quarta-feira, 30 de setembro de 2020

JOÃO LEMOS ESTEVES E SNOOP DOGG

Estamos no final de setembro. Deixo aqui o link de um dos mais delirantes e divertidos artigos jamais escritos na imprensa portuguesa. Prometiam-se revelações escandalosas para este mês:

https://sol.sapo.pt/artigo/706142/opiniao-rei-emerito-volta-dentro-de-semanas-para-denunciar-a-morte-de-193-pessoas-as-maos-da-esquerda-e-acabar-com-o-governo-de-incompetentes-

Vale a pena rever o que se dizia que iria acontecer. O seu autor teve visões. Uma coisa que acontece a algumas pessoas.

terça-feira, 29 de setembro de 2020

MAIS UMA CORRIDA, MAIS UMA VIAGEM

Quase a terminar a Volta a Portugal, somam-se os pequenos episódios bizarros do quotidiano. Numa espécie de "universo paralelo".

À saída de Ferreira do Zêzere sigo, estrada abaixo, detrás de um pequeno comercial. Subitamente, a bagageira abre-se, ficando bem no ar e deixando à vista um nutrido e mal acondicionado carregamento de placas de madeira (algo semelhantes à imagem).

Buzino e faço sinais de luzes pensando "isto vai dar chatices". Ao fim de uns largos segundos, o carro pára na berma. Paro ao lado e aviso "o meu amigo já viu como leva a bagageira?". Olhou displicentemente para trás e sossegou-me "ah, aquilo? aquilo é normal".

A expressão "novo normal" ganha, a cada dia, uma inesperada amplitude...




A PROPÓSITO DA MESQUITA MEDIEVAL DE LISBOA

São assim algumas tempestades. Surgem subitamente, ameaçando deixar um rasto de destruição à sua volta. Quando menos se esperava, eis que as escavações no claustro da Sé de Lisboa ganham um pouco desejável protagonismo. Porque são notícia por razões de que ninguém gosta.

Fui ontem interpelado, por ser "da área" (arqueologia) e "da época" (islâmica) a escrever umas linhas sobre o tema. Verdade se diga que me remeti, nos últimos dias, a um deliberado silêncio, mesmo entre colegas, enquanto procurava coligir informação.

Li, entretanto, um ponderado e útil texto de Luís Raposo, que subscrevo e do qual retiro estes excertos:

"Os vestígios da antiga mesquita, por baixo da Sé de Lisboa, devem ser preservados. Aliás, existe ali uma longa diacronia, que se inicia na Idade do Ferro e compreende por exemplo um troço magnificamente conservado da antiga via que conduzia ao teatro romano, que também mereceriam ser musealizados.
Desconheço as circunstâncias técnicas específicas que ali existam e permitam conservador visível isto e não aquilo. A não ser conservado visível, o melhor é voltar a aterrar, mas não destruir.
(...)
Esperemos que prevaleça o bom-senso."

O que penso de tudo isto, e tendo acompanhado o arranque deste processo, em 1990?

1. Que Luís Raposo tem razão ao dizer que, caso não seja possível conservar é melhor cobrir, mas não destruir;
2. Que esse princípio é válido tanto para as estruturas da mesquita, como para quaisquer outras;
3. Que deve ser explicado no local (aos colegas, aos políticos, ao arquiteto, ao proprietário do imóvel etc.) o que está em causa, o que deve ser preservado na íntegra e o que deve ser coberto, o que deve ser musealizado ou não;
4. Que devem ser criadas condições, e estabelecidos prazos, para uma divulgação do que foi trazido à luz do dia (seja uma publicação destinada ao grande público, seja outra de caráter mais técnico), ainda que de forma parcial;
5. Que deve ser evitada a "caça às bruxas". Independentemente das falhas que possam ter ocorrido, trazer à colação o histórico recente de pouco nos serve, se o que está em causa é preservar / proteger / valorizar aquilo que verdadeiramente importa;
6. Que o diálogo e o debate aberto e sereno irão, seguramente, contribuir para ultrapassar este momento menos bom.

Espero, naturalmente, que prevaleça o bom-senso desejado por Luís Raposo. E que este exemplo sirva para que, futuramente, se evitem tomadas de decisão precipitadas ou ditadas pela conveniência das circunstâncias.




segunda-feira, 28 de setembro de 2020

HISTÓRIA, ARQUEOLOGIA E MUSEUS ETC. E TAL.

