domingo, 31 de janeiro de 2021

CORONAVÍRUS: INFORMAÇÃO NA RÁDIO RENASCENÇA

Já agora, e como este blogue tem umas largas centenas de leitores diários, aqui fica o sítio onde melhor e mais atualizada informação se encontra sobre a evolução da pandemia em Portugal:

https://coronavirus.rr.sapo.pt - ver aqui (Rádio Renascença) informação detalhada e rigorosa.



MOURA NA OBRA DE DIOGO MARGARIDO

É um nome pouco conhecido, o deste fotógrafo nascido no Escoural, em 2.2.1932. Tem vindo a ser descoberto aos poucos. Vantagens do facebook (tem algumas...), a sua página Fotógrafo Diogo Margarido - https://www.facebook.com/FotografoDiogoMargarido - tem imensas fotografias de grande qualidade. Encontrei quatro (haverá outras, provavelmente), referentes a Moura. Todas datadas de 1958. São peças de grande valor documental e de elevada qualidade plástica. Gosto especialmente do toque grego dos gatos e dos vasos de flores expostos, numa casa do castelo (ainda as havia) ao jeito de festão ou de uma grinalda, como se de um templo clássico se tratasse. São imagens de um mundo diferente e já longínquo. Aos saudosistas - tanto que nós perdemos (nunca percebi exatamente o que é que perdemos dessa Moura dos anos 50 ou 60...) - chamo a atenção para um detalhe: as crianças descalças, numa das fotografias. Tantíssimo que nós perdemos, de facto...







sábado, 30 de janeiro de 2021

NÃO É POR MAL? NUNCA É POR MAL...

Li hoje um importante e sentido texto de Eunice Tiago. Conheço bem a família da Eunice, que é da Póvoa da S. Miguel, e sou amigo de muitos dos seus parentes. Um deles contou-me, há não muitos meses, os ataques e as piadas racistas que sofreu, quando estudava na Secundária de Moura. Fu que fui buscar ao instagram e aqui reproduzo, ipsis verbis:

São os ciganos agora, mas há 44 anos atrás, se com o meu avô tem vindo metade da minha família negra para a Póvoa S. Miguel não seriam os ciganos, mas seriamos nós, os pretos. 
Porque lá está , tem que haver um bode expiatório. 
O meu avô é branco e a minha família paterna direta é 50% negra e 50% branca. A minha mãe também é "branca", mas toda a vida fomos os pretos. 
Eu sou filha do Luís preto (que muito me orgulho), os meus primos são filhos do X preto. 
Não somos filhas da Manuela...somos filhas da Manuela que está casada com o Luís preto. 

É duro pessoas, mas é isto. 

Nós damos de barato, porque " há não é por mal".

Pessoas: por bem não é. Já é hora de pararmos com estes epítetos raciais. Acho eu. Não sei...

Já agora o nosso apelido é Tiago. 

E tenho muitas mais histórias de quando os meus avós chegaram à Póvoa depois da guerra, que vos arrepiavam os cabelos. 

Mas vamos ás que eu vivi:
O meu filho nasceu branco, é loiro. 

Ás vezes em tom retórico (porque não creio que esperem resposta a este tipo de perguntas) dizem-me: "aiii o menino tão branquinho, não sai à mãe, não?" ao que respondo em tom de ironia e escárnio "pchiuuu, pulei a cerca! Não contem ao pai dele." E as pessoas riem-se, mas não se mancam. 

Numa feira de Natal, há cerca se 1 ano, uma senhora da Póvoa que conheço (com uns 50 e poucos anos) disse-me: 
"aiii tão lindo o menino, ainda bem que nasceu branco."
Ao que indaguei incrédula: "então porquê Dna não sei das quantas?! eu gostava muito que ele fosse molatinho se tivesse que ser." 
Ao que ela responde:" cá agora! O rapaz havia de ser mais bonito preto não?!"

Eu achei que não valia a pena a conversa...Quem estava comigo e presenciou isto, só olhou para o chão também sem querer acreditar nesta conversa.

Ofensas comuns, não fazem muito parte do meu reportório de criança/adolescente. Para me ofender (pensavam) bastava o preta de merda ou preta do caralho, volta para tua terra. 

Eu nasci aqui, sou tão portuguesa como outro português qualquer.

