPO

Em 1989, Lou Reed (1942-2013) cantava, em Good Evening Mr. Waldheim, "If I ran for President / and once was a member of the Klan". Estava muito longe de imaginar que os Estados Unidos teriam, em 2016, um presidente próximo desse estilo e dessas ideias.

Donald Trump sugeriu ontem, no twitter, que quatro congressistas deviam regressar aos seus países, com a inqualificável frase "why don't they go back and help fix the totally broken and crime infested places from which they came". Trata-se de Alexandria Ocasio-Cortez, Ilhan Omar e Rashida Tlaib. São cidadãs americanas de origem estrangeira. Tal como Trump.

Algo me diz que Trump não irá ficar por aqui.


59 ANOS MAIS TARDE...

Dei-me ao ocioso trabalho de ver quando é Portugal tinha conquistado o último título mundial de hóquei em patins em terras de Espanha. Foi em maio de 1960 (!), em Madrid. A modalidade tinha então uma imensa popularidade em Portugal. Muito longe da relativa indiferença que hoje desperta.

O jogo de ontem não parou o País. Mas foi bonito ver esta conquista. Foi o 16º. título em 44 edições.

sexta-feira, 12 de julho de 2019

OLHAR A SUL

Um mail, vindo de Marrocos, ontem à noite. Um telefonema, hoje à tarde. Ambos me dizem, sem o dizer, olha para sul, Santiago. Agora, depois da escavação e no meio da festa da padroeira, vou olhar para Moura. Depois mais para sul. Coisa que farei sempre em simultâneo. A escavação no Castelo de Moura, em 2020, já está pensada. O trabalho até meados de 2020 também. Depois se verá.

Fotografia - Abadi Madi

quinta-feira, 11 de julho de 2019

PRÉMIO VILALVA: CERIMÓNIA DE ENTREGA

Há momentos felizes, nos nossos percursos. A entrega do Prémio Maria Tereza e Vasco Vilalva, recentemente ocorrida, foi um desses momentos. A importância da reabilitação da Cerâmica Antiga de Coimbra foi importante tanto do ponto de vista arquitetónico e patrimonial como no que toca à rentabilidade do projeto.

O futuro constrói-se a partir do passado. Isso ficou bem claro. O futuro nos dará razão.

quarta-feira, 10 de julho de 2019

PEGGY

A partir de uma fotografia onde se via Peggy Ashcroft (1907-1991), o pintor Walter Sickert (1860-1942) criou a sua Variations on Peggy. Os tons são pós-modernos, o quadro nem por isso. A madeira e os bosques podem ser rosa. Veneza também. Imagino que sim, nunca lá fui.

Frequently the wood are pink—
Frequently are brown.
Frequently the hills undress
Behind my native town.
Oft a head is crested
I was wont to see—
And as oft a cranny
Where it used to be—
And the Earth— they tell me—
On its Axis turned!
Wonderful Rotation!
By but twelve performed!


Emily Dickinson



terça-feira, 9 de julho de 2019

CASTELO DE MOURA - ARQUEOLOGIA ONLINE

Os livros foram publicados em 2013 e em 2016. São dois volumes que sumariam as campanhas arqueológicas realizadas no Castelo de Moura até essa data. Os trabalhos prosseguem. É um projeto a que não se pode aplicar a palavra fácil. Constato, com orgulho e com tranquilidade, que o castelo de hoje tem muito pouco a ver com o de 1989. Tem sido um processo longo e difícil. Pouco consentâneo com discursos fofinhos e com palavras caritativas. A reabilitação do património implica ética, reflexão e ação.

Os livros sobre as escavações arqueológicas estão disponíveis online:

http://santiagomacias.org/publi.php?livros

Escavações no Castelo de Moura - 9.7.2019 (12:39)

segunda-feira, 8 de julho de 2019

DIAS DA FESTA QUE ESTÁ PARA VIR

Esta é a semana da Festa. Começa na quinta-feira e dura umas 115 horas. De quinta de manhã a terça de madrugada. É, para a Comissão, o culminar de um ano de trabalho. Uma festa popular e organizada pelos mourenses. Lá estarei, lá estaremos, com empenho, ao longo destes dias. A Festa de Nossa Senhora do Carmo justifica isso e muito mais.

domingo, 7 de julho de 2019

UMA QUESTÃO DE MATRIZ

Depois de anos a fio a fazer o contrário que defendia e do que tinha prometido - o Syriza era A esquerda, proclamava o Cardeal Louçã -, Tsipras perdeu as eleições. A regra é antiga. Quando não há matriz ideológica, o eleitorado compra o "produto" mais apelativo e confiável. Neste caso, o novo detergente é a Nova Democracia.

A verdadeira boa notícia: os nazis da Aurora Dourada foram varridos do Parlamento.

NACIONAL-BONIFACISMO

O que melhor denuncia o texto são os seus excertos:

As mulheres, que sem dúvida têm nos últimos anos adquirido uma visibilidade sem paralelo com o passado, partilham, de um modo geral, as mesmas crenças religiosas e os mesmos valores morais: fazem parte de uma entidade civilizacional e cultural que dá pelo nome de Cristandade. Ora isso não se aplica a africanos nem a ciganos.