Nem uma vaga sobrou. Em nenhuma das universidades. Nem em História, nem em Arqueologia nem em História da Arte. Um fenómeno curioso, tendo em conta.

Notas de acesso mais altas? Na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Último colocado entrou com 16,9. A minha curiosidade é imensa. Quem serão? O que os move? O que pensam? O que sabem? O que leram? (Re)começo o ano académico no dia 6 de outubro.




domingo, 27 de setembro de 2020

VOZES DO MAR

Tarde quente e húmida, no Funchal. Faço uma pausa enquanto o sol roda. Nunca tanto o sol me condicionou, como nestas últimas oito semanas. A luz está limpa e mediterrânica. Faço quase quatro quilómetros ao longo da Estrada Monumental. Há vozes do mar por ali.


VOZES DO MAR


Quando o sol vai caindo sobre as águas
Num nervoso delíquio d'oiro intenso,
Donde vem essa voz cheia de mágoas
Com que falas à terra, ó mar imenso?...

Tu falas de festins, e cavalgadas
De cavaleiros errantes ao luar?
Falas de caravelas encantadas
Que dormem em teu seio a soluçar?

Tens cantos d'epopeias? Tens anseios
D'amarguras? Tu tens também receios,
Ó mar cheio de esperança e majestade?!

Donde vem essa voz, ó mar amigo?...
... Talvez a voz do Portugal antigo,
Chamando por Camões numa saudade!

Florbela Espanca

TOREL

Entra-se pela Rua Júlio de Andrade. Há por ali uma série de bem escondidos e bem sossegados palacetes burgueses oitocentistas. O Jardim do Torel já esteve ao abandono e esquecido. Hoje não é assim. Vamos descendo em zigue-zague, no vento e na luz do sábado de manhã. Os bicos de gás foram substituídos, há muito, pela eletricidade. A estatueta egípcia evoca as festas de outrora. No meio do percurso há uma escola primária "português suave". À saída, viramos para a Rua de São José e damos de caras com o espavento da sede dos CTT (não sei se ainda é...).

As ruas estão pouco menos que desertas. O vento amainou, a luz não. Daí a pouco, pego na CANON e vou trabalhar.





sábado, 26 de setembro de 2020

BULA MG-48-04

No meio de um interminável projeto de investigação entrei, há dias, no Museu Militar de Elvas. Toda aquela parte da fortaleza está organizada com rigor e disciplina castrenses. Os militares que nos recebem são de uma disponibilidade total. No meio do calor da tarde, e ante o meu atarantamento, um deles sugeriu “não se esqueça de visitar o setor das viaturas, fica na parte de trás”.


O forte é imenso. Muitas vezes dei comigo a pensar – ao olhar para o esplendor de Elvas ou de Almeida, mas também para obras menos complexas como Campo Maior, Ouguela, Arronches ou Moura – “que gente extraordinária foi aquela que, em poucos anos, mudou a face dos castelos medievais? que homens eram aqueles que construíram as defesas de um País em muito pouco tempo? que alma tinham e com que convicção o fizeram?”. Não saberemos os seus nomes, mas a eles devemos quase tudo.


Era nisso mesmo que pensava ao percorrer o forte. No anonimato dos homens e na importância da preservação da memória. A dado momento, passo por um carro de combate. Um chaimite – só o nome é fantástico, por aquilo que evoca – com o nome pintado. Leio BULA. Procuro informações adicionais, mas não há rigorosamente nada. Tenho uma quase certeza “esta foi a viatura em que evacuaram Marcelo Caetano do Quartel do Carmo no dia 25 de abril de 1974”. Tomo nota da matrícula, MG-48-04. Tomado de um estranho impulso, faço uma coisa que nunca fizera. Toco a chapa do blindado, enquanto penso “estou a tocar a História e estou a tocar o dia mais importante do século XX de Portugal”. Ao chegar a casa, vou rever a reportagem de Alfredo Cunha. Irrepetível e genial. E já ele pode fotografar milhares de coisas, que nunca voltará aquele dia único, “o dia inicial inteiro e limpo / onde emergimos da noite e do silêncio”, de que nos falou Sophia de Mello Breyner Andresen. Lá estão os blindados e lá está o chaimite.