Posso contar muitas mais...mas por agora CHEGA!

Mais explícito não podia ser. 




O que é que a fotografia mostra? Um célebre episódio, ocorrido em St. Augustine (Florida, EUA), em junho de 1964. Basta procurar no google algo como MONSON POOL EPISODE...

A HISTÓRIA ATRAVÉS DOS OBJETOS: MÉRTOLA NO M.N.A.A.

Aqui se continua, militantemente, a divulgar a exposição "Guerreiros e mártires". A mais recente referência veio no Boletim Cultural de Mértola. O texto é da minha colega e amiga Lígia Rafael. Cito a seguinte passagem:

"Assumindo uma das suas funções de divulgação do acervo, seja nos diversos núcleos museológicos, seja através da participação em exposições temporárias organizadas em Portugal e no estrangeiro, o Museu de Mértola emprestou, para esta importante Exposição, 42 objetos onde se incluem peças de cerâmica, com destaque para a decorada em corda seca e uma talha estampilhada; peças de ourivesaria como um anel, fivelas e outros objetos de adorno, um molde e um cadinho de fundição e alguns objetos de armamento. No lote de objetos do Museu de Mértola está, também, incluída uma maquete da Mesquita de Mértola, todos objetos de destaque na exposição permanente do núcleo museológico de Arte Islâmica, atualmente encerrado para obras de requalificação".


Ver - https://www.cm-mertola.pt





sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

LISBOA ROMANA

Fui assistindo, ao longe, ao crescimento do projeto. Um processo longo, com uma equipa vasta. O indiscutível interesse no estudo da Lisboa Romana tomou forma, com um plano ambicioso e bem sedimentado. Uma primeira visão do que se pretende concretizar está disponível na interessante e pedagógica página web. Como ponto de arranque não estaria mal, mas a coleção coleção Lisboa Romana | Felicitas Iulia Olisipo já vai no 4º. volume.

Não são os meus terrenos, mas há sempre espaço para seguir coisas bem feitas e para acompanhar colegas por quem tenho particular estima.









Ver: https://lisboaromana.pt

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

BARCOS MATINAIS

Um texto lido, logo pela manhã, no facebook, lançou-me uma dúvida, depois confirmada. Nunca aqui publiquei fotografias de Morris Rosenfeld (1885-1968). Uma só que fosse. E tem tantas e tão bonitas.

Resolvi aproveitar o dia, começado sob o signo de um texto escrito fora de horas e continuado com outro já manhã dentro, pondo aqui uma fotografia de um veleiro e um poema de Sophia Mello Breyner Andresen (1919-2004). Ainda que a placidez das palavras vá contra o bulício do vento.





















OS BARCOS

Dormem na praia os barcos pescadores

Imóveis mas abrindo

Os seus olhos de estátua

E a curva do seu bico
Rói a solidão.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

JOHN MORTIMORE (1934-2021)

Nos meus tempos de adolescência, o futebol interessava-me muito. Seguia muito o Benfica. E lembro-me, claro, da primeira época de John Mortimore no Benfica (1976/77). Foi campeão nesse ano, no final de uma época atribulada. Só voltou a repetir o feito uma década volvida. Punha em campo um futebol contido, muitas defensivo, que fazia os nervos do Terceiro Anel em franja. O auge da fúria ocorria quando, a meio das segundas partes, invariavelmente tirava Eurico (5) e entrava Pereirinha (13). Falava um português deliciosamente péssimo, que nunca conseguiu melhorar. Um gentleman calmo e educado, que parecia um pouco antiquado. Ah, e que tinha uma pequena mania. Nos jogos na Luz vestia quase sempre camisola vermelha e calças pretas. Yo no creo en brujas...

