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São pouco frequentes as minhas crónicas dedicadas ao tema “política”. Por várias razões. Em primeiro lugar, porque há vida para lá da política e há muitas outras coisas de que gosto. Depois, porque me parece algo monótono alguém que tem responsabilidades políticas diretas neste concelho estar sempre a falar do mesmo tema. Finalmente, e esta razão não é contraditória, porque a atividade política não se esgota nas nossas funções públicas. Ou seja, há formas de um cidadão comunicar e intervir sem estar sempre a bater na mesma tecla. Excetuando as crónicas de cariz “confessional”, são também crónicas políticas aquelas que se ocupam de temas como a torre de menagem do castelo de Moura, os trabalhos arqueológicos ou a descoberta de documentos sobre a história do concelho.
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Dito
isto, aqui fica a exceção que esta crónica é. Quando a edição de “A Planície” de
15 de julho estiver nas bancas faltarão sensivelmente dois meses e meio para as
eleições autárquicas. Assumi, em fevereiro desde ano, a responsabilidade de ser
candidato à presidência da Câmara de Moura, pela CDU. Os próximos dois meses e
meio serão de atividade intensa, mas não menos intensa que os anos recentes.
Surpreendo-me, por isso, com a atitude daqueles que, depois de décadas de
alheamento em relação aos problemas do concelho, agora descobrem não só o
interesse pela política como parecem ter soluções para todos os problemas. Só
nos falta clamar, humildemente, “milagre! milagre!” ante tantas propostas e
tantas soluções. Recordo-me, nestas alturas, de uma sofrível tese de mestrado,
que tive de arguir, em tempos. O candidato criticava um determinado modelo de
desenvolvimento cultural e propunha duas dezenas e meia de iniciativas que
trariam todas as soluções, para todos os problemas. Limitei-me a perguntar se o
candidato tinha quantificado, hierarquizado e calendarizado tantas e tão
maravilhosas ideias. Ou seja, quais as prioridades, quais os custos e quanto
tempo consumiria tudo aquilo. Não tive resposta. Lembro-me, com frequência,
desse episódio da minha vida académica. Nestas alturas pré-eleitorais não
faltam os vendedores de promessas, os salvadores da pátria, os que tudo sabem e
que têm todas, mas mesmo todas as soluções. Não alinho nesse grupo nem atuo
dessa forma.
Os
próximos dois meses e meio serão passados, repito, em atividade intensa. Que
vem na lógica e na continuidade do meu percurso anterior. Dedicar-me-ei ao que faço com o empenho de sempre. Não tenho soluções para tudo, nem tiro,
miraculosamente, promessas (de emprego, de obras etc.) da manga da camisa. Não
ando a papagaiar ilusões nem a vender futuros. Conto com os que me acompanham,
e a quem eu acompanho, neste percurso. Conto com o entusiasmo pelas coisas, com
a honradez deste projeto, com a frontalidade que reclamo ter e com a segurança
do caminho percorrido. Julgo, sinceramente, ter dado provas de trabalho ao
longo destes anos. É tudo e é quanto me basta para prosseguir.
A
próxima crónica será sobre uma cidade nos trópicos.
Crónica publicada na edição de ontem do jornal "A Planície"