No calor da tarde de Elvas ficara uma viatura. O nome (Bula) é de um sítio a norte de Bissau. Mas nada, no museu, nos explica o que é Bula e onde fica, que carro é aquele e que importância teve, num dia decisivo para todos nós. Sinto um estranho embaraço. Como historiador, sempre me causou estranheza a forma como, em Portugal, lidamos com o passado. Renegamos a memória, ocultamos os factos e temos vergonha dos nossos libertadores. Aquela viatura – uma caixa de metal com um nome e uma matrícula – é muito mais que um carro com rodas. Nela teve lugar um momento decisivo do século XX português. Devia ser objeto de pedagogia e não de esquecimento.


Nestas alturas, lembro-me sempre de uma entrevista que fiz a António Borges Coelho, há já muitos anos. A dada altura, disse algo como “a memória do passado recente é ocultada, porque muitos dos que estão no poder são filhos e netos dos de outrora; são os mesmos e protegem-se”. Essa frase não mais me saiu da cabeça. E justifica, muito provavelmente, a envergonhada situação em que está um certo chaimite. O tal em que Marcelo Caetano viu, pela última vez, Lisboa e que tem a matrícula MG-48-04.


Crónica publicada no "Diário do Alentejo" (25.9.2020)




quarta-feira, 23 de setembro de 2020

UM ABEL FERRARA LUSITANO

Estou à espera que a nuvem passe, empoleirado num banco de pedra. Ao meu lado, um carro de transporte de valores faz uma lenta, e ilegal, marcha-atrás. Um clio velhíssimo tem de parar, por causa da manobra. Detrás do meu banco sai disparada uma jovem de ar desleixado, que resolve cumprimentar a dona do clio dando um pontapé no carro. Erra no local e exagera na força. O farolim do clio voa, em pedaços. A nuvem passou, mas com tanto carro tenho de esperar mais um pouco. Os ânimos exaltam-se. A jovem "oh, c******, lá f*** a merda do farolim". A dona do carro cruza os braços, gelada. Depois diz "agora pagas essa merda". Depois, tira a cabeça de fora e interpela-me "já que está fazendo fotografias, bem pode fotografar isto". Faço que sim, por fazer. A dona do clio vai estacionar o chaço. A jovem continua um chorrilho de palavrões, f***-se, c******, p*** que pariu, enquanto se senta numa esplanada e telefona, num tom que se deve ouvir em Figueiró dos Vinhos, a um mecânico "olha lá, quanto é que custa uma merda de um farolim?". A dona do clio chega entretanto. Ficam as duas na mesma mesa, rindo loucamente. Mas loucamente mesmo, não é loucamente assim-assim. Por prudência, abrevio a sessão, meto-me no carro e zarpo para a Lousã. Telefono a uma velha amiga "quando isto acabar, escrevo um livro". Ao longo de oito semanas, vinca-se-me a velha convicção que há um Portugal paralelo e muito pouco falado ou conhecido.


terça-feira, 22 de setembro de 2020

UM POUCO DE ARQUEOLOGIA MUSICAL

Ando arredado das novidades há décadas. Diga-se de passagem que a minha onda nunca foi muito pop. Nem o rock metálico. Era muito mais o punk 😊, mais o ska e o reggae. Por isso dei um salto no carro - ia na A23, a caminho da tal terra que mudou de nome - ao ouvir estes FONTAINES D.C.. Nesta altura arrisco sempre o número do velho jarreta, mas não faz mal... Gostei MESMO de Televised mind, que tem um som muito pós-punk:


ENA!

MARCO DO CORREIO

Por detrás do marco do correio está um edifício projetado por António Reis Camelo e, depois, muito alterado por Cândido Palma de Melo. Fica em Tomar, na esquina da Rua de S. João com a Rua Infantaria 15. À frente do edifício fica a majestade da igreja de S. João Batista e, um pouco mais ao fundo, a Câmara Municipal.

Enquanto resmungava baixinho "contra" a luz cinza da tarde ("400 ASA, a 125 e abertura de 11, deve ficar lindo...") e esperava que não houvesse ninguém em frente do edifício, apareceu o carro dos CTT. Vinha recolher o correio. O funcionário abriu o marco e recolheu 1 (uma) carta. Longe vão os tempos em que o sr. Ludgero abria o marco em frente ao tribunal de Moura e quase enchia aqueles fantásticos sacos em couro que os carteiros então (então é igual a 1972 ou 1973) usavam.