John Mortimore partiu hoje. Deixa grandes recordações na Luz. 



segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

MATAR O RACISMO

Tal como a serpente no ovo, a única solução é matar o racismo à nascença.
Desde ontem, a ameaça ganhou forma e nome. O racismo ganhou "foros de cidadania". É bom estar atento ao que se vai passar. Porque a ameaça tem nome e forma. Lembrei-me de Bandele ‘Tex’ Ajetunmobi (na fotografia de baixo). Um homem de coragem, nascido em Lagos (Nigéria) em 1921 e falecido em Londres em 1994. As fotografias informais que foi fazendo ao longo de décadas foram/são um poderoso libelo contra o racismo.














































Brutus:
And since the quarrel
Will bear no color for the thing he is,
Fashion it thus: that what he is, augmented,
Would run to these and these extremities;
And therefore think him as a serpent's egg,
Which, hatch'd, would as his kind grow mischievous,
And kill him in the shell
Shakespere (Julius Caesar, ato 2, cena 1, 28–34)

domingo, 24 de janeiro de 2021

ARTE E REVOLUÇÃO

É um dos mais emblemáticos cartazes surgidos a seguir ao 25 de abril. Foi seu autor Marcelino Vespeira (1925-2002). Vespeira, além de autor do símbolo do MFA, participou ativamente nos programas de dinamização cultural. O design deste cartaz tem bem o "ar do tempo". Mas é bem bonito. Curiosamente, acho que, do ponto de vista gráfico, funciona muito melhor sem o slogan em rodapé.

Hoje é dia de votar, sempre pela Democracia, sempre contra o Fascismo.



sábado, 23 de janeiro de 2021

O ANTIGO GRÉMIO DA LAVOURA: UMA QUESTÃO DE FASQUIA

No dia 7 de setembro de 2017, no final do anterior mandato autárquico, foi aprovado um investimento de 2.770.000 euros para o antigo grémio da lavoura.

O financiamento comunitário seria de 85%. Concluía-se assim um longo processo, começado em 1999, com a CDU na Câmara. Era intenção aí instalar um Centro Documental da Oliveira.
De que se tratava? De juntar num mesmo local os serviços da Biblioteca Municipal, um centro de documentação (tirando partido da realização da Olivomoura e da atribuição de um prémio académico, hoje extinto, destinado a reconhecer o mérito de investigações em torno da olivicultura.
Tirava-se partido da ligação ao Jardim das Oliveiras e ao Lagar de Varas. Não estava excluída a possibilidade de outros equipamentos camarários (a Universidade Sénior e a própria Ludoteca) poderem ocupar parte do edifício.
Era um projeto de fôlego e que tinha todas as condições para vingar. Assim houvesse vontade e engenho.
Depois disso, em 2018, o atual executivo resolveu anular essa intenção ficando-se apenas pelo arranjo da cobertura e da fachada. Ou seja, muito pouco tendo em conta o potencial do edifício. A falta de ambição e a falta de visão tornaram um projeto de fôlego num arranjo de telhado e de fachada. É curto e é pouco.
Falta referir que esta obra estava prevista para 180 dias e acabou por demorar quase 2 anos.
Moura merece (muito) mais.

(Da página da CDU Moura no Facebook)

Perguntaram a Edmund Hillary porque tinha querido chegar ao cume do Everest. A resposta foi simples e direta: porque estava lá. Uma parte importante do que queremos fazer na vida prende-se com o estabelecimento de metas e com a forma de lá chegar. Com o chegar lá. Se as metas forem curtas e a fasquia baixa, tudo é mais fácil.

Transformar a renovação total de um edifício num arranjo de cobertura e de fachada é, como diria António Costa, muito poucochinho.








OUSAR SONHAR, OUSAR VENCER

Tenho menos uns 7 ou 8 anos que este meu amigo. Agora não é assim tão significativo. Nos tempos de juventude, sim. Discordamos amigavelmente em quase tudo o que tenha a ver com política e com a visão da sociedade. Ele é liberal assumido, eu um comunista relapso. Cruzámo-nos num restaurante de Alvalade, há umas semanas. Às tantas, aproximou-se da mesa onde me encontrava e mostrou-me um fotografia do telemóvel. Era ele, em 1972 ou 1973, por aí. De frondosa e desordenada melena (ninguém diria, tendo em conta o aprumado executivo dos nossos dias), de boina à Che e óculos de massa. Só consegui balbuciar um "oh, pá...", antes de desatar a rir.

Ficámos de almoçar um dia destes. "Temo" uma daquelas refeições com prolongamento e desempate por "penalties" (salvo seja). Entretanto, e como sei que gosta de poesia e é poeta, aqui fica, da extraordinária Cecília Meireles, esta Canção. Que tem a ver com o sonho. E com a necessidade da utopia. Sempre.