Os africanos são abertamente racistas: detestam os brancos, e detestam-se uns aos outros quando são oriundos de tribos ou "nacionalidades" rivais.

O que é que nós temos a ver com este mundo [o dos ciganos]? Nada. O que tem o deles que ver com o nosso? Nada.

Não vale a pena continuar a citar o texto de Maria de Fátima Bonifácio, que ontem saiu no Público. As suas teses são claramente racistas e xenófobas. Na África do Sul dos anos 60 não teriam dito melhor. Textos assim vão alimentar o ovo da serpente que já se desenha. Caricato foi o editorial de Manuel Carvalho, que veio choramingar justificações. Entre outras coisas divertidas escreveu "defendemos uma liberdade mapa de expressão dos nossos colunistas".

JOÃO GILBERTO (1931-2019)

Em dois ou três anos reinventou a música brasileira. E a nossa. Nada voltaria a ser como antes. Ninguém compunha assim. Ninguém cantava assim, em sussurro e sem desafinar. Ninguém foi recluso assim. Ninguém foi lírico assim. Vão começar as coletâneas e as homenagens. A lenda já tinha começado em vida. Nós ficamos mais pequenos.

Aqui fica uma composição que não é dele. Gostaria de ter escolhido "Saudade da Bahia", porque ninguém cantou Caymmi como ele. Mas a gravação ao vivo que encontrei foi esta, interpretando outro génio, Ary Barroso:




sábado, 6 de julho de 2019

TODOS RIGOROSAMENTE VIGIADOS

Vem no "Expresso" de hoje. Um relatório em fase de conclusão, na Assembleia da República, vai recomendar a introdução de câmaras de vídeo na lapela das fardas dos agentes nas intervenções policiais. O tópico é o racismo, que continua a haver nas forças policiais.

Há racismo nas foras da ordem? Há, seguramente. Mas as forças da ordem refletem uma realidade que temos entre nós. Ou seja, há racismo e há xenofobia na sociedade portuguesa. Um dos aspectos mais curiosos desse racismo foi-me repetido vezes sem conta. Muitas pessoas me disseram que só eram racistas em relação aos ciganos. As razões da rejeição de boa parte da sociedade portuguesa, e de uma mútua e antiga desconfiança, são antigas. Pensar que se resolvem com câmaras de mútua espionagem na lapela é a vitória da sociedade orwelliana. Que a Assembleia da República recomende uma medida destas é a assunção de uma ignominiosa derrota.

Vamos por mau caminho.


sexta-feira, 5 de julho de 2019

CASTELO DE MOURA: OUROBOROS JUNTO AO ARDILA

Ouroboros é materializado por uma serpente ou por um dragão, que morde a própria cauda. É isso que nos acontece, desde 1989, no Castelo de Moura. Ou seja, tornámos, uma vez mais, realidade o mito do eterno retorno. Recomeçamos uma vez e outra. Com a certeza que a realidade nos suplanta e que, depois de termos partido, tudo recomeçará.

A escavação, que ontem recomeçou, faz parte de um processo de permanente (re)descoberta da vila onde nasci. Foi assim, vai ser assim.



quinta-feira, 4 de julho de 2019

BIBLIOGRAFIA MOURENSE - UM REGISTO PESSOAL: 3/13

Entre 1990 e 2000, os meus horizontes não passaram muito por Moura. Propus, em 1999, uma nova abordagem à obra de Zambrano Gomes. Um fotógrafo ainda hoje relativamente desconhecido, mas de inegável mérito. O livro, que recuperava muitas das imagens da edição de 1998, saiu no ano seguinte. Fui-me, entretanto, dando conta que os seus trabalhos abrangiam boa parte da região algarvia. Loulé, Faro e Lagos, designadamente, fizeram parte desse percurso. Do ponto de vista pessoal, o livro marcou uma viragem pronunciada para a fotografia. E vincou(-me) a importância do registo da memória.

Zambrano Gomes - fotógrafo de Moura
Autor: Zambrano Gomes
Organizador: Santiago Macias
Formato - 23x30
Nº de páginas - 135
Ano de edição - 2000
Classificação CDU - 77(460)"19"

quarta-feira, 3 de julho de 2019

MUSEU NACIONAL DE MACHADO DE CASTRO - DA VICINO

Em Coimbra, à procura de respostas. Ver o Machado de Castro, longamente e assim de perto, dá outra perspetiva das coisas. É claro que ver este teto mudéjar assim de perto me deixou com mais dúvidas que respostas.