Tentei recordar há quanto tempo não escrevo uma carta e não consegui lembrar-me. Não cabem aqui as cartas para o Departamento da Faculdade, para as Finanças etc. Mas uma carta mesmo, daquelas "nós por cá todos bem", não sei há quanto tempo não mando. Quase me passou um sentimento de culpa ante o ar resignado do carteiro. Eram 16:05.

Resmunguei mais um pouco, antes de rumar a Constância. Pelo caminho dei comigo a lembrar-me de uma velha canção de Alberto Ribeiro. Um grande cantor, tão esquecido como as cartas e como, em breve, os marcos do correio.













segunda-feira, 21 de setembro de 2020

RESTAURO DA IGREJA DE SANTA ISABEL, EM LISBOA, VENCE PRÉMIO VILALVA

A notícia foi hoje divulgada. O Prémio Vilalva é atribuído ao restauro de um igreja em Lisboa.












O júri salientou ainda: 

A espetacularidade e requinte estético do projeto de pintura de Michael Biberstein (na foto), que cobre a totalidade da abóbada. Trata-se de uma das mais notáveis intervenções da arte contemporânea numa arquitetura clássica, concretizada depois da morte do pintor com o acompanhamento do artista Julião Sarmento e do curador Delfim Sardo;

A pluridisciplinaridade e elevadíssimo nível de qualificação da equipa (coordenada pelo Padre J.M. Pereira de Almeida e pelo Arq. João Appleton) que tem procedido aos trabalhos, potenciando saberes da engenharia, da conservação e restauro, da história da arte, do design de equipamentos e da arte contemporânea;

A metodologia de intervenção em faseamentos sucessivos que, em 2020, se concentram na valorização do altar inicial da Igreja e na criação de novo mobiliário litúrgico. 

O júri decidiu ainda atribuir uma  menção honrosa ao projeto de reconversão e reabilitação do Prédio na Rua da Boavista, 69, também em Lisboa. A decisão, de acordo com o júri, justifica-se pela qualidade do projeto de reconversão e reabilitação de um prédio que será de fundação fino-setecentista e pelo empenho dos arquitetos Filipa Pedro e Paulo Pedro na recuperação e recriação de diversos elementos construtivos e decorativos do edifício inicial ou das sucessivas fases da sua historicidade. 

Ver - https://gulbenkian.pt/noticias/restauro-da-igreja-de-santa-isabel-em-lisboa-vence-premio-vilalva/

domingo, 20 de setembro de 2020

DESCUBRA AS DIFERENÇAS E GANHE UM MAGNÍFICO APARTAMENTO

Nas férias do verão (1971, 1972, por aí), o Diário Popular lançava um concurso. Publicava diariamente dois desenhos com diferenças (umas seis ou sete, se não me falha a memória). Quem queria concorrer tinha de juntar todas as publicações feitas ao longo do verão e remetê-las ao jornal. Era, depois, sorteado um apartamento entre os que acertavam tudo.

Lembrei-me hoje deste concurso ao ver, no facebook de um amigo, um "discurso" que faz lembrar ISTO:


O MAR ALI AO LADO

São três quilómetros em linha reta, até ao oceano. Antes não era assim. O mar chegava até Atouguia da Baleia. Um canal que vinha ao longo do vale, onde hoje vemos terras de cultivo, fazia desta pequena localidade um porto importante. O mar escapou-se e o esplendor de Atouguia ficou gravado nas pedras, na pintura e na escultura da igreja de S. Leonardo. Um gótico que quase parece deslocado, no meio da paisagem e numa localidade que perdeu a importância de outrora.

A igreja conserva uma Natividade pouco comum. Foi o motivo primeiro da visita desta manhã. Com tempo para recordar a primeira visita a Atouguia, em 29.1.1983...










sábado, 19 de setembro de 2020

NO FORTE

É uma visita que não nos deixa indiferentes. Felizmente, há muita gente a visitar o Forte de Peniche, numa tarde de sábado que mais parece de outono avançado. Ao menos, ali não acontecerá a vergonha nacional que foi a transformação da sede da PIDE em condomínio de luxo.