Canção

Pus o meu sonho num navio 
e o navio em cima do mar; 
— depois, abri o mar com as mãos, 
para o meu sonho naufragar. 

Minhas mãos ainda estão molhadas 
do azul das ondas entreabertas, 
e a cor que escorre dos meus dedos 
colore as areias desertas. 

O vento vem vindo de longe, 
a noite se curva de frio; 
debaixo da água vai morrendo 
meu sonho, dentro de um navio... 











Fotografia - https://blogdaboitempo.com.br

TERÃO ANDADO JUNTOS NA ESCOLA PRIMÁRIA?

Passei os últimos dias relendo textos de uma conferência sobre políticas europeias. Um inesperado, mas interessante e útil, "twist" na minha carreira recente. Os dados são interessantes, os participantes são conhecedores e as suas informações pertinentes e desenvoltas. Mas... (há sempre um mas) irrito-me a cada dois minutos, com o hábito dos participantes se referirem a protagonistas da política europeia como "o Macron", "a Merkel", "o Corbyn". Mas que raio? Tanta informalidade. Se calhar andaram com eles, e com Orban e o Timmermans, à escola, e a gente não sabia...




sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

LE BROUILLARD ME FAIT PEUR...

Eram 21:14. A Rotunda de Pina Manique estava mais que deserta. A 500 metros de casa parecia viver numa cidade-fantasma. Passou um carro, depois outro, depois outro ainda, depois o 50, a caminho do Oriente, só com o motorista. O cenário merecia melhor aparelho e, sobretudo, melhor fotógrafo.

Para trás ficava um dia longo. Ainda tive de regressar às Amoreiras, recolher uma jovem amiga que estuda francês. Não resisti a provocar "podias ter escolhido o latim, também é uma língua morta...". Ignorou a brincadeira e seguiu em frente. Agora, vamos ser colegas de turma no estudo de um outro idioma.

Seguiu as minhas tentativas fotográficas com sardónica desconfiança. Voltámos ao carro dois minutos volvidos. Continuava a não se ver ninguém. A segunda vaga da pandemia vive-se em ambiente opressivo. O sentimento de impunidade e de invulnerabilidade deu lugar ao medo. Vai ser assim por muitos meses.









BROUILLARD

Le brouillard me fait peur !
Et ces phares – yeux hurlant de quels monstres
Glissant dans le silence.

Ces ombres qui rasent le mur
Et passent, sont-ce mes souvenirs
Dont la longue file va-t-en pèlerinage ?…
Le brouillard sale de la Ville !
De sa suie froide
Il encrasse mes poumons qu’a rouillés l’hiver,
Et la meute de mes entrailles affamées vont aboyant
En moi
Tandis qu’à leurs voix répond
La plainte faible de mes rêves moribonds.

Léopold Sédar Senghor (1906-2001)

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

MOZART NO CAMPO PEQUENO

Duas diferenças: não caí de uma carrinha e o computador não me disse "good morning, Paul". Mas ao cruzar, muito cedo, a ala poente do edifício, não pude deixar de me lembrar da cena final de After hours. Mozart (sinfonia n. 45) soou-me no meio dos computadores desligados e das cadeiras vazias. E vazias ficarão nas próximas semanas, depois do disparatado otimismo que assolou a Lusitânia.



 

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

À TUA, JOÃO FERREIRA!

No suplemento do passado sábado de um quotidiano, um jornalista e produtor de vinhos escreveu um texto que poderia, à partida, ter interesse. Ou seja, falava da relação dos diferentes candidatos com os vinhos. A pergunta era "e se tivéssemos que adivinhar os gostos vínicos dos candidatos a Presidente da República apenas com base nas suas opções políticas?". Não estaria mal, se a abordagem não se transformasse na mais completa bufonaria.

Querem ver?

Sobre o candidato A - 37 linhas
Sobre a candidata B - 17 linhas
Sobre a candidata C - 46 linhas
Sobre o candidato D - 23 linhas
Sobre o candidato E - 23 linhas
Sobre o candidato F - 23 linhas
Sobre João Ferreira, já mesmo no finalzinho do texto, 7 (sete) linhas. A despachar. Já agora, não será muito difícil também adivinhar quem é a candidata B...

O que tem graça, muita graça mesma, é serem estes mesmos jornalistas a virem botar faladora sobre liberdade de imprensa, direitos, e etc. vários.