O Machado de Castro é um clássico. A todos os níveis e de todas as formas possíveis. O cubo de Gonçalo Byrne valorizou o conjunto. O interior é luminoso e simples. Talvez com um pouco de informação a menos... É difícil, contudo, perceber as críticas à modernidade da intervenção, numa cidade barbaramente assassinada ao longo de décadas. Depois do arrasamento da Alta, a chacina da Baixa é um caso de polícia...


terça-feira, 2 de julho de 2019

POR TERRAS DE SÃO PEDRO

Talvez a grande villa romana se situasse nas imediações da atual ermida de S. Pedro. As pedras da Antiguidade Tardia conservadas no Museu Municipal, são disso evidiência.

Talvez a atual aldeia fosse um pequeno povoado de apoio à villa. Sempre me causou alguma estranheza a topografia meio "às avessas" do Sobral.

Talvez um dia a arqueologia dê resposta a essas dúvidas. E explique algumas coisa mais sobre a mineração medieval, literalmente sepultada em silêncio.

Nestes dias que passaram, interessou mais um certo sincretismo entre paganismo e religião. O que fez com que a tolerância fosse ainda maior que de costume. Houve liturgia, é certo, e uma procissão que serpenteou, campos fora, até chegar à aldeia. Houve muita gente no Gargalão. E uma atitude fraterna que me tocou bastante.

Tenho, desde há anos, datas obrigatórias no calendário. O S. Pedro, no Sobral da Adiça, é uma delas.



segunda-feira, 1 de julho de 2019

MORDILLO (1932-2019)

"Descobri" os desenhos de Mordillo em 1976, quando estava a iniciar o 8º ano. Foi através de uma colega de turma que era, já então, grande fã do humorista argentino. O traço característico, o colorido e um sentido de humor marcado, muitas vezes, pelo absurdo, tornavam inconfundíveis os desenhos de Mordillo. Aqui fica a homenagem. E a recordação dos já distantes dias do liceu.

O MOODLE E O RESTO


Nenhum estudante do ensino superior de “A Planície” ignora esta expressão. MOODLE quer dizer Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment. É uma plataforma de apoio ao estudo. Diz a wikipedia (e isto vale o que vale) que está disponível em 75 línguas diferentes. Conta com 25.000 websites registados, em mais de 175 países.
O meu entusiasmo com estas plataformas é limitadíssimo. Habituei-me a carregar nelas a bibliografia e os powerpoints das aulas. Como estes me servem apenas de ponto de partida, não é terrivelmente interessante passar aos alunos um desfilar de imagens. Mas as regras são essas.
O meu primeiro embate com as benditas plataformas deu-se há bem mais de 10 anos. Fui aos Serviços Académicos, em Gambelas, lançar as notas. “Ah, mas isso agora é feito na plataforma”. A senhora sentou-se ao meu lado e garantiu “isto é facílimo”. Faz-se assim, assim e assim. E assim e assim. Ao oitavo ou nono “agora clica aqui”, pedi “espere, espere”. Puxei do bloco de apontamentos e fiz um diagrama com setas, repetindo os passos. Uma seta na diagonal para cima e para a direita, outra para o lado, agora em cor vermelha. Um círculo. Um ponto de exclamação, auxiliares de memória uns a seguir aos outros. Expliquei a uma atónita funcionária “assim, não tenho de usar a memória para repetir estes passos de cada vez que aqui venho”. Olhou-me com um ar de piedade. Senti a tentação de lhe dizer que, no meu liceu, havia um pbx (o que será um pbx?, perguntará algum jovem que leia este texto), os “pontos” eram feitos com stencil, não havia computadores pessoais, muito menos havia moodle.
O moodle tem vantagens? Sim, tal como a plataforma “academia”. Tal como é uma tremenda vantagem podermos recorrer a textos que estão disponíveis na net e aos quais antes só podíamos aceder em longínquas bibliotecas. Mas o moodle e as plataformas não excluem as bibliotecas, a recolha de apontamentos e, sobretudo, as longas horas de conversa à volta de temas. "Sabem como é que recrutam professores para uma das melhores universidades americanas? Pedem três livros escritos por cada um dos candidatos e é com base nisso que fazem a seleção". A afirmação foi feita ao nosso grupo, em Mértola, por José Mariano Gago, há uns bons 10 anos. Ou seja, nem peer reviews, nem dados coisométricos, nem citações, apenas a leitura e a análise de textos.
A investigação tornou-se uma técnica ensimesmada e defensiva. “Tens um estilo de escrita que é pouco académico”, comentou uma muito jovem amiga. Repetia, sem o saber, o comentário da minha orientadora de mestrado. Tomei a frase como um elogio. Ora então, vivam então a liberdade da escrita e a busca da perfeição da escrita. É nisso que penso sempre, olhando as pisadas de António Borges Coelho, a única pessoa que conheço que sabe conjugar linguagem poética, um estilo fluido de narrativa e o absoluto rigor de análise. Isso, e a leitura, são coisas decisivas. O moodle é uma circunstância com a qual se tem de viver. Como a rinite crónica.
Em setembro, regressa o moodle – via Universidade Nova - à minha vida. Será utilizado de forma parcimoniosa e pessoal. E com o recurso a diagramas. Daqueles que causam risos em colegas mais novos dos serviços académicos.

Crónica publicada hoje, em "A Planície"