Encontro, por toda a parte, memórias da repressão. Vejo, por várias vezes, referências a um amigo que ali esteve preso durante 6 anos. Não resisto a telefonar-lhe. A conversa prolonga-se por muitos minutos, por entre recordações de um passado já distante. Fica com a esperança que aquele espaço sirva de exemplo. Também tenho essa expectativa. O futuro museu é uma obra necessária.

Uma nota curiosa. Os funcionários (não me refiro ao cordial segurança de uma empresa privada) são de uma rudeza difícil de descrever. Fico na quase dúvida se aquele comportamento malcriado e "parapidesco" é uma forma de nos introduzirem no ambiente do forte...




quinta-feira, 17 de setembro de 2020

QUASÍMODO BEIRÃO

Início de manhã e meio de tarde à volta de S. Pedro do Sul. Com idas e vindas entre Viseu, Tondela, Santa Comba Dão e Tábua. Mais de 30 minutos no alto de um escadote para fotografar um edifício de Jorge Ferreira Chaves. Ora aparecia o sol quando não devia, ora alguém estacionava onde não poderia, ora isto, ora aquilo, oscilando entre o automático e o manual da máquina. Mais de meia hora nisto ante o gáudio - espanto - as perguntas de quem passava. Depois de fechado o "dossiê São Pedro do Sul" e a caminho do carro dou com isto. Mas isto é possível? Estava exausto, pior fiquei.




quarta-feira, 16 de setembro de 2020

A NOVA DIREITA É ISTO??? ESTAMOS TRAMADOS...

"Não teremos extrema-direita enquanto Paulo Portas fizer o pleno da demagogia e se apropriar dos temas caros a essa faixa do eleitorado". Escrevi isto num artigo para o jornal "A Planície" de 1 de junho de 2014. Infelizmente, não me enganei. Desaparecido Portas da cena política, sem ninguém com punch naquela área, rapidamente apareceu um neo-fascista, com todos os predicados para um reality-show: boçal, ordinário e com arte para explorar a raiva do público de Howard Beale.

Surgiu, há dias, este vídeo nas redes sociais. É um ato de "não-comunicação". Mais de treze minutos de arrazoado teórico suscetíveis de entusiasmar uma multidão de pinguins.

Momentos para Ricardo Araújo Pereira morrer de inveja:

1. O "boa noite" inicial. Supostamente, porque os recetores da mensagem a verão à noite. Como a minha prima Feliciana, que ditava cartas para o marido perguntando "então cá chove muito?". E depois explicava à minha mãe: "sim, porque lá é cá para ele". Uma lógica imbatível.

2. A referência ao "esforço herculano" (ao minuto 13:13). O que será um esforço herculano?

3. O moço silencioso por detrás do "presidente". Ao menos podia ter sido convidado a despedir-se, como fazia António Lopes Ribeiro com o maestro António Melo, no programa "Museu do Cinema": "diga boa noite aos telespetadores, maestro". E o músico, que acompanhava os filmes ao piano, lá disparava um tímido "boa noite".

Com jovens destes, bem pode o outro esfregar as mãos...


terça-feira, 15 de setembro de 2020

A SIC QUE VALE A PENA

Depois de ouvir os comentários rasteiros de Ana Gomes - que tem tempo de antena à borla - sobre o candidato João Ferreira fiquei sem dúvidas sobre o tom do que aí vem. E há amigos meus que se indignam quando uso a expressão "circo".

Tendo em conta o que a SIC TV é, deixo aqui uma imagem da outra SIC (Sociedade de Instrução Coruchense). A que vale a pena. É centenária e tem banda de música.

A fotografia foi feita pouco antes de rever e registar um muito adulterado projeto do arq. José Gomes Bastos.



segunda-feira, 14 de setembro de 2020

JOÃO FERREIRA À PRESIDÊNCIA

Irei votar em João Ferreira nas eleições para a Presidência da República. Por ser do meu Partido, mas muito mais do que isso. Por ser um jovem quadro, com um elevado nível de preparação técnica e política.

A escolha surpreendeu-me, pela positiva. Essa foi a nota que mais me agradou, logo de início.

Claro que a campanha anti-João Ferreira já começou. Ontem, num divertido programa da Rádio Renascença, vários comentadores da mesma área política - um deles, Nuno Botelho, foi especialmente divertido, acusando a Festa do Avante! de ser irrelevante, por não criar empregos 😀😀😀 - ignoraram completamente João Ferreira. Já sabemos o que o/nos espera. Como dizia um "algum defeito lhe hão-de encontrar...".