Olha, camarada João Ferreira, à tua!








terça-feira, 19 de janeiro de 2021

O CORONEL KURTZ, EM ALMOUROL

 O horror... O horror...

(a propósito de um projeto de "valorização" do castelo, que bem podia ficar em seu descanso)










XLIV - CRÓNICAS OLISIPONENSES

Ouvido no 54:

"Desde os tempos do 'Garganta funda' que não ouvia falar tanto no Capitólio...".

A pornografia no de Lisboa acabou há muito. No do outro lado, o ator inominável sai amanhã de cena. Pela porta dos fundos, como convém.





segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

EU TAMBÉM NÃO QUERO ESTA CONSTITUIÇÃO!

Não quero esta constituição de 1933!

Nem o acto colonial!

Nem o colonialismo!

Nem o racismo!

Nem a xenofobia!

Nem o fascismo! 




domingo, 17 de janeiro de 2021

HOUVERAM E HAVERÃO

Estes e outros pontapés na gramática tornaram-se-me familiares. Erros? (Quase) todos damos. Mas os erros recorrentes e resultado de falhas no ensino são um flagelo. Que piora a cada dia que passa.

Mas isso sou eu. Que nunca percebi a TLEBS. Que sou um troglodita, um bota de elástico, um atrasado etc. Que acha, claro, que é decisiva a participação de todos na nova era digital, como é necessário não esquecer coisas básicas. Como a gramática e a capacidade da escrita.

O que conta é a capacitação digital, mais os "embaixadores digitais" (mais uma fantástica invenção) e a promoção da competência digital dos aprendentes (que linda palavra!).

Depois, os aprendentes (mais ou menos digitais) chegam ao 2º. e ao 3º. ano da faculdade e escrevem "haverão". Mas que estes desenhos com cores quentes e frias são giros, lá isso são.



MALAGUEÑA SALEROSA

Há dias fui "cair" num canal onde passava o "Desperado". Já aqui o referi e acho a sua violência gore melhor que muito Tarantino. Mas o que gosto mesmo é do arranque de "Once upon a time in Mexico", do mesmo Robert Rodriguez. Com António Banderas e a imortal "Malagueña salerosa".

Em dia de confinamento restam os jornais, rever a paginação de um livro (136 páginas: 20 sítios x 8 a 10 imagens, cada = dor de cabeça), preparar aulas e ver filmes. O dia está bonito, mas o passeio vai ter de esperar.




sábado, 16 de janeiro de 2021

CAMARADAS JERÓNIMO DE SOUSA E JOÃO FERREIRA

Não nos cruzámos muitas vezes. Umas cinco ou seis, sempre em Moura. A tua popularidade foi notória, mesmo numa terra sempre avessa a políticos nacionais. Mário Soares poderia dizê-lo, se ainda cá estivesse...

Nesses encontros com a população, mais em duas ações políticas, no pavilhão da feira, o discurso foi sempre claro e de proximidade. Fraterno e atento. Nem avô nem bêbado. Que um inominável venha agora tentar insultar-te, juntando-te ao camarada João Ferreira (foi uma "distinção" rara, camarada Jerónimo de Sousa, ele não citou mais nenhum secretário-geral ou presidente de partido...) deixou-me uma ideia mais que evidente. A inimiga dos fascistas é a Constituição, certamente que sim. Mais também o Partido Comunista Português. Presente no combate ao fascismo e na construção da Democracia. Daí a fúria do ataque.

O ataque sem nível da passada semana qualifica quem o profere. Atinge-nos a todos. E faz-nos sentir ainda mais convictos e firmes. Mesmo na minha fraca militância, é isso mesmo que sinto.

Que campanhas fascistas contem com a benevolência, a cumplicidade e a pouca discreta promoção da maior parte da "comunicação social" causa-me algum espanto. Talvez não devesse causar, mas causa. Que a campanha séria, empenhada, trabalhadora, e de terreno, de João Ferreira seja sistematicamente silenciada causa-me muito menos espanto.

Os insultos passam, tal como um dia passará a moda do fascista. Antes da moda passar é necessário combatê-lo sem lhe dar muita visibilidade (aí está um desafio nem sempre fácil). E denunciar o amontado de tropelias que é o seu passado e o seu presente.