Vamos em frente, João!



SPELLBOUND VISEENSE

Chato mesmo é chegar ao hotel depois da uma da manhã, todo partido, e ver que o chão é uma alcatifa de olhos. Levei a noite toda sonhando com uma cena de um filme de Hitchcock, rodado há 75 anos.

Não tarda muito, estou como a senhora que era perseguida pelas torres do Técnico...









domingo, 13 de setembro de 2020

E VÃO 15

Já contei isto mais que uma vez, mas vale sempre a pena a repetição. Quando a revista "Arqueologia Medieval" saiu à rua, em 1992, foi-lhe augurada curta duração. Que o modelo de financiamento estava errado blablabla que aquilo não critério científico blablabla que era mais uma "astracanada" dos folclóricos de Mértola etc. Pois bem, ontem foi feita a apresentação do número 15. A revista dura há 28 anos. Não é anual? E daí? O importante é que saia, e que prossiga. Como tem acontecido.



sábado, 12 de setembro de 2020

CONCEIÇÃO SILVA TORREJANO E SOLENE

É um projeto de juventude de Francisco Conceição Silva (1922-1982). Tem o ar formal e solene de todos os desenhos do Estado, naquela época. Curiosamente, o edifício parece-me ter resistido bem ao tempo. Não está "velho" nem "ultrapassado". O que é sinónimo de qualidade.

A carreira, feliz até determinada altura, conturbada depois de 1974, ganharia outro alento nos anos 60 e 70. Conceição Silva criou projetos marcantes e construiu um ateliê que marcou muitos jovens arquitetos. O seu nome está hoje, e fora do circuito da arquitetura, completamente esquecido.

Quantas pessoas, em Torres Novas, saberão o nome do autor deste bonito edifício?




sexta-feira, 11 de setembro de 2020

STARDUST MEMORIES Nº. 41: ESTRADAS DE PARALELOS

Estava mais que convencido que os paralelepípedos em granito estavam já só reservados a arranjos nas áreas urbanas. Ao sair da Golegã, em direção a Santarém, fui "acordado" pelo som inconfundível dos pneus a trepidar nos "paralelos". Ao longo de umas centenas de metros na Nacional 365 regressei a um passado já razoavelmente distante. Quando muitas estradas no nosso país eram assim. Haverá, seguramente, mais troços.

As estradas tornavam as viagens ruidosas - entre Reguengos e Évora era quase impossível falar - e o meu pai reclamava que aquilo dava cabo da suspensão do carro. Mas que me soube bem aquele regresso ao passado, por entre o calor da tarde e a perspetiva de uma jornada ainda longe de terminar, lá isso soube.





E AGORA... TINO DE RANS

Alguns amigos discordaram do uso da palavra circo a propósito das presidenciais. O candidato fascista não me merecerá mais referências. A candidata Ana Gomes, mais o sue espalhafato "fraturante" e folclórico, também. Marisa Matias diz que quer combater o medo - no 1º de maio, o seu Bloco propôs celebrações simbólicas e virtuais - e eis que surge Tino de Rans. Está que tudo dito...



quarta-feira, 9 de setembro de 2020

REAL DE MOURA: DE 49 PARA 50

Várias vezes o tenho dito, com contentamento e uma ponta de "angústia". Assisti à primeira atuação do grupo no dia 9.9.1971. Tinha 8 anos e o meu pai levava-me, com regularidade, às corridas. Ainda bem que o fez.

Depois dessa data, muita água correu debaixo das pontes. Muitos triunfos mas, sobretudo, a construção de uma reputação que põe os Forcados de Moura entre os melhores. O resto é conversa.

Já lá vão 49 anos. No ano que vem, isto vai ser uma coisa séria. Tenho a certeza que vai!



terça-feira, 8 de setembro de 2020

CIRCO À VISTA

A antiga militante do MRPP já veio dizer que é candidata. Prevê-se uma animada gritaria. O candidato fascista já veio bolçar insultos a despropósito. Continua a ser diligentemente promovido por uma imprensa acéfala. Hoje, já esquecida a Festa do Avante!, uma publicação online dizia que a criatura chegou e venceu. Não se percebo o quê, e o texto deixa-nos na mesma.