O que importa agora? O dia 24 de janeiro. E os 100 anos do PCP, em março.










Esta fotografia tem quase 10 anos. Foi feita no centro de Moura. Escolhi-a deliberadamente. Está lá Jerónimo de Sousa. A Inês Cardoso. O João Ramos. O José Maria Pós-de-Mina. E um com ar de beto que não é o João Ferreira.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

AULAS DE MECÂNICA - CAPÍTULO 1

É popular, entre familiares e amigos, o meu total (mas é total mesmo!) desconhecimento de questões mecânicas. Há dias, e ante uma pequena avaria no sistema de sensores dos cintos de segurança traseiros do 308 (que não paravam de apitar), resolvi arrumar o problema. O esquema habitual: procurar um tutorial no youtube para resolver aquilo, depois outro tutorial, depois ir buscar aquela coisa do Demo chamada "caixa de ferramentas". Desmontei uma barra, depois umas peças, depois outras, depois outras ainda, depois aquilo calou-se. Como na cena do "Pátio das Cantigas", em que o engenhocas destrói o rádio à martelada... Confesso que não percebi lá muito bem porque é que aquilo se calou. Depois, remontei tudo. Quer dizer, quase tudo. No final sobraram 4 (quatro) peças. Não percebo porque é que os fabricantes fazem carros com peças a mais... (pelo sim, pelo não, ficaram no porta-luvas, nunca se sabe se farão falta, um dia).




quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

MESQUITA OU NÃO MESQUITA?

Traz hoje o jornal "Público" uma notícia onde sou citado. Sou apresentado sem qualquer vinculação (sou professor na Universidade Nova de Lisboa, investigador do Campo Arqueológico de Mértola e técnico da autarquia mertolense - podiam ter escolhido uma destas designações...) e não fui contactado pelo jornalista. O qual afirma também que "não teve acesso ao conteúdo dos pareceres".

Não vou, obviamente, divulgar o conteúdo do meu parecer. Nem comentar a notícia, nem alimentar polémicas. Dois tópicos apenas:

1. A preservação destas estruturas da Lisboa islâmica (mesquita ou não mesquita é, para o caso, o que menos importa) é crucial.

2. Motivo maior de preocupação, neste momento? O que se cita do parecer do LNEC.




quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

JOGO DE ESPELHOS

Tenho de admitir que fiquei aborrecido e triste quando, por diversas e difíceis razões tivemos de prescindir dos Passos Perdidos para a exposição "Guerreiros e Mártires".

Hoje, de manhã cedo, andei dentro e fora de Arte Antiga. Da luz difusa de fora para a fantástica instalação de José Capela (espelhos, reflexos e perspetivas)  nesses mesmos Passos Perdidos. Senti-me compensado. Senti-me tentado a usar Borges, mas preferi Álvaro de Campos.

Depois, houve uma rajada de visitas guiadas (três), a pouco tempo de começar o confinamento.


Depus a máscara e vi-me ao espelho. —

Depus a máscara e vi-me ao espelho. — 

Era a criança de há quantos anos. 

Não tinha mudado nada... 

É essa a vantagem de saber tirar a máscara. 

É-se sempre a criança, 

O passado que foi 

A criança. 

Depus a máscara e tornei a pô-la. 

Assim é melhor, 

Assim sou a máscara. 

E volto à personalidade como a um terminus de linha.











terça-feira, 12 de janeiro de 2021

O MEU CAPOTE

Foi no outono de 1982, iria jurar que uma semana ou duas antes do Natal. Parámos em Évora, já nem recordo porquê. Percorremos lentamente as arcadas ao longo da Rua João de Deus, a caminho da Praça do Giraldo. O meu avô ía silencioso, como quase sempre. Às tantas parou em frente a uma loja e decretou "vou-te comprar um capote". Acolhi a ideia com alguma reserva, capote era coisa de velhos... Mas nem pensar em rejeitar a prenda. Lembro-me que achei o preço uma barbaridade. O meu avô, sempre de uma austeridade cortante, nem pestanejava nesses momentos. "Gostas deste?", e assim passei a ser proprietário de um belo capote cinzento. Há momentos que não se esquecem.

Hoje é dia 12 de janeiro. O meu avô nasceu há precisamente 111 anos. Devo-lhe esta recordação e muitas outras coisas. Muitas delas decisivas, em termos de caminhos futuros.

O capote tem a bonita idade de 38 anos. É usado em Moura e em Mértola, em Lisboa nunca faz frio.



PITAMENTE CATEGÓRICOS

Nas primeiras eleições, a seguir ao 25 de abril, não se falava sequer em sondagens. Sondagens eram coisas da GALLUP. Depois, aos poucos, foram aparecendo e passaram a fazer parte do nosso panorama. Ganharam reputação entidades como o Centro de Estudos da Universidade Católica. E apareceram muitas entidades muitíssimo menos fiáveis. E que têm fichas técnicas como as da PITAGÓRICA. Fez uma sondagem com 629 entrevistas (era tantas!), das quais resultaram 273 respostas (ena imensas!). É com base nisso que se fazem manchetes. Usadas por independentíssimos órgãos de informação como o TVI e o Observdor.



segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

RECOMEÇA TUDO?

Um regresso a março e o pesadelo parece que não termina. O tempo suspende-se. De novo.

Há um, dois, três, quatro, cinco trabalhos que param, ou quase.

Um júri que vai arrancar e não sei ainda como, um outro que deveria tomar forma e não sei como. A reunião de sexta-feira em Arte Antiga foi ao ar, tenho três livros para acabar e não sei como, tenho filmagens para fazer e não sei como.

Mesmo mal que estou no grupo dos que-têm-mesmo-que-estar. A partir de quinta, não estarei em confinamento, mas em reclusão.

Quando é que isto acaba?




domingo, 10 de janeiro de 2021

COM JF7

Porquê JF7?

Tem João Ferreira tem grande classe, como o CR7.

E está no lugar 7 dos boletins de voto.

É nele o meu voto.



sábado, 9 de janeiro de 2021

CARTA AOS MEUS ALUNOS

Há já alguns anos, talvez uns 12 ou 13, o ministro José Mariano Gago foi a Mértola para apadrinhar a apresentação do mestrado Portugal Islâmico e o Mediterrâneo. Durante o encontro com a nossa equipa, disse esta coisa extraordinária: "sabem como é que recrutam professores para uma das melhores universidades americanas? Pedem três livros escritos a cada um dos candidatos e é com base nisso que fazem a seleção". Ou seja, interessa aquilo que se mostra saber ou ter feito.


Conto quase sempre este episódio nas aulas de apresentação. Voltarei a fazê-lo, no dia 8 de fevereiro, quando começar o seminário sobre “Gestão do Património”. Porquê? Qual a relevância desta historieta?


Pela simples razão que, na investigação, como na vida, como na ação política, interessa ser direto e ir direito ao que interessa, sem rodeios. É relevante o que realmente produzimos de prático e importa muito pouco aquilo que dizemos que queremos fazer. Há um par de coisas que digo sempre aos alunos, e que são, para mim, princípios básicos de atuação. Posso estar errado, mas são esses que defendo. E que tento pôr em prática.


Por isso lhes digo que o planeamento (rigoroso, calendarizado, cronometrado) é necessário, tanto quanto o é a passagem à ação. Quando os vejo com discursos difusos à volta do que estão a fazer, cito-lhes Brian Clough. Não era um filósofo, nem pertencia a nenhum “think tank”. Foi treinador do Derby County no início dos anos 70 e tinha um princípio simples, e precioso: “todo o drible que não resultar em golo, é um drible desnecessário”. Por isso, e muito concretamente, deixem-se de tretas. Foquem-se nos resultados e na forma de os obter. Habituem-se a fazer várias tarefas ao mesmo tempo. Acostumem-se a não “sair às 5 e meia e agora tenho de ir para casa e vou fazer uma caminhada ou tenho de ir passear o cão”.


Se tomarem conta de uma escavação ou de um museu (farão muito mais na vida do que arqueologia e museus, e se algum tonto vos disser o contrário, riam-se dele) não se ponham a apontar para trás, porque o anterior responsável deixou isto ou aquilo por fazer. Isso acontecerá sempre na vida, que alguém deixe algo para fazer. Tentem é vocês dar o dar tudo por tudo, onde quer que estejam, e caminhar em frente.