Logo pela manhã, um daqueles inefáveis comentadores da Antena 1 referia as ideias dos candidatos e o debate que aí vem. Quais ideias? Qual debate?

Pão e circo. Sobretudo, muito circo.




segunda-feira, 7 de setembro de 2020

BAILE DE MÁSCARAS

Quando, na passada semana, aproveitei uns minutos de espera para poder fotografar – agora, é o sol que manda no meu trabalho, o que dá aos dias um toque poético... -, passei pelo Centro de Trabalho do PCP de Vila Franca de Xira. Ao comprar a entrada, a senhora que me atendeu perguntou “o camarada é aqui de Vila Franca?”. A pergunta deixou-me contente. Ou seja, os militantes são muitos e ela não os conhece a todos. Esclareci que não. Ato contínuo informou “não se esqueça que, se quiser ir ao comício, tem de reservar lugar”. A recomendação deixou-me tranquilo. A “Festa do Avante!” será marcada pela disciplina, pela organização e pelo sentido de responsabilidade.

Sou contra a realização da “Festa do Avante!”?

Nem por sombras, claro. Irei, com a mesma contenção com que tenho ido a outros eventos públicos. Já fui a corridas de touros, magnificamente organizadas e onde o rigor imperou; fui a uma ópera ao ar livre, onde o padrão de disciplina foi o mesmo. Tenho ido a festas de amigos onde o distanciamento, com uma ou outra exceção, tem sido a regra.

Não faltam os que querem mascarar a tentativa de impedir uma festa política de preocupação sanitária. Que não tem sido válida para outras iniciativas, do mais variado tipo. E com muito menos profissionalismo, rigor e eficácia do que, estou certo, irá acontecer na Atalaia. A Festa, com toda a convicção e alegria que pomos no terreno, será mais contida que em anos anteriores. Não se passa por uma situação destas ignorando-a e agindo de forma ligeira.


Tem-se apresentado a Festa como um “ajuntamento”. Que não o será. Ou, pelo menos, sê-lo-á muito menos que a Feira do Livro, as celebrações religiosas na Cova de Iria ou a caótica chegada de turistas ao Algarve. E com muito melhor organização, por certo.


O que aqui está em causa é outra coisa, bem diferente. Toda esta “preocupação” esconde, ou pretende esconder, o mais primário anticomunismo. Agitam-se fantasmas e escolhem-se culpados. Uma comunicação social servil ajuda à festa, atacando o PCP às claras e promovendo, sem vergonha, um recém-criado partido fascista. As redes sociais, que são reflexo, mas não reflexão, ajudam e espalham a campanha anti-PCP.


Numa conhecida ópera de Verdi, o rei era assassinado por conspirados disfarçados, durante um baile de máscaras. Agora, em tempo de máscaras, já ninguém se disfarça para estas campanhas. Vale a pena citar as palavras recentes do jornalista Nuno Ramos de Almeida: “com os artigos sobre a festa do avante assiste-se a um ajuste de contas. Não apenas em relação ao PCP e a sua história, mas também com o próprio passado desses críticos. Estão a ajustar contas com aquilo que foram aos 20 anos, antes de renegarem a época em que acreditavam que não viviam no melhor dos mundos possíveis e aderirem à lista dos admiradores dos poderes deste mundo. "Os vencidos da vida quando se juntam é para comer", dizia alguém da geração de 1870. Os vendidos de hoje quando escrevem é para ajustar contas contra tudo o que lhes lembra que já acreditaram em qualquer coisa que não seja ajoelhar ao poder do momento”.


Crónica em "A Planície"












Um comício que não foi uma baile de máscaras... Uma Festa que veio mostrar o que são a organização e a competência.

domingo, 6 de setembro de 2020

IGREJA

Não é por ser domingo, mas apenas porque sim. O azul do céu e o dourado dos muros pintados por Alfred Sisley tem sido a minha visão de muitos dias. Nem sempre assim, quase sempre num tom bonito. Na solidão dos dias - horas a fio sem dizer uma palavra -, terra após terra, Portugal dentro.










Tijolo
areia
andaime
água
tijolo.
O canto dos homens trabalhando trabalhando
mais perto do céu
cada vez mais perto
mais
- a torre.