E não se ponham com promessas, do “agora é que vou fazer”, “tenho quase o projeto pronto”, “vou começar a escrever”. Das duas, uma: ou fazem, ou não fazem. Portanto, concretizem e mostrem resultados. Não consigo ter respeito por gente que está sempre a representar, como se num teatro estivesse. Aqueles que estão sempre com desculpas e a calimerar o mundo, fazendo-se de vítimas. Não copiem projetos e ideias. Procurem vocês outras soluções. Diferentes e atrevidas. Umas vão resultar, outras não. Lembrem-se que o sucesso não se mede só por termos muitas vitórias, mas também, e em grande medida, por termos o menor número de derrotas possível.


Habituem-se a tentar outros caminhos na vida. E se um dia vos desafiarem para algo diferente (uma intervenção na vida social, um cargo associativo, uma tarefa humanitária ou um cargo autárquico) pensem sempre “porque não?”. Mas pensem nessa outra realidade como uma missão, não como um emprego ou como um modo de vida.


E não se esqueçam de uma coisa. A verdade é como o azeite. Vem sempre ao de cima. É só uma questão de tempo.














Crónica em "A Planície"

Fotografia: Bruno Barbey (1941-2020)

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

O SAL DOS LIVROS

De Eugénio de Andrade, O sal da língua:

Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém – mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar.
Para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.

É A CULTURA, ESTÚPIDO...

A cena de faroeste de ontem é uma questão política e cultural. Foi no Capitólio, podia ter sido num saloon. Um acaso não foi, seguramente.

É favor não esquecer que o grunho teve 74.000.000 (setenta e quatro milhões) de votos.

Desde ontem me interrogo: e se os invasores fossem negros ou índios?

De Westworld (1973) não reza a História. Mas ilustra a inacreditável jornada de ontem.


terça-feira, 5 de janeiro de 2021

JOÃO CUTILEIRO EM MÉRTOLA

Aqui se recorda um texto publicado neste blogue, em 24.11.2011.

Quem entra em Mértola, vindo de Beja ou de Serpa, depara, no meio de uma enorme rotunda, com uma escultura, onde coexistem colunas em mármore, um conjunto de rochas e uma oliveira que é, por si só, um monumento.

Esta escultura, concebida em 1991 por João Cutileiro, tem uma história curiosa. A Câmara Municipal de Mértola foi, na altura, distinguida pelo trabalho desenvolvido no Centro Histórico. Deslocou-se à vila o ministro Valente de Oliveira. O prémio, do conhecido escultor, vinha dentro de uma caixa. Era uma miniatura, destinada por certo a figurar no gabinete do alcaide. Que não, foi dito ao ministro, a autarquia estava convencida que a escultura era mesmo a sério e portanto já havia uma rotunda preparada e tudo. O que era verdade. Depois de uns momentos de embaraço, o assunto foi rapidamente decidido. Mértola teria a sua escultura em king-size. E assim se preparou e instalou a mais bela peça de arte feita em Mértola nos últimos séculos.

A equipa autárquica em regime de permanência era então constituída por Fernando Rosa (presidente) e pelos vereadores José Manuel Santana e António Raposo.



segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

MEMÓRIAS PAROQUIAIS - CIDEHUS: UM SERVIÇO PÚBLICO

As "Memórias Paroquiais" são um insubstituível elemento de trabalho para quem queira estudar a realidade portuguesa. E não me reporto, necessariamente, ao século XVIII. Muita da informação que contêm é da maior importância para o período medieval.

As Memórias são o resultado de um inquérito às paróquias portuguesas, mandado fazer pelo Marquês de Pombal. Os resultados são de desigual interesse e dependem muito do empenho que cada pároco colocou na sua tarefa. Mas os dados são sempre relevantes e de enorme utilidade.

As Câmaras Municipais têm, progressivamente, vindo a promover a edição dessas Memórias. A de Moura fê-lo em 2002. Quando havia preocupações com o Património e editava livros.

Em plena redação de um trabalho sobre urbanismo, arquitetura e iconografia de sítios, fui parar a um magnífico site, feito a partir da Universidade de Évora.

As Memórias Paroquiais do Alentejo (já publicadas ou não) está lá disponíveis:

http://www.cidehusdigital.uevora.pt/portugal1758

Serviço público e investigação ao dispor de todos.