E nos domingos a litania dos perdões, o murmúrio das invocações.
O padre que fala do inferno
sem nunca ter ido lá.
Pernas de seda ajoelham mostrando geolhos.
Um sino canta a saudade de qualquer coisa sabida e já esquecida.
A manhã pintou-se de azul.
No adro ficou o ateu,
no alto fica Deus.
Domingo . . .
Bem bão! Bem bão!
Os serafins, no meio, entoam quirieleisão.

Carlos Drummond de Andrade

sábado, 5 de setembro de 2020

WHOOP WHOOP PULL UP! PULL UP!

Nunca tinha conduzido um carro com ESP. O tal programa eletrónico de estabilidade. Supostamente, aumenta a segurança. Não achei nada. Por várias vezes, o carro guinou sem aviso, por achar que eu não estava a ir bem. Ao passar as Serras de Aire e Candeeiros, senti um desvio brusco para a esquerda. Um pequeno susto depois da meia-noite...

Ao chegar ao destino, procurei o botão e tirei aquela porcaria do automático. Veio-me à memória a recente automatização feita em aviões, sem que a devida informação fosse fornecida aos pilotos. O resultado foi trágico. E os pilotos não iam sozinhos na A1, fora de horas.

Devo estar a ficar mais velho, mas a total automatização das coisas deixa-me reticente.



sexta-feira, 4 de setembro de 2020

TÁVORA RIBEIRINHO

Foi um dos melhores projetos que a Caixa Geral de Depósitos concretizou. A par dos de Gonçalo Byrne, Carrilho da Graça e Hestnes Ferreira. E é muito melhor "ao vivo" que visto em fotografia. Poderia esgotar aqui adjetivos elogiosos. Prefiro dizer que basta comparar este edifício com aquela coisa do Fórum - por uma questão de decência, omitirei outros adjetivos -, para se ver o que deve ou não ser feito.

Viva Fernando Távora.


TOPONÍMIA PENAFIDELENSE: O QUELHO E A AZINHAGA

Ser "de outro país" tem destas coisas. Não tenho memória de, a sul do Tejo, ter visto esta palavra numa placa toponímica. Mas o Quelho do Abade, em Penafiel, lá estava, bem visível. Como é que nós diríamos? Beco ou, melhor ainda, azinhaga. Aí sim, a diferença é total, com a memória da consoante solar do árabe ainda bem presente.

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

DUARTE DARMAS: O 18º. APOIO

Enquanto prossegue a "saga" da recolha de imagens (vamos em 85%) vão ainda chegando apoios ao projeto. Como este, que surge de forma inesperada. Uma parceria logística, que se revela importante para concretizar milhares de quilómetros em constantes idas e vindas:

Adolfo Teles Lda.
Av. de Badajoz
Posto BP de Elvas

Obrigado, em nome da MULTICULTI!

ESSE IMENSO RIO BOLI

Ao fotografar há dias, com bonita luz matinal, o edifício da direita, recordei-me (recordo-me sempre que ali passo, valha a verdade) de uma velha história ocorrida num organismo estatal, a propósito do teatro à esquerda. Foi há mais de 20 anos, que o tempo é tramado.

Estava a ser organizado um evento no Porto e era preciso certificar o local. O assessor daquela entidade, pouco habituado ao sotaque do Porto, ligou para a autarquia, falou com alguém e deixou depois uma nota: A SESSÃO VAI SER NO RIO BOLI. Uma história quase tão boa como a da senhora que dizia "bossa nova? nunca ouvi falar nesse conjunto..."



terça-feira, 1 de setembro de 2020

CAMINO VERDE

As sucessivas passagens pelo Minho (Alto e Baixo) evocam-me, sempre!, uma velha copla celebrizada por Antonio Molina. Por el camino verde, camino verde, que va a la ermita, é o que ouço, curva após curva, do Baião para Felgueiras, depois Penafiel, depois Gondomar. Sempre tudo verde.

Aqui fica um tema imortal (lembram-se o que "lhe fez" Herman José?), na interpretação de outro grande da música espanhola, Angelillo (1908-1973). Aqui no filme "Suspiros de Triana", de 1955. Não sei quem é vamp encostada ao piano, que faz lembrar vagamente Anna Magnani. A encenação é gira, a fazer lembrar o "foi você que pediu um Porto Ferreira?".

Hoje há mais camino